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quinta-feira, 9 de abril de 2020

O Globo 09 de Abril de 2020 Na HORA DA CIÊNCIA Roberto Lent Neurocientista, professor emérito da UFRJ e pesquisador do Instituto D’Or, escreve As dores da Quarentena.



As dores da quarentena


Pandemias assolam a humanidade há séculos. Ficaram famosas a peste negra, no século XIV, e a gripe espanhola, no século XX. Milhões morreram, por falta de meios para frear essas catástrofes sanitárias. Hoje tudo mudou. A ciência se tornou um recurso essencial para a vida humana, e orienta as mais eficazes iniciativas de contenção e mitigação das epidemias. Ficou comprovado que um dos meios de reduzir a velocidade da transmissão de vírus letais como o coronavírus é o isolamento social. Mal menor, porque ele também traz problemas, principalmente sobre a saúde mental. É preciso estudar esse aspecto, para encontrar os meios de controlá-lo.

Várias experiências de isolamento humano têm sido estudadas: o inverno polar, por exemplo, pode atingir o equilíbrio emocional dos pesquisadores e militares residentes naquelas lonjuras congeladas. Outras situações extremas têm sido objeto de estudo por psicólogos e psiquiatras: estações espaciais, submarinos, prisões e até UTIs.

As epidemias virais, já incluindo a Covid-19, foram avaliadas nesse aspecto por recente trabalho de revisão bibliográfica publicado por um grupo de pesquisadores ingleses. Foram muitos os efeitos identificados: psicológicos (depressão, estresse, transtornos do sono), corporais (obesidade, dores, baixa imunidade) e sociais (assédio e violência), para citar apenas alguns.

O grupo identificou os principais agentes estressores: longa duração da quarentena, falta de informação, medo de infecção, tédio, perda de renda, fome e, não bastasse isso tudo, o temor de ter sido infectado. Alguns trabalhos analisados relataram sintomas persistentes que potencialmente evoluiriam para ansiedade, transtornos de estresse pós-traumático e pânico.

Um outro grupo de pesquisa, trabalhando na China nos últimos meses, inquiriu mais de 1.200 pessoas em quase 200 cidades, 85% das quais com 20-24 horas por dia em casa. E 75% relataram enorme medo de infectar seus familiares. Pouco mais da metade apresentou sintomas de impacto psicológico moderado a severo, quase 30% apresentaram ansiedade e cerca de 20%, depressão. Sintomas físicos também foram detectados: dores musculares, tonteira, dor de garganta.

As recomendações emanadas desses trabalhos foram simples e intuitivas. A primeira: aumentar a percepção individual de controle sobre o risco, por meio de frequente higiene das mãos, proteção da boca e do nariz com o braço ao espirrar ou tossir e uso de máscaras. A segunda: fortalecer o capital social da população isolada (confiança na sociedade), por meio do constante fluxo de informação sobre a pandemia, avaliação da eficácia real de terapias propostas e atualização sobre as rotas de transmissão do vírus.

O isolamento social é indispensável, mas não inócuo: tem um custo psicológico, além dos prejuízos sociais e econômicos. Não há outra saída para retardar e frear o avanço da doença, mas é preciso dosar bem a duração do isolamento para obter resultados sem prejuízos psicossociais graves. Esse é o desafio que temos pela frente.
O isolamento social é um mal menor, porque ele também traz problemas, principalmente sobre a saúde mental

quarta-feira, 8 de abril de 2020

No Jornal O Globo de hoje (08), na Seção Hora da Ciência o virologista Amilcar Tanuri, chefe do Laboratório de Virologia Molecular do Departamento de Genética da UFRJ, recomenda que todos devem usar máscara. Veja como ele defende sua posição


Neste tempo de pandemia, é muito importante discutir o uso das máscaras. Tudo em relação a virologia depende da quantidade de vírus presente na pessoa infectada. É a chamada carga viral. Para infectar o ser humano, precisamos de um número de partículas virais definida ou dose infectante. Por exemplo, se tratarmos um paciente com Aids e baixarmos sua carga viral no sangue, ele não é mais infeccioso. O mesmo quando utilizamos camisinha. Quando vamos para os vírus respiratórios, as coisas são semelhantes. Um paciente infectado por vírus respiratórios como o influenza ou o novo coronavírus libera milhões de partículas de vírus em suas gotículas exaladas por tosse ou espirros. Essas gotículas vão se depositar no rosto ou mãos de pessoas não infectadas e podem agora infectá-las diretamente.
Outra via de infecção se dá pela deposição das gotículas em superfícies como mesas, banheiros, barras de ônibus, corrimões, elevadores etc. Aí, contaminam as mãos das pessoas não infectadas que levam o vírus à boca ou aos olhos. O uso da máscara por uma pessoa infectada, seja sintomática ou assintomática, diminui a dispersão das gotículas e por consequência a carga de vírus ambiental. Temos as máscaras de materiais sintéticos ou papel tratados, que são utilizadas pelo pessoal de saúde e essenciais nesses tempos de coronavírus. Essas máscaras industriais tipo N95 e as PPF2/3 têm um alto poder de filtragem das tais gotículas suspensas, tanto para expelirmos quanto para inspirarmos os vírus. A população não deve utilizar essas máscaras para poupá-las para os médicos, enfermeiros e outros profissionais que estejam lidando diretamente com os pacientes internados com Covid-19. Porém, o resto da população deve se beneficiar também desse equipamento. Vamos utilizar as máscaras de pano comerciais ou caseiras o tempo todo porque, mesmo que uma máscara de pano, dobrado duas ou três vezes, não barre o vírus 100%, ela pode barrar entre 60% e 70%. Assim, a carga de vírus depositada em superfícies diminui e, consequentemente, a transmissão. Assim, o uso em larga escala da máscara reduziria drasticamente a carga de vírus circulante. Temos que lembrar que uma vacina muito eficaz imuniza 90% dos indivíduos e pode nos livrar de epidemias de sarampo, poliomielite etc. Em analogia, o uso em larga escala da máscara caseira, em casa ou na rua, seria como uma vacina contra o coronavírus. Mas é uma vacina que deve ser utilizada todos os dias. Mais importante: o uso da máscara de pano não pode substituir o isolamento social e a higienização das mãosE não levar as mãos ao rosto segue sendo uma recomendação fundamental. Precisamos parar de relacionar a máscara com a doença. A proteção dada por ela não é somente individual, mas comunitária.
Mantenham isolamento social e usem máscaras o tempo inteiro. Todos devem ter, no mínimo, duas: uma para usar e outra de reserva, limpa. Lave-as com água, sabão e água sanitária. E reforçando: a máscara não substitui o isolamento social.

O uso em larga escala da máscara caseira, em casa ou na rua, seria como uma vacina contra o coronavírus.