A arte diz o indizível; exprime o inexprimível, traduz o intraduzível. Leonardo da Vinci. Blogagem Coletiva #52Semanasdegratidão

3ª Semana da Gratidão

Fiquei pensando no que poderia compartilhar nesta 3ª Semana da Gratidão. E percebo que não há como fugir do universo em que estou inserido: a vida cotidiana, com suas dores e belezas, é um celeiro de aprendizados. Cada acontecimento nos convida a crescer, ainda que, em muitos momentos, falte o entendimento imediato dos descaminhos que atravessamos. Muitas vezes, é diante da tragédia do outro que despertamos para o valor daquilo que possuímos. Perdemos o que temos de mais essencial para nos orientar: a clareza da mente.

O caso da Elaine, vivido nesta semana, é emblemático. Ele nos lembra como somos capazes de transformar pequenos contratempos em grandes tormentas, esquecendo a gravidade real das coisas. Basta comparar: alguém que se queimou com um pingo de gordura quente diante de alguém que teve o corpo quase todo atingido pelo fogo. Esses parâmetros, quando reconhecidos, nos convidam a relativizar as dificuldades e a redimensionar os pesos da vida.

Também vivi experiências marcantes a partir do contato com a arte. Visitar o Museu de Arte Murilo Mendes, em Juiz de Fora, foi simplesmente espetacular. A arte é poderosa! Quando nos deixamos ser conduzidos por ela, tornamo-nos mais sensíveis, mais humanos, mais abertos às múltiplas expressões culturais. Afinal, vivemos no tempo da multiculturalidade.

Basta contemplar uma obra e permitir-se ser atravessado pela sua magia. Mesmo quando buscamos compreender o que se esconde por trás da criação, é preciso lembrar que toda produção humana nasce com um propósito simbólico: revelar o belo, provocar reflexões, traduzir conceitos. Ao nos entregarmos por inteiro, alcançamos um sentido maior que ultrapassa a materialidade do objeto cultural. É nesse instante que a arte nos convida a caminhar para além do visível, para além do palpável, rumo a outras dimensões da vida e do espírito.

A arte é feita de uma grande rede de afetos, de emoções e de surpresas. É fábrica de imaginários que sublima a vida e dribla frustrações. É experiência rara e essencial de edificação do humano em nós.

Não há como não se comover diante da expressão da Professora Edina Rezende, exposta no Museu Murilo Mendes. Sua obra, que traz à tela mulheres em estado terminal, carrega um testemunho pungente: a figura retratada revelou, antes de partir, que jamais em toda a sua vida havia experimentado o amor. Nunca alguém, em nenhum momento, se interessou por ela.

Talvez por isso o artista tenha colocado em sua mão um coração — como se fosse a última e maior oferenda, um gesto simbólico de restituição, de reconhecimento, de entrega tardia do afeto que lhe foi negado em vida.

Sem palavras… apenas o silêncio reverente que a verdadeira arte nos inspira. Complete você, leitor, com o que lhe toca: talvez seja compaixão, talvez indignação, talvez um convite para amar mais, agora, enquanto é tempo.

Lembro-me com carinho das pessoas que se dedicam, com coragem e persistência, à arte do Teatro. Quantos trabalhos riquíssimos já foram apresentados à comunidade! Em muitos dos que tive a alegria de assistir, sempre me impressionou o esforço de produção e, sobretudo, a felicidade estampada em levar lições profundas de forma leve e acessível a tantas pessoas.

O poder criativo do ser humano no palco é algo extraordinário: ele nos faz rir, chorar, refletir e, ao mesmo tempo, nos reconhecermos nos espelhos da cena teatral. A arte, nesse sentido, é uma mestra silenciosa que nos ensina valores essenciais — simplicidade, acolhida, gratidão, sensibilidade, solidariedade e confiança. Virtudes capazes de reconfigurar mundos interiores e transportar cada um de nós a dimensões inimagináveis da vida.

Cito, com admiração, o trabalho do produtor Claudio Ramos, de Juiz de Fora. Popularizar o teatro é um desafio enorme para os agentes de cultura, mas também uma das mais belas ações humanitárias: fazer chegar às pessoas, de diferentes realidades, esse bem tão precioso. Na Campanha de Popularização do Teatro, ao final do espetáculo, ele fez um convite caloroso para que todos prestigiassem ainda mais sua arte.

Eu aceitei esse convite de coração aberto e, ao assistir “O Velório à Brasileira” no Teatro Solar, vivi uma noite de descontração, riso e alegria. Foi como se tivesse celebrado o meu próprio aniversário em grande estilo. Um momento que guardarei com gratidão.

Teatro Solar - em cartaz  Velório a brasileira.

Dia 23 de janeiro, segunda-feira, é o dia da gratidão maior. Afinal, é o meu aniversário! O grande Autor da vida escreveu meu nome na história. O maior Artista, Aquele que detém o poder criador do universo, me trouxe ao mundo e, com sabedoria, colocou também desafios e imperfeições em meu caminho para me ensinar a crescer.

Ao olhar para trás, vejo a mão de Deus em cada detalhe da minha trajetória. Como não ser gratidão? Um aniversário é sempre um marco, um convite a celebrar, ainda que seja uma festa simbólica que acontece apenas no coração solitário da gente.

E, nesse dia, recordo o poeta Vinicius de Moraes: “É melhor ser alegre que ser triste; alegria é a melhor coisa que existe, é assim como a luz no coração.”

Obrigado, Senhor, pela minha existência, pelo meu vir a ser e pela oportunidade de reanimar-me sempre. Obrigado por todos os presentes que recebi até hoje através das pessoas queridas: lealdade, atenção e consideração.

E você, o que pensa de tudo isso?

Por Deodato Gomes

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