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Vivenciamos no último dia 17 de agosto um momento importante de resgate da história do Vale do Mucuri, através de um curso onde buscamos refletir sobre a necessidade do despertar de um sentimento de pertencimento ao Mucuri e de construção de uma identidade própria a partir de um amplo conhecimento da sua história. A reflexão foi marcada por uma visão de ruptura com a história oficial e de desconstrução do mito Teófilo Otoni, postura importante para a edificação de uma nova visão do nosso vale.Este encontro vem atender à necessidade de discutirmos e de investimento em ações afirmadoras das identidades do nosso sofrido Vale em detrimento de uma história oficial contada e recontada que negligencia a narrativa real de uma ocupação violenta e depredatória do nosso chão.
Segundo apresentou o professor Márcio, que trouxe aspectos de suas importantes pesquisas para nosso encontro, “[...] os elementos que vão marcar de forma definitiva a vida econômica, política, social e cultural local são a violência e a forma predatória da colonização[...]. É este processo de ocupação do nosso vale que constitui causa raiz dos problemas vivenciados por todos nós nos dias atuais, onde indígenas e afrodescendentes foram historicamente silenciados. É o fortalecimento da cultura, economia e política dos silenciados, a partir do resgate da memoria, e de valorização de suas manifestações, que se pode encontrar um caminho de emancipação dos herdeiros dos indígenas e negros, historicamente despossuídos e renegados pela história. Os fenômenos mundiais globalizantes jamais conseguem eliminar a força das manifestações culturais de uma localidade. Assim como se impôs o mito Teófilo Otoni, as elites de cada cidade que compõem esse vale, se impuseram, pela força do poder, como as grandes protagonistas da história e da memória. Foram elas os grandes heróis, que apagaram completamente a presença dos sem voz no desenrolar dos episódios historiográficos. Existe um caráter sempre elogioso dos feitos oficiais, a ponto de levantarem monumentos ilógicos e incoerentes e ignorarem as reminiscências de um povo que resistiu a verdadeiros massacres violentos e desumanos. Figuras históricas louvadas e proeminentes que viam nos botocudos e negros como o outro a ser eliminados porque representava o pior obstáculo ao seus projetos capitalista. Uma ocupação baseada na violência e na depredação de um povo e da sua riqueza natural, a partir de interesse que passaram linearmente da estrada Santa Clara, para a Bahia Minas até chegar à BR 418, tudo como um arquitetado mecanismo a serviço de um lucro insaciável.
O grande desafio é fazer coletivamente o resgate da identidade deste povo, e o imenso estímulo para esta conquista, passa necessariamente pelo amplo e profundo conhecimento de todas as mazelas que fizeram a nossa história ser esse massacre. É necessário que as comunidades do vale conheçam esta história em todas as suas dimensões: política, econômica, social e cultural e se reconheçam como pertencentes a este territporio e se posicione verdadeiramente na defesa dos mais esquecidos. Apenas este conhecimento pode gerar consciência e fazer frutificar em sentimento de pertença a este torrão esquecido e promover união, organização e a luta de todos em busca de verdadeiras transformações das situações de desigualdades econômicas e sociais tão aberrantes que marcam a sociedade mucuriense.
O nosso curso teve como trilha sonora o violão do artista local, Wilton que executou composições suas e do saudoso Ademar.
O nosso curso teve como trilha sonora o violão do artista local, Wilton que executou composições suas e do saudoso Ademar.
Por Deodato Gomes