Um trem que marcou a alma do Vale
Eros Jannuzzi eterniza, em sua canção, a Estrada de Ferro Bahia e Minas (Baiminas) — um dos pilares da economia e da identidade do nosso Vale entre o final do século XIX e meados do século XX. A sua “morte” não foi natural. Foi planejada em silêncio pelo regime militar, atendendo aos interesses do capitalismo internacional. Apostar no avanço das rodovias e na concentração de lucros pelas grandes montadoras implicava sacrificar a ferrovia, que era mais do que transporte: era memória, afeto e pertencimento.
Com a última viagem, em maio de 1966, partiram também os sonhos e esperanças de milhares de famílias que se viam representadas naquele trilho poético que ligava Araçuaí a Ponta de Areia, num trajeto de 578 quilômetros que cortava o coração do Mucuri. A música de Jannuzzi não é apenas um canto de saudade: é um grito pela preservação dos vestígios culturais e históricos que ainda resistem dessa estrada que tanto significou.
O pesquisador Jaime Gomes afirmou: “Um trem passou em minha vida.” E nós, que habitamos este chão, sabemos: essa estrada passou e ficou. Ficou marcada a ferro na alma das gerações deste Vale sofrido e sonhador. É lembrança forte, viva, que pulsa em versos, memórias e no desejo de não deixar o tempo apagar o que fomos.
Deodato Gomes Costa
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