Tintin, Tintin, vamos na casa da vovó depois da música? Vamos? Música, música. Da nossa casa até a casa da vó, são duas quadras. Pra mim, calçada, ferragem, mercadinho e chegou.
Pra Valentim, pedrinhas, árvores, pedras soltas que toda vez tira e coloca, busca encaixe. Duas ruas atravessadas pra dar mão pra mamãe. Poças d'água, pisoteia, alegra, refresca.
Ai, que água suja, dizem uns. É água de chuva, meu caro. Ai, que delícia, apontam outros.
Tintin nem liga, só pisa, pisa, pisoteia. Mas no percurso até a casa da vó, há também o que me parece mais valoroso pra Tintin. Os quatro encontros.
Estabelecidos por ele desde o início. Que nem sei precisar quando foi, nesses eu só respeito e acompanho. Só olho e vibro.
O primeiro encontro é com o seu João, morador de rua e flanelinha daqui da rua, com quem o pequeno sempre conversa. Oi, meu amigo, vai passear? Blá, blá, blá. As o pequeno soltar beijos infinitos e abaná, abaná, abaná, até não mais enxergar.
Quando seu João tá dormindo, Tintin passa sussurrando, falando baixinho em respeito ao sono do amigo. Valentim tem me ensinado sobre os caminhos e que o tempo é senhor de delicadezas, desafios e novidades constantes e intermináveis. O segundo encontro é com o Jorge, guardador de carros do restaurante da esquina, que, baiando como pai, fica do outro lado da rua e todos os dias atravessa pra conversar com Tintin, que o aguarda também diariamente ao vê-lo do outro lado.
Dia desses, Jorge elogiou a sandália do pequeno e, desde então, a primeira atitude é abaixar-se e mostrar as sandálias. Tocas e olha pro amigo, que insiste que lindas, muito lindas, que lindas, vamos ver, vamos ver. O terceiro encontro é com o homem do mercadinho.
Quando tá com seu gato, o encontro é ainda mais vibrante. Carinho, tropeça, atrapalhação. Mas quando não, o simples ver o amigo e jogar-lhe beijos já é suficiente pra seguir em frente.
Atravessando a rua, os três senhores trabalham em um almoxarifado do hospital, que às vezes são dois, às vezes são quatro, às vezes é um só. Tintin desvia a rota pra vê-los. Pega-lhe no colo, conversa um pouco e pronto, tá feito.
Abana em despedida e corre em disparada pra frente do portão do prédio da avó. Todos os dias. Cada dia com um olhar atento sobre algo novo no trajeto, mas sempre com seus quatro encontros, a sentir falta quando algum não tá.
Valentim tem me ensinado sobre os caminhos, caminhares e destinos, que o chegar não é mais valioso que a andança, que o encontro é precioso e necessário.