Professor que usa IA vai substituir aquele que não usa, diz pesquisador
Ferramentas
tecnológicas, no entanto, devem ser incorporadas aos esforços pedagógicos e não
apenas ao conteúdo
São Paulo
O uso de inteligência artificial nas escolas
desperta debates acalorados e, por vezes, dogmáticos. Mas diante dos desafios
da educação, especialistas avaliam que as ferramentas podem ajudar, embora não
dispensem a mediação humana.
Segundo o professor Geber Ramalho, da Universidade Federal de Pernambuco, a obsessão
por incorporar tecnologias nas salas de aula, por si só, não gera nenhuma
consequência prática. "A gente cansou de ver distribuírem tablets e nada
mudar", afirma o pesquisador que atua na área de inovação desde os anos 1990.
No entanto, ele destaca que os setores de ensino costumam ser bem resistentes às mudanças. "Há quantos anos discutimos métodos de aprendizagem ativa, mas continuamos dando aula como há 50 anos?", questiona, referindo-se às práticas educacionais alternativas que colocam o aluno no centro do processo.
O pesquisador, um dos debatedores do 8º Congresso Internacional de Jornalismo de Educação,
promovido pela associação de jornalistas Jeduca, na terça-feira (3), em São
Paulo, considera que um dos desafios do uso de IA nas escolas é integrar
a tecnologia ao aspecto pedagógico. O
objetivo é que o uso não se restrinja apenas ao conteúdo.
Para Ramalho, os mecanismos de IA podem aprimorar o
trabalho dos professores, indo desde a identificação de dificuldades dos
estudantes até a recomendação de exercícios e abordagens para superá-las. A
elaboração dos planos de aula, baseadas nos diagnósticos, também pode ser
otimizada, incorporando as soluções observadas.
Afastando os temores dos profissionais da educação de serem substituídos pelos
avanços tecnológicos, Ramalho avalia que isso não irá acontecer, mas afirma que
o professor que usa IA vai substituir aquele que não usa. "É uma nova
ferramenta e temos que aprender a dominar", diz.
Francisco Coelho, docente da rede de ensino público
do Piauí, apresentou a criação "AEE
Buddy", que surgiu dentro da proposta de um edital do governo do estado
para aplicação de IA no ambiente escolar.
A plataforma, desenvolvida por estudantes, monitora
o rosto dos alunos em ambientes de Atendimento Educacional Especializado (AEE)
e identifica comportamentos e emoções. Com os resultados captados, o sistema
fornece parâmetros avaliativos qualificados para os educadores
No Rio de Janeiro, Fábio Campos, representante da
Universidade de Columbia (EUA) no Brasil, aplica a ferramenta em um programa de
educação para a cidadania que atualiza o método de Paulo Freire na Rocinha.
No projeto do Transformative Learning
Technologies Lab (TLTL), jovens criam comandos, os chamados
"prompt", para gerar imagens. A partir do estímulo recebido, eles
avaliam em círculos de conversa com adultos se a projeção de IA é o futuro que
querem ou o passado que imaginavam para a favela.
"O grande desafio", afirma Francisco Coelho, "é a formação continuada dos professores e o controle ético. A inteligência artificial agrega muito, mas o futuro da educação ainda vai ser bons professores motivando seus alunos e utilizando ferramentas para contribuir no processo de aprendizado".