São inéditos a velocidade de progressão da pandemia
pela Covid-19 e o número de verdades e inverdades que surgem e desvaecem à luz
das ainda escassas comprovações científicas, quer sobre os testes ditos
padrão-ouro, fármacos que possam se mostrar verdadeiramente úteis em seu
tratamento ou mesmo duração da imunidade conferida. Nesse cenário tão novo,
consola o grande número de pessoas já curadas, porém esse equilíbrio instável
entre epidemiologia e estrutura de serviços para responder bascula entre o
tamanho do desafio e a coordenação da resposta. No Brasil, a operação dos
hospitais de campanha, em construção em diversas cidades, se a eles forem
assegurados recursos humanos qualificados e suficientes, poderá salvar vidas.
O grande pensador e poeta Paul Valéry nos alerta,
premonitoriamente, no entre guerras: “Civilizações, não se esqueçam de que são
mortais”. Esta pandemia, que seguramente não será a última, vem nos lembrar,
peremptória, a nossa possibilidade de desaparecer como civilização, abrupta ou
lentamente, seja pelo caos, por armas atômicas, pelos danos ao meio ambiente,
pela falta d’água ou por epidemias.
Conhecendo a realidade de exclusão de nossas
grandes cidades, essa doença vai desnudar, em carne viva como nunca
antes, a exclusão social e a diferença de acesso aos serviços básicos, desde
saneamento básico, água e moradia, até o ápice do sistema, que são as unidades
de terapia intensiva. Não será apenas um jovem ianomâmi, em sua
realidade longínqua, que morrerá atingido pela virose, sem a assistência
adequada à sua cultura. Poderão ser nossos jovens, moradores de comunidades e
suas famílias, em particular os mais velhos. Caberá, mais do que à rede
suplementar de saúde, a esse sistema único, o SUS, castigado cronicamente pelo
sub financiamento, através das medidas emergenciais orquestradas, dar a
resposta, correndo contra o tempo da disseminação acelerada.
Na falta de testes em larga escala, urge
epidemiológica dos casos de síndrome respiratória aguda grave e gripe,
inclusive dos óbitos, gerando informação necessária sobre os vetores de
expansão da doença e seus números. Dispensadas estão as metáforas quando o
hiperrealismo grita, ululante como diria Nelson Rodrigues: Nova York, a cidade
mais cosmopolita e rica do mundo, ultrapassa os 200 mil casos e enterra alguns
milhares de seus cidadãos em cova rasa, se ajoelha diante da tragédia humana
inaudita, a superar qualquer narrativa épica grega. Mas vai conseguir achatar a
curva de transmissão do novo coronavírus com o isolamento social.
Nesta Páscoa tão insólita, contrita, mais que nunca
carregada de seu sentido de travessia e libertação, nos vemos em meio à
angústia, com mais perguntas do que respostas, e muitas dúvidas. É restauradora
a visão de peixes e patos de volta aos canais de Veneza, bem como ouvir a
homilia do Papa Francisco e Andrea Bocelli cantar “Amazing grace” numa catedral
de Milão deserta. Retroalimenta-nos da velha e teimosa confiança de que podemos
prosseguir, capazes de olhar o Apocalipse não como um livro de maldições, mas
como ele é, uma leitura de revelação e esperança.
O grande pensador e poeta Paul Valéry nos alerta no entreguerras: “Civilizações, não se esqueçam de que são mortais”
Olá boa tarde, tudo bem!
ResponderExcluirNeste cenário de medo em meios ao caos nessa pandemia, que possamos sim, encontrar paz, esperança e conforto em nossos corações!
Parabéns pelo excelente post, e venho dizer que estou de volta, dei uma repaginada no blog e troquei o nome, agora é Cantinho da Déia!
bjooo no coração...