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sábado, 2 de novembro de 2024

Walfredo Avelar Menezes: uma vida em cartaz!


Não tem como deixar as páginas desse blog em branco sobre alguém que marcou a história de Carlos Chagas, que moldou o imaginário da cidade e enraizou a cultura do cinema em muitos corações da velha guarda. Walfredo Avelar Menezes, um nome que ressoa entre as paredes silenciosas do antigo Cine Filadélfia e novo Supermercado, as mesmas paredes que um dia vibraram com sua voz inconfundível ecoando pelos autofalantes, anunciando com maestria os filmes que transportavam os cidadãos para um mundo além da nossa pequena cidade.

Ele nasceu aqui mesmo, em Carlos Chagas, em 27 de janeiro de 1943. Viveu entre nós por 81 anos, até sua partida em 02 de novembro de 2024, deixando um legado que transcende o tempo. Deixa para trás sua esposa, Maria Creuzer F. Oliveira Menezes; seu filho, Fredy Oliveira Menezes, e uma neta, Vitória Rafaele Cardoso Menezes, além de Walfredo Avelar Menezes Neto. Uma família que agora carrega a honra e o peso de um sobrenome gravado na memória pública da cidade.

A paixão pelo cinema foi plantada em sua juventude. O primeiro cinema de Carlos Chagas surgiu em 1948, quando Fábio Gama trouxe um projetor de 8 milímetros de Teófilo Otoni, instalando-o no prédio que hoje abriga a loja maçônica Nova Filadélfia. Essa história era ele mesmo quem contava. Esse espaço inicial, modesto e aconchegante, deu lugar, anos depois, ao Cine Vitória, um cinema maior e mais estruturado, onde funcionou o Brasileirão. Contudo, foi o Cine Filadélfia, com sua grandiosa tela e os projetores modernizados, que se tornou a verdadeira janela para o mundo, permitindo que o povo de Carlos Chagas assistisse aos clássicos como "A Testemunha-Chave", "Os Dez Mandamentos" e "A Carga dos Canhões de Navarone", declinados um a um por ele em palestra sobre o cinema.

Walfredo foi a alma desse cinema. Sua voz — firme, clara e inconfundível — anunciava cada filme com a precisão de quem conhecia cada detalhe e a paixão de quem amava profundamente a sétima arte. Estima-se que ele tenha assistido a mais de 1.300 filmes ao longo da vida, um número que evidencia sua devoção. Esse amor pelo cinema, quem sabe, poderia ter vindo de sua mãe, uma artista sacra que tocava violino e animava as liturgias católicas nas Missas de domingo. Pode ser que era a música dela que o inspirava a transformar cada anúncio de filme em um convite emocionante.

Mas a vida de Walfredo não se resumia às projeções. Antes do cinema, ele serviu na Escola Santa Marta, e mais tarde dedicou-se ao serviço público, trabalhando na Prefeitura de Carlos Chagas. Ali, ele não apenas cumpriu com suas funções, mas também serviu à comunidade com o mesmo zelo e carinho com que cuidava do cinema.

Hoje pela manhã, ouvi de um Senhor que disse: “Estou indo ao velório do senhor Walfredo; ele nunca deixou faltar a cesta básica na minha casa.” Era essa a essência de Walfredo: um coração generoso, sempre atento às necessidades dos outros. Como membro ativo da Sociedade São Vicente de Paulo, encarnava o amor compassivo e misericordioso que São Vicente pregava, levando ajuda concreta e libertadora aos mais necessitados. Ele era, como dizem, um verdadeiro "Vicentino", um homem de fé que não media esforços para seguir os passos de Cristo, o Evangelizador dos Pobres.

Aos 81 anos, Walfredo se despede, deixando uma história tecida em conversas e encontros. O nome dele será lembrado nas memórias dos que conviveram com ele na Escola Santa Marta, nos corredores da Prefeitura, nos bancos da igreja, quando se falar de cinema e nas reuniões dos Vicentinos. Cada pobre que ele ajudou, cada amigo que conquistou, cada filme que anunciou, todos o guardam em seus corações com gratidão e saudade.

Obrigado, Sr. Walfredo, pela sua vida e pela sua história, que já está escrita no céu junto a Deus. Descanse em paz nos braços do Pai. Essa é uma viagem que todos faremos e da qual não há volta, porque ela nos leva ao encontro da maior e mais intensa plenitude sonhada pelo ser humano. Os pobres que você ajudou te agradecem, a cultura que disseminou por meio do cinema frutificou, e cada cidadão que você atendeu como servidor público também te enaltece por seu cuidado e dedicação.

Agora, no silêncio eterno, sua voz ainda ecoa nas nossas lembranças, e o antigo Cine Filadélfia, hoje apenas uma recordação, expressada em um prédio de supermercado, ainda te lembra e guarda muitos pedacinhos de você. Que a última imagem projetada pelo rolo do filme da sua vida seja um raio de paz e luz, um farol a guiar para um futuro onde a fraternidade, como a que você tanto cultivou entre os Vicentinos, ilumine cada canto da cidade.  Que essa lembrança nos inspire a construir um mundo melhor, onde a compaixão e o amor ao próximo sejam os pilares da nossa existência. Assim, sua memória se tornará uma chama eterna, acesa no coração de cada um que teve a sorte de cruzar seu caminho.

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