Eu amo💗 a Mafalda 💗. E você?Esqueceu de mim Professor? Qualquer professor sempre é confrontado com uma pergunta assim. Frequentemente é colocado pela prova de ter que lembrar de um aluno que aparece de repente à sua frente. Imagino que isto acontece com todos os professores de forma reiterada. Isto é muito natural e recorrente. Até aposentar, trabalhamos com muitos alunos. Muitas vezes o professor não lembra. Fica inclusive inibido em responder que não lembra. Não quer decepcionar o seu aluno. Claro, pois realmente é deselegante. Mas ele dá um jeito, revira sua memória, olha para o aluno em busca de um sinal, uma dica que possa ajudá-lo a identificar seu interlocutor naquele momento, e não consegue.
Um professor, durante sua trajetória docente convive com muitos estudantes e de frente com alguns deles, por mais que se esforce, muitas vezes, não consegue se lembrar.
Como será que os professores agem quando são interpelados a lembrar de algum aluno que ficou esquecido na memória de sua convivência pedagógica? Como você colega sai dessa situação de acanhamento?
Nessas situações constrangedoras muitas vezes sorrimos sem graça a espera de alguma pista até que o aluno fala: " fui seu aluno na Escola tal, no ano tal"... Apesar de ficar mais fácil, ainda assim muitas vezes não identificamos.
Sempre e frequentemente sou abordado dessa forma. Ainda ontem em frente a Secretaria vivenciei um momento deste. Falou comigo que não tinha como não lembrar dele, contou me histórias, que lembrava de Terezinha, e que nunca esqueceu das minhas aulas. Eu te pergunto: Quem não fica comovido? Ele disse que eu fui significativo na transformação de sua vida.
Não existe professor que não tenha gratidão por esta profissão colecionadora de gratidão. Nos perdemos sim em nossos memoriais docentes e na quantidade de alunos que tivemos em todos os anos da nossa carreira de professor, porque cumprimos nossa missão firmado no amor pelo outro, na prática da caridade educadora. Precisamos ter certeza do poder que temos para transformar vidas, orientar crianças e adolescentes a encontrarem seu espaço de realização neste mundo tão doente, assim como quer a Mafalda pensar na frente da televisão.
É muito legal quando os próprios professores, fazem a memória dos seus inesquecíveis professores. E então fazem a memória de D. Arminda, D. Sinhazinha, Prof. Ayrto e muitos outros. Em muitas rodas de conversas de professores, o papo que gira é sobre seus professores, citam detalhes e atitudes de seus professores, que alcançaram seu coração e determinaram rumos em sua vida. Para mim por exemplo é inesquecível a Professora Mariluce Miranda: me levava para sua casa, me valorizava, me dava atenção, me destacava no clube de leitura da sala. Será que ela sabe dessa gratidão inesquecível que guardo comigo em meu coração? Como ela impactou a minha vida lá na infância! Plantou em mim sempre a vontade de estudar, apesar das condições de dureza que o menino Deodato vivia. Nunca faltou amor em minha família, mas faltava tudo na vida da criança. Escrevo isso aqui muito emocionado. Parece que a gente replica o que a gente recebeu dos nossos professores em nossos alunos. Todo bom professor se inspira e age referenciado em um professor que não lhe sai da lembrança. Ela é a professora das minhas reminiscências docente, onde educar é expressão com sentido semelhante a cuidar.
Nada é possível, sem o conhecimento e o aprendizado desenvolvido por um professor, uma pessoa chegar a lugar algum. Já se repetiu de forma recorrente, na base de tudo tem um bom professor.
Mas nessas situações em que somos confrontados com o: "Lembra de mim?" Até nem mais importa se não lembrarmos. Para sair do impasse, melhor que fazemos é agradecer ali o reconhecimento, e dizer que não mais esquecerá aquela gratidão manifestada, aquele bem recebido na sua vida, então naquele momento evocado.
Encerro dizendo que algo assim são coisas da educação. Apenas o verdadeiro professor pode perceber a grandeza da gratidão de um aluno reconhecido e se enxergar naquele espelho, que naquele passado muitas vezes se apresentava como uma imagem distorcida.
Vamos ficar com Guimarães Rosa portanto: "Mestre não é aquele que ensina, mas quem de repente aprende". Você concorda?
Por Deodato Gomes