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FOTOGRAFIA
Espanhol tem mostra de suas criações surreais no Reina Sofía, em Madri-Chema Madoz inventa novo mundo-CELSO FIORAVANTE-da Reportagem Local
Texto da Folha de São Paulo de 30 dezembro de 1999.
Um pé de sapato e uma meia, um osso de cachorro, uma folha datilografada, uma bengala na qual você se apóia. Esses aparentemente banais objetos movem o mundo do fotógrafo espanhol Chema Madoz, cuja instigante e irônica produção ganhou uma retrospectiva no Centro de Arte Reina Sofía, em Madri. "Chema Madoz - Objetos 1990-1999", um conjunto de 122 fotografias em preto-e-branco fica em cartaz até 10 de janeiro.
A partir de pequenas brincadeiras, jogos e ilusões, que nunca transformam forma, função e significado primeiros do objeto, Madoz cria imagens que acrescentam uma nova interpretação ao objeto trabalhado.
São imagens que se auto-interpretam ironicamente e assim iludem o espectador. Um pé de sapato calça a meia que deveria envolver. O osso é de cachorro, pois traz as manchas do animal. A folha datilografada é a folha de um carvalho, que poderia produzir o papel. A bengala exerce sua função ao ser posicionada no lugar de um corrimão. As imagens falam por si.
Levada em consideração a definição de André Bréton para "feito surrealista" ("Toda descoberta muda a natureza. O destino de um objeto ou de um fenômeno constitui um feito surrealista", em "A Revolução Surrealista", de 1924), as imagens de Madoz poderiam ser consideradas feitos surrealistas, naturezas-mortas surreais, mas a definição não os exaure.
Madoz cria uma nova poética visual, a partir de interpretações irônicas e metafóricas, sem abrir mão de um apuro técnico exemplar. Suas imagens seduzem e provocam o espectador ao colocá-lo em frente ao conhecido e ao inédito, simultaneamente.
Além de visões e revisões irônicas dos objetos do cotidiano, o fotógrafo espanhol também apela ao uso de espelhos para evidenciar os paradoxos da observação dos objetos, criando assim situações que questionam a percepção do real, sem que eles percam sua lógica anterior ou interior.
Chema Madoz nasceu em 1958 e começou a fotografar em 1985. Em 1990, começou sua série de "objetos", que no ano seguinte ganharia o Grande Prêmio Kodak de Fotografia Européia, dedicado a jovens fotógrafos. Apesar de estar presente em grandes coleções públicas e museus espanhóis, Madoz é praticamente desconhecido fora de seu país natal.