Naquela noite de 17 de setembro, a Câmara Municipal de Carlos Chagas parecia transbordar não apenas de pessoas, mas de emoções que vibravam silenciosamente, em gestos cheios de significado. O evento, em celebração ao Setembro Azul, trouxe à tona uma causa que, muitas vezes, vive à sombra: a comunidade surda e sua luta por inclusão e reconhecimento. A sala estava repleta de figuras importantes da cidade – vereadores, professores, alunos e a representante da APAE, mas, acima de tudo, estava cheia de esperança.
Ao entrar na Câmara, o clima de solenidade era evidente. O Presidente da Câmara, Sr. Ronaldo "Bombom", já aguardava com uma postura que refletia a seriedade e a sensibilidade daquele momento. Sua decisão de abrir as portas para essa celebração não foi apenas um gesto político, foi uma demonstração de humanidade. Ali, o silêncio tinha um peso simbólico, traduzido pelos movimentos firmes e precisos das mãos da intérprete de Libras, Rejane Faustina, que articulava palavras invisíveis, porém tão claras quanto qualquer discurso.
A cidade de Carlos Chagas, com seus 14 cidadãos surdos, ainda enfrenta o desafio da inclusão plena. Muitos desses indivíduos vivem à margem, quase invisíveis para uma sociedade ouvinte. Contudo, naquela noite, eles foram protagonistas. A professora Virgínia, que conduziu o evento como Mestre de Cerimônias, fez questão de dar voz a quem, muitas vezes, não tem a oportunidade de ser ouvido.
Os alunos da Escola João Beraldo se destacaram em suas apresentações. Cada gesto, cada sinal, era carregado de significado e história. A aluna Jamile Ferraz, ao falar sobre a cultura surda, lembrou a todos que ser surdo não é uma deficiência, mas uma identidade, uma forma única de estar no mundo. Quando Lucas Henrique explicou a escolha do "Setembro Azul", ficou claro o quanto a cor carrega consigo tanto o peso da opressão quanto o orgulho da resistência surda.
Foi emocionante ouvir Rejane Faustina, a organizadora e protagonista do evento, falar sobre os dados estatísticos que revelam o tamanho dessa comunidade no Brasil, e especialmente em Carlos Chagas. Foi emocionante também a entrevista com Maria dos Anjos, pioneira na inclusão de filho surdo. Cada número não representava apenas uma estatística fria, mas vidas reais, com desafios e vitórias. As pessoas, ali presente, acompanhavam atentamente, consciente da responsabilidade que cada um carrega na transformação dessa realidade.
A noite avançou, mas o impacto das falas e das apresentações permaneceu no ar. Luciano Gomes, presidente da Associação de Surdos de Teófilo Otoni, trouxe um testemunho que tocou profundamente os presentes, destacando como a união da comunidade surda pode trazer mudanças significativas para a sociedade como um todo. E quando Nicole Ferreira falou sobre o “sinal” que cada surdo recebe, foi impossível não sentir a profundidade desse gesto de nomeação, que carrega identidade e pertencimento. Tudo acontecia sob a interpretação de outro Luciano que traduzia para a Linguagem Brasileira de Sinais.
O ponto alto foi quando a Supervisora Givanilma compartilhou a experiência de adaptação de um aluno surdo de 42 anos, que apenas recentemente passou a contar com um intérprete em sala de aula. Sua fala foi um testemunho de resiliência, de que nunca é tarde para lutar por direitos e dignidade.
No final, as palmas – em Libras, claro – preencheram o salão. Um gesto simples, mas tão potente quanto qualquer aplauso audível. A cidade de Carlos Chagas, por meio de sua Câmara Municipal e da sensibilidade de seus cidadãos, deu um passo importante em direção à inclusão e à igualdade. O Setembro Azul deste ano de 2024 não será apenas uma data no calendário; mas será um marco na história da cidade, um momento em que o silêncio se transformou em diálogo, e os gestos falaram mais alto do que as palavras.
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