Assistir à vitória de Ana Patrícia e Duda na final do vôlei de praia nos Jogos Olímpicos de Paris foi uma experiência emocionante e inspiradora. Ver essas duas atletas brasileiras superarem desafios e conquistarem o ouro diante da Torre Eiffel me fez refletir profundamente sobre o valor da perseverança e do trabalho em equipe, não apenas no esporte, mas também na educação.
Assim como Ana Patrícia e Duda, que se uniram após a frustração em Tóquio e encontraram na amizade e no compromisso mútuo a força para se reerguer, na educação enfrentamos desafios que exigem resiliência e colaboração. Mas, ao observarmos a realidade das nossas escolas, surgem questões cruciais: como garantir que nossas crianças estejam lendo ao concluir o terceiro ano de escolaridade? E quanto aos alunos alocados na faixa de baixo desempenho nas avaliações externas? O que vamos fazer para elevar os nossos IDEBs?
A meu ver, essas questões são mais desafiadoras que uma final olímpica. Hoje, sabemos que 7 em cada 10 estudantes que concluem a educação básica no Brasil saem sem proficiência em leitura e cálculo, verdadeiras nulidades cognitivas, comprometendo suas chances de inserção no mercado de trabalho. Esse cenário exige a mesma determinação dos profissionais da educação, que vimos em Ana Patrícia e Duda: não podemos nos dar ao luxo de aceitar essas derrotas. São talentos que se perdem a cada ano e a cada década. Assim como elas buscaram superar os obstáculos com união e estratégia, precisamos encontrar maneiras de apoiar nossos alunos, com o que temos dentro de nossas escolas, de forma que todos possam alcançar seu pleno potencial. Não podemos terceirizar culpas em governos e família sobre insucessos comprovados por vários indicadores. Não podemos também enquanto profissionais da educação aceitarmos como se fosse supernatural o fracasso de estudantes situados dentro da própria escola em que trabalhamos, sem vê-los como resultado do nosso trabalho docente.
A trajetória dessas atletas nos ensina que, mesmo diante das dificuldades, a união e a determinação podem nos levar ao topo. Na educação, é fundamental que primeiro reconhecemos os péssimos resultados produzidos por nós mesmos. É preciso que olhemos no placar desse jogo da educação que praticamos pedagogicamente todos os dias e nos responsabilizemos pelas partidas e pontos perdidos. Precisamos olhar no espelho da escola a "feiura" dos nossos resultados. Diante deste cenário preocupante, é crucial que unamos forças e atuemos de forma proativa. Precisamos planejar intervenções eficazes a partir dessa realidade desafiadora, com o objetivo de inspirar nossos alunos a perseverarem, a perseguirem seus sonhos com determinação e a nunca desistirem, mesmo quando enfrentarem obstáculos no caminho. Precisamos transformar a realidade da aprendizagem dos nossas crianças, adolescentes e jovens, assim como Ana Patrícia e Duda transformaram a dor da derrota em Tóquio em uma vitória histórica em Paris.
Essa vitória é um lembrete poderoso de que, assim como no esporte, na educação os grandes resultados são frutos de dedicação, esforço contínuo e, acima de tudo, da crença inabalável no potencial dos estudantes e de que somos capazes de vencer. Que possamos levar essa lição para nossas salas de aula e, juntos, construir um futuro repleto de conquistas para nossos alunos, elevando o nível da nossa educação e garantindo que nenhum estudante seja uma vítima do fracasso escolar como preconizou o sociólogo francês Pierre Bourdieu, tão lido por mim no mestrado.
@professordeodatogomes
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