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domingo, 12 de janeiro de 2025

TEORIAS DA CONSPIRAÇÃO!

Título: Psicologia das Teorias da Conspiração: Uma Abordagem Científica

Introdução

As teorias da conspiração têm ganhado crescente relevância em debates políticos, sociais e culturais. Essas crenças, que frequentemente surgem em contextos de incerteza e medo, não são fenômenos patológicos, mas sim respostas psicológicas comuns e humanas para compreender situações complexas. Este artigo explora os principais mecanismos psicológicos e sociais que levam à formação e disseminação de teorias da conspiração, buscando desmistificar sua natureza e avaliar seu impacto na sociedade.


Definição de Teorias da Conspiração

De forma geral, teorias da conspiração podem ser definidas como crenças de que um grupo específico, agindo de maneira secreta e coordenada, está por trás de eventos ou circunstâncias prejudiciais à sociedade (DOUGLAS et al., 2019). Essas crenças envolvem cinco características principais:

  1. Padrões: A busca por relações entre eventos, rejeitando a aleatoriedade e coincidências.
  2. Intencionalidade: A crença de que todas as ações têm um propósito deliberado.
  3. Coalizões: A ideia de que grupos conspiratórios coordenam as ações de forma estratégica.
  4. Hostilidade: A percepção de que esses grupos agem contra os interesses do restante da sociedade.
  5. Segredo: A manutenção do sigilo, que sustenta a natureza especulativa das teorias (GECCO, 2020).

Mecanismos Psicológicos

1. Medo e Ansiedade

O medo e a ansiedade aumentam a vigilância em relação ao ambiente. Essas emoções, comuns em momentos de crise social ou econômica, levam as pessoas a buscar explicações rápidas para eventos complexos (SHARPLES; MILLER, 2018). Por exemplo, em situações de epidemias ou desastres, teorias conspiratórias emergem como tentativas de dar sentido ao caos.

2. Viés da Proporcionalidade

O "proportionality bias" refere-se à tendência de acreditar que eventos grandiosos só podem ser causados por agentes igualmente grandiosos. Essa lógica leva à rejeição de explicações simples, favorecendo narrativas conspiratórias (IMHOFF; BROTHERTON, 2016).

3. Identificação de Padrões

Os seres humanos têm uma predisposição natural para reconhecer padrões, mesmo em contextos aleatórios. Essa habilidade, embora adaptativa em muitos casos, pode levar à identificação de conexões inexistentes, característica comum em teorias da conspiração (VAN PROOIJEN; AERTSEN, 2015).

4. Intencionalidade Exagerada

A percepção de intenções ocultas em eventos aparentemente aleatórios é um fator importante na crença conspiratória. Esse fenômeno é frequentemente associado à tendência de atribuir ações humanas a fenômenos naturais ou sociais (DOUGLAS; LEITE, 2020).


Aspectos Sociais e Históricos

As teorias da conspiração não são fenômenos modernos. Exemplos históricos, como as caças às bruxas na Idade Média e o macartismo nos Estados Unidos, demonstram como essas crenças emergem em contextos de insegurança coletiva. Esses momentos frequentemente envolvem a necessidade de encontrar um "bode expiatório", como bruxas, comunistas ou outros grupos marginalizados (HOFSTADTER, 1964).

Socialmente, essas crenças reforçam a divisão "nós versus eles", criando hostilidade em relação a grupos percebidos como adversários. Essa dinâmica pode ser observada em narrativas políticas contemporâneas, como a crença em "ameaças comunistas" ou em "marxismo cultural" (WOOD; DOUGLAS, 2015).


Implicações Sociais

Teorias da conspiração podem ser prejudiciais quando motivam comportamentos irracionais ou perigosos. Por exemplo, a crença de que vacinas causam autismo, baseada na ideia de uma conspiração médica global, tem levado à redução da cobertura vacinal e ao retorno de doenças antes controladas (LOEWENSTEIN; PETERSON, 2021). Da mesma forma, teorias conspiratórias podem influenciar decisões políticas, como evidenciado nas eleições presidenciais dos Estados Unidos e do Brasil.


Considerações Finais

As teorias da conspiração não devem ser tratadas como patologias individuais, mas como fenômenos sociais e psicológicos que refletem a necessidade humana de compreender o mundo e lidar com a incerteza. Compreender os mecanismos que sustentam essas crenças é essencial para promover diálogos mais racionais e combater os impactos negativos dessas narrativas.


Referências

DOUGLAS, K. M.; LEITE, A. C. Suspicious minds: The psychology of conspiracy theories. Current Directions in Psychological Science, v. 29, n. 3, p. 263-267, 2020.

GECCO, F. Conspiracy Theories: Patterns and Narratives. Psychological Journal of Belief Systems, v. 10, n. 2, p. 45-56, 2020.

HOFSTADTER, R. The Paranoid Style in American Politics and Other Essays. New York: Knopf, 1964.

IMHOFF, R.; BROTHERTON, R. Belief in conspiracy theories: Basic principles of an emerging research domain. European Journal of Social Psychology, v. 46, n. 7, p. 754-764, 2016.

LOEWENSTEIN, G.; PETERSON, D. The public health impact of conspiracy theories. Journal of Health Psychology, v. 27, n. 1, p. 5-13, 2021.

SHARPLES, J.; MILLER, L. Fear and uncertainty: Psychological roots of conspiracy theories. Social Cognition Research, v. 12, n. 4, p. 215-228, 2018.

VAN PROOIJEN, J.; AERTSEN, J. Patter-seeking minds: Conspiracy theories and cognitive biases. Psychology & Society, v. 7, n. 3, p. 93-107, 2015.

WOOD, M.; DOUGLAS, K. What about building 7? A social psychological study of online discussion of 9/11 conspiracy theories. Frontiers in Psychology, v. 6, p. 836, 2015.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2019

Alerta máximo contra as pseudociências. Crenças podem trazer prejuízos à vida de todos.

Marcelo Knobel

Reitor da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) desde abril de 2017 é físico

Alerta máximo contra as pseudociências

Crenças podem trazer prejuízos à vida de todos


Qual o problema de usar homeopatia contra o resfriado comum? Parece inofensivo. Consultar o horóscopo antes de sair de casa, também. A situação fica um pouco mais nebulosa, porém, quando se tenta tratar uma doença grave à base de preparados homeopáticos ou quando um trabalhador perde o emprego porque seu mapa astral é "incompatível" com o do chefe.
Muitas vezes envoltas numa aura afável de curiosidade inócua, pseudociências --crenças que reivindicam, de modo ilegítimo, o mesmo grau de confiabilidade das ciências-- podem prejudicar, de modo perverso, a vida de todos e também o planeta.
O perigo se revela, por exemplo, quando indústrias ou setores específicos da sociedade, por motivos religiosos, políticos ou econômicos, articulam-se para tirar proveito do baixo conhecimento que a população tem de como a ciência é feita, e também do grande nível de desinformação presente no meio virtual.
Com a crescente polarização social, há cada vez mais políticos e influenciadores que propagam ideias pseudocientíficas, ou até anticientíficas, utilizando, para tanto, estratégias conhecidas, que vêm sendo aprimoradas ao longo dos séculos, e que agora ganham eficácia extra graças à internet e às novas formas de interação social.
Em seu livro "O Mundo Assombrado pelos Demônios", de 1995, Carl Sagan oferece um "kit de detecção de bobagens", composto por oito estratégias para analisar criticamente alegações que se pretendem científicas.
Sagan, assim como outros autores, sugere que há elementos comuns que aparecem no discurso e na posição dos propagadores de pseudociências. Aqui, oferecemos um quarteto de indicadores:
Evidência negativa: quando os argumentos a favor de uma ideia se resumem, exclusivamente, a alegações sobre erros, reais ou imaginários, que existiriam nas ideias dos outros. Ainda que todos os outros estejam mesmo errados, isso não significa que a opção oferecida é correta. Ela pode até estar mais errada que as demais.
Correlação e causa: apontar que, porque uma coisa varia de modo semelhante a outra, é causada pela outra. Isso nem sempre é verdade: existem inúmeros exemplos de fenômenos desconexos que variam de modo similar durante algum tempo --por exemplo, de 1999 a 2009 o número de mortes por afogamento em piscinas, nos EUA, seguiu a mesma tendência que o número de filmes estrelados por Nicholas Cage.
Exemplos escolhidos a dedo: apresentar apenas casos que parecem confirmar suas ideias. Nenhum procedimento, estratégia ou tratamento funciona em 100% das vezes. Quando o assunto é ciência, quem não leva as falhas em consideração, ou as esconde na hora de apresentar resultados, é incompetente ou desonesto.
Apelo à antiguidade: alegar que uma ideia ou procedimento é adequado porque é usado há séculos. A história está repleta de bobagens que sobreviveram ao teste das gerações, da teoria de que a Terra fica no centro do Universo ao uso de sangrias para combater doenças infecciosas.
Essas táticas em geral vêm acompanhadas de linguagem rebuscada, frases de efeito e uma retórica que, direta ou indiretamente, acusa os críticos de serem parte de alguma grande conspiração. Hoje, não é difícil identificar quem usa, de modo sistemático, tais ferramentas.
E as consequências podem ser graves. No Brasil, dinheiro público é desperdiçado em tratamentos de saúde que se baseiam apenas em falsas correlações, na antiguidade e em exemplos escolhidos a dedo. A negação do aquecimento global e o criacionismo se baseiam em evidência negativa. O movimento antivacina, movido a teorias da conspiração, leva ao ressurgimento de doenças.
Como, ao contrário da ciência legítima, pseudociências não têm compromisso com a realidade, elas se moldam com facilidade às preferências do público e ao espírito dos tempos. Isso as torna atraentes. Escapar dessa atração pode não ser fácil, mas é cada vez mais necessário, pelo bem de nossa sociedade.

Marcelo Knobel
Reitor da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) desde abril de 2017 e físico
Fonte: Via folha de São Paulo