Intimidações sistemáticas, fofocas, rumores,
xingamentos, humilhações entre colegas e tantas outras maneiras de violência
física e psicológica. Qual diretor nunca recebeu casos envolvendo algum
desentendimento desse tipo na sua escola? Apesar de ter ganhado um termo
específico, o bullying não é nenhuma novidade no ambiente escolar. No entanto,
até o ano passado, o Brasil carecia de legislação que contemplasse casos
relacionados à intimidação nos colégios.
Para ajudar a solucionar essa questão, entrou em vigor
desde fevereiro de 2016, a Lei 13.185/2015 que institui o “Programa de combate
à intimidação sistemática- bullying”. Com o intuito de dar direcionamentos
práticos aos mantenedores de instituições de ensino, a legislação delibera que
as escolas precisam promover medidas de conscientização, prevenção e combate a
todos os tipos de violência.
Destaque especial às práticas recorrentes de
intimidação sistemática (bullying), ou constrangimento físico e psicológico,
sejam elas cometidos por alunos, professores ou outros profissionais da
comunidade escolar. A medida também vale para as depreciações feitas pela
Internet (cyberbullying). Na época em que a referida Lei passou a valer, a
ClassApp em parceria com Patrícia Peck Pinheiro Treinamentos, promoveu ciclo de
palestras online para orientar diretores e profissionais da Educação a
trabalharem com o tema.
Lei de combate ao Bullying entra em vigor: saiba como
se preparar!
Entretanto, passado um ano de sua vigência, será que
essa Lei trouxe mudanças realmente significativas no combate ao bullying? Como
as escolas se organizaram para promover as ações preventivas determinadas pela
nova norma?
Para fazer um balanço sobre os desdobramentos da
legislação no ambiente escolar, o Blog da ClassApp conversou com diretores de
colégios que se engajaram na campanha e bateu um papo exclusivo com a advogada
e especialista em Direito Digital e sócia fundadora do Instituto iStart,
Patrícia Peck Pinheiro. Confira!
Blog
ClassApp entrevista a advogada e especialista em Direito Digital, Patrícia
Pelei-bullying_peckck Pinheiro
Blog da ClassApp – Como você avalia
essa conquista da Lei contra o bullying nas escolas?
Patrícia
Peck – A importância da nova Lei é justamente ser uma política preventiva, que
tem como foco promover a mudança de comportamento hostil, especialmente nas
instituições de ensino, privilegiando mecanismos e instrumentos alternativos
para combater a prática da intimidação sistemática, inclusive na esfera
digital.
Para
convivermos em um ambiente eticamente seguro e saudável, é preciso orientação.
Ou seja, é necessário realizar um trabalho preventivo, ensinando sobre as
regras do jogo, sobre as leis vigentes e sobre ética, ainda mais neste mundo
que está cada vez mais digital e em rede. Por isso, é essencial ensinar os
filhos e/ou alunos resolver os problemas de maneira não agressiva e a não ceder
à atitude agressiva de outros colegas, tanto no ambiente online como no
offline.
Dessa
forma, torna-se indispensável que as instituições citadas na Lei desenvolvam
ações preventivas e orientações ao longo do ano, investindo em atividades que
promovam a reflexão e estimulem a mudança de comportamento,
lei_bullying_4incluindo os pais nesse processo.
Afinal,
cabe aos responsáveis legais o dever da vigilância, com atitudes que evitem
riscos aos filhos, o que no contexto digital significa acompanhar de perto o
uso dos dispositivos tecnológicos e ter acesso a esses recursos.
BC – Nesse primeiro ano, quais as
principais conquistas?
Patrícia:
Atuo com escolas desde 2005 e pude acompanhar um grande avanço na gestão
escolar nos últimos anos. As escolas passaram a adotar novas tecnologias para
melhorar o ensino-aprendizagem, passaram a documentar melhor as regras
disciplinares, bem como os atendimentos aos alunos e à família.
No
entanto, neste mesmo período, vi diminuir a presença dos pais na vida escolar
dos filhos. Tem sido cada vez mais difícil trazer os pais aos eventos
escolares, fazer os pais lerem os avisos que a escola envia. O combate eficaz
ao bullying exige trabalho em conjunto, com muita cooperação por parte dos
responsáveis legais. Se educação começa em casa, o combate ao bullying começa
na família.
Temos
hoje um aplicativo gratuito, que chama iStartCare, pode ser baixado nas lojas
da AppleStore e da Google Play e que ajuda na educação sobre o uso ético e
seguro da tecnologia. Além disso, desde 2012, desenvolvemos uma certificação
que chama Escola Digital Segura e muitas escolas vêm obtendo os selos que demonstram
o compromisso com educar em ética e segurança digital. Logo as escolas vêm,
sim, aumentando sua governança corporativa e aplicando mais as melhores
práticas para gestão do lei_bullying_5uso da Tecnologia Educacional.
BG – Como as escolas podem se beneficiar
desta legislação?
Patrícia
– O principal papel da escola é preventivo, ou seja, levar a informação para a
família. Ainda vemos que muitos incidentes digitais poderiam ser evitados se
houvesse mais conhecimento sobre o tema e diálogo sobre estes assuntos nos
encontros que a Escola promove com os pais, sejam nas agendas ordinárias como
nas extraordinárias.
Como
essas ações preventivas passaram a ser obrigatórias, a tendência é que cresça a
participação dos responsáveis, facilitando essa atuação conjunta.
Temos
que aumentar o grau de participação dos pais na vida digital dos filhos.
O
pai e a mãe precisam saber, sim, quais são os conteúdos que têm sido
compartilhados, quais são as amizades virtuais e a que riscos os jovens estão
expostos na internet, que é a maior rua que temos no planeta. Apesar de
vivermos na era das informações, na prática do dia a dia ainda há
lei_bullying_6muita gente desinformada e despreparada.
Capacitar
os pais para esta nova realidade digital passou a ser extremamente importante
para a escola ganhar aliados. É quando o aplicativo passa a ser usado para
blindar a relação, para proteger a comunidade escolar e não para trazer um
risco devido ao seu mau uso ou desvio de propósito. Por certo, não dá para
lidar com estas ferramentas tecnológicas, que são muito poderosas, de qualquer
jeito. É necessário orientação, regras claras, uso ético e seguro para ser
legal.
A
vigilância no uso destes recursos depende de compromisso participativo dos pais
junto à escola. Ao mesmo tempo em que a instituição escolar tem que cumprir com
a missão de informar, de educar e de avisar imediatamente aos pais se houver
algum incidente com o aluno. É um trabalho conjunto para alertar e evitar que o
jovem curta conteúdos discriminatórios e ofensivos, compartilhe fotos e vídeos
com exposição de intimidade própria ou dos outros colegas que podem configurar
pornografia infantil, e, ainda, tenha cuidado ao falar com estranhos em chats e
jogos online.
BC- O que ainda polei_bullying_7de
ser melhorado, a partir dessa Lei? Qual a expectativa daqui para frente?
Patrícia:
Na minha opinião, a Lei trouxe regras claras para determinar que ao cumprirem
com o programa preventivo, as escolas não serão responsabilizadas. Evitando,
assim, discussões judiciais acerca de se houve ou não omissão ou negligência da
escola no caso a caso. Agora, se a escola não realizar as ações previstas pela
Lei, isso por si só, já vai configurar uma prova contra a escola para responsabilizá-la
por negligência pela ocorrência do bullying.
Antigamente,
a escola tinha controle sobre o aluno dentro do seu perímetro físico, estando
dentro dos muros da escola estava protegido. Mas, agora, este aluno vem para
escola com celular, acessa à internet e isso foge completamente da possibilidade
de proteção da escola.
A
vigilância no uso destes recursos depende de um compromisso participativo dos
pais e que eles fiquem do lado da escola. A escola tem que cumprir com a missão
de ilei_bullying_8nformar, educar, avisar imediatamente aos pais se houver
algum incidente com o aluno, mas cabe aos responsáveis o dever de agir, olhar o
dispositivo do filho e ver que ele estava no WhatsApp durante a aula, que tem
fotos e vídeos com exposição de intimidade própria ou dos outros colegas ali
que podem configurar pornografia infantil, que tem estranhos falando com ele
nos jogos online, que ele está curtindo conteúdos discriminatórios e ofensivos.
Basta querer saber a verdade, as máquinas são testemunhas que sabem tudo e
contam.
Vivemos
a era da trlei_bullying_9ansparência digital. Espero que esta nova Lei, em que
fazer a campanha preventiva passou a ser uma obrigação legal e não apenas
iniciativa pedagógica, ajude a mudar este cenário. Temos que falar muito disso,
tanto para os alunos como para os pais, para alcançarmos uma transformação
sustentável.
O
Brasil vive uma crise moral, e é este resgate ético que estamos promovendo
pelas leis e pelo judiciário, para promover a tolerância, o respeito, a boa-fé
e deixar no passado a impunidade.
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