Iluminando mentes, girando ideias – onde a educação floresce e as reflexões ganham neurônios, guiando pais, educadores e alunos na dança contínua em busca do saber, tal como girassóis em seu compasso com o sol.
O Dia Mundial da Conscientização do Autismo, celebrado em 2 de abril, é uma data essencial para promover a compreensão e a aceitação das pessoas com autismo. A frase "O autismo não limita as pessoas. Mas o preconceito sim, ele limita a forma como as vemos e o que achamos que elas são capazes" ressalta uma verdade fundamental: as barreiras mais significativas para indivíduos com autismo muitas vezes não são suas próprias condições, mas sim as percepções e atitudes da sociedade.
Cada estudante com autismo tem um conjunto único de habilidades e desafios. Algumas podem precisar de mais apoio em áreas específicas, enquanto outras podem ser altamente proficientes ou até mesmo excepcionais em certos aspectos. O preconceito surge quando generalizamos ou subestimamos as capacidades das pessoas com autismo, baseando-nos em estereótipos ou em falta de conhecimento.
Nosso papel é crucial na quebra desses preconceitos. Precisamos promover um ambiente de aprendizagem que reconheça e valorize a diversidade, que adapte as práticas pedagógicas para atender às necessidades de todos os alunos e que incentive a empatia e o respeito mútuo entre os estudantes. Ao fazer isso, não só estamos ajudando os alunos com autismo a alcançar seu potencial máximo, mas também estamos cultivando uma cultura de inclusão que beneficia toda a comunidade escolar.
Portanto, o Dia Mundial da Conscientização do Autismo é uma oportunidade para reforçar o compromisso com a educação inclusiva e lembrar que, com o apoio e compreensão adequados, todas as pessoas, independentemente de suas condições, podem contribuir significativamente para a sociedade.
A escritora Renata Formoso confessa que sentiu um alívio ao saber que seu filho Noah, que hoje tem sete anos, é autista.
“É óbvio que eu não desejava que ele tivesse o transtorno. Mas receber a confirmação desse fato funcionou como uma lanterna. Naquele momento, eu finalmente soube que teria uma luz para nos ajudar a trilhar esse caminho”, relata.
Renata vive em Londres, no Reino Unido, e diz que nunca havia reparado algo atípico no comportamento ou na forma com que Noah interage com o mundo.
“Ele sempre foi uma criança muito falante e não teve nenhum atraso no desenvolvimento. Porém, quando Noah tinha três anos e meio, a professora da creche veio conversar com a gente e nos orientou a procurar um neuropediatra”, conta
Mas daí veio a pandemia de covid-19, e os planos de passar por uma avaliação médica tiveram que ser postergados por praticamente dois anos.
“Nesse período, eu comecei a ler bastante sobre autismo. Também passei a perceber vários sinais, como o fato de meu filho cantar bastante, como se toda a brincadeira precisasse de uma trilha sonora”, detalha.
Aos cinco anos, o menino finalmente conseguiu passar com o neuropediatra, que confirmou “oficialmente” o diagnóstico de autismo e garantiu aquela sensação de conforto citada por Renata.
“Foi um grande alívio entender que o Noah tem certos limites que precisam ser respeitados por nós, como mãe e pai, pelos familiares e pela comunidade. Percebi que todos passaram a ser mais pacientes — e isso não modificou em nada a criança maravilhosa que ele sempre foi.”
Embora cada paciente seja único e tenha as suas particularidades, a história de Noah está longe de ser única: todos os dias, diversas crianças são diagnosticadas com autismo em todo o mundo.
E os números mostram que a detecção desse transtorno do desenvolvimento, marcado por dificuldades de comunicação, comportamentos repetitivos e interesses restritos, está em franco crescimento.
Uma pesquisa recém-publicada pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos revela que 1 a cada 36 crianças americanas com menos de 8 anos têm autismo.
Este trabalho, que é repetido a cada dois anos, revela uma tendência sólida de aumento nos casos: na edição anterior do levantamento, a taxa estava em 1 caso a cada 44 meninos e meninas.
Para se ter uma ideia, no ano 2000, a prevalência era de 1 em 150 — e nos estudos preliminares da área, realizados ainda nos anos 1960, esse número era estimado em 1 a cada 2,5 mil.
Mas, afinal, por que o diagnóstico de casos de autismo cresce tanto? Embora não existam respostas definitivas para essa pergunta, especialistas suspeitam que a maior conscientização sobre o tema seja a principal explicação para o fenômeno.
O que diz a pesquisa
O artigo do CDC avalia os diagnósticos de autismo em diversos centros de saúde, espalhados por 11 Estados americanos.
Os dados mais recentes apontam uma prevalência de 27,6 casos do transtorno a cada mil crianças de até oito anos (o que permite chegar à proporção de 1 para 36).
O trabalho ainda mostra que o autismo é 3,8 vezes mais frequente em meninos — cerca de 4% deles têm a condição.
Porém, as estatísticas também estão subindo entre o público feminino. Este foi o primeiro ano em que a porcentagem de meninas com autismo superou a casa de 1%.
Outro ineditismo observado no levantamento deste ano tem a ver com a raça: a prevalência do transtorno foi mais baixa em brancos quando comparada a de outros grupos, como negros e hispânicos, uma reversão da tendência histórica.
E essa não é a única evidência que aponta para uma ascensão dos diagnósticos de autismo: pesquisadores da Universidade de Newcastle, no Reino Unido, estimaram em 2021 que 1 a cada 57 crianças britânicas tem o quadro, número que é significativamente maior ao registrado anteriormente nos país.
Infelizmente, não existem estatísticas oficiais ou trabalhos epidemiológicos do tipo realizados no Brasil.
“Estudos como o do CDC são muito importantes para pensarmos em políticas públicas específicas para esses indivíduos”, analisa a neuropsicóloga Joana Portolese, coordenadora do Programa de Transtornos do Espectro Autista do Instituto de Psiquiatria (IPq) do Hospital das Clínicas de São Paulo.
O que causa o autismo?
O autismo está naquele grupo de doenças cuja origem é complexa e multifacetada.
Entre os especialistas, não há dúvidas de que a genética tem influência nesse quadro.
“Mas não existe um único gene responsável pelo autismo. São alterações em diferentes trechos do DNA que podem levar ao desenvolvimento do transtorno”, pontua Portolese.
Mas as mudanças no genoma não são capazes de explicar 100% dos casos. É aí que entram os fatores ambientais, principalmente aqueles que acontecem durante os nove meses de gestação.
Por exemplo: filhos de pais ou mães mais velhos, que já passaram dos 35 anos de idade no momento da concepção, têm um risco maior de apresentar o distúrbio.
“Além disso, questões como estresse, sobrepeso, diabetes gestacional e hipertensão durante a gravidez são outros fatores de risco”, acrescenta a especialista do IPq.
Portolese lembra que autismo não é algo que se adquire: a pessoa já nasce com o transtorno e, desde os primeiros meses de vida, apresenta padrões que podem levantar a suspeita e a necessidade de uma avaliação médica.
“A forma como o olhar se estabelece, a compreensão do mundo social, de entender o que a mãe e as pessoas ao redor estão querendo dizer, a expressão dos sentimentos… Tudo isso pode ser diferente”, descreve.
Janelas preciosas
Notar esses sinais precocemente, aliás, é estratégico, apontam os especialistas ouvidos pela BBC News Brasil.
“Existem janelas do desenvolvimento neurológico que podemos aproveitar. A primeira delas vai até os dois anos de idade”, cita o psiquiatra Daniel Minahim, diretor clínico da Associação Vozes Atípicas (AVA).
“Se a intervenção acontece de forma precoce, dentro desses períodos, o resultado é ainda mais positivo”, complementa.
Portanto, ficar atento aos sintomas e, caso seja necessário, marcar uma consulta com um especialista logo na primeira infância é muito importante.
“De forma resumida, o autismo se apoia num tripé de sintomas. Primeiro, os distúrbios relacionados à comunicação e à fala. Segundo, os comportamentos repetitivos. Terceiro, os interesses restritos, em que o indivíduo foca muito em apenas uma ou poucas coisas bem específicas”, informa Minahim.
“Os autistas gostam de outras pessoas, têm sentimentos e querem interagir”, esclarece Portolese.
“A grande questão é que, justamente pela dificuldade de comunicação social, muitas vezes eles ficam focados nas coisas que os interessam, porque é difícil de entender as sutilezas do subliminar”, complementa ela.
Não existem exames específicos para detectar o transtorno. Os profissionais de saúde recorrem a alguns questionários validados cientificamente. Eles também fazem uma série de perguntas para investigar o caso em seus mínimos detalhes antes de chegar a qualquer conclusão.
A idade em que ocorre o diagnóstico, inclusive, é algo que precisa ser melhorado: no levantamento do CDC, o transtorno costuma ser descoberto aos 48 meses (ou quatro anos de vida).
O ideal, de acordo com diretrizes internacionais, é que a conclusão de que a criança tem autismo aconteça um pouquinho antes, a partir dos 36 meses (ou três anos) — justamente para aproveitar as tais janelas de oportunidade de intervenção no desenvolvimento neurológico.
Isso, claro, não significa que o diagnóstico tardio do autismo é um desperdício: ao descobrir o transtorno em qualquer faixa etária (mesmo na adolescência ou na fase adulta), a pessoa pode buscar uma melhor compreensão sobre si e iniciar tratamentos para aliviar sintomas específicos ou dificuldades que prejudicam o bem-estar e a qualidade de vida.
Informação e conscientização
Mas afinal, o que explica esse aumento de diagnósticos nas últimas décadas?
“Quando vemos curvas ascendentes de casos, como no autismo, sempre ficamos com uma pulga atrás da orelha: será que existe algum fator biológico por trás disso?”, questiona Minahim.
“Mas precisamos ter cuidado com teorias da conspiração ou informações falsas. Não há nenhum fator ambiental que tenha se modificado recentemente e que sirva de explicação para esse aumento”, continua o psiquiatra.
“O que vemos de mudança, na verdade, é uma maior conscientização sobre o autismo, com a disseminação de mais informações tanto entre os profissionais da saúde quanto entre a população”, completa.
“Essas estatísticas possivelmente refletem as melhorias na triagem, na conscientização e até no acesso aos serviços de saúde pelas populações minoritárias”, concorda Portolese.
Ou seja: como as pessoas estão mais informadas sobre o transtorno, elas ficam atentas e buscam ajuda caso percebam os sintomas em si mesmas ou em familiares próximos.
Para o neurologista pediátrico Carlos Takeuchi, assessor científico do Instituto Pensi - Pesquisa e Ensino em Saúde Infantil, em São Paulo -, pesquisas futuras precisam investigar melhor esse aumento nos diagnósticos.
“Pode ser que existam fatores genéticos e ambientais envolvidos nisso”, opina.
Takeuchi, que também é coordenador do Serviço de Neurologia do Sabará Hospital Infantil, em São Paulo, reforça a necessidade de iniciar o tratamento o quanto antes — e sempre com o auxílio de vários profissionais.
“O paciente geralmente precisa de terapia comportamental, com análises aplicadas aos comportamentos que ele apresenta”, detalha.
“Também pode ser necessário fazer fonoaudiologia, terapia ocupacional, ter suporte escolar…”, complementa.
Em alguns casos, os médicos ainda prescrevem remédios que ajudam a lidar melhor com sintomas específicos (como insônia ou dificuldade de concentração, por exemplo).
Em outras palavras, não existe uma receita única, ou um tratamento que sirva para todos os autistas. A depender do grau de comprometimento e dos sintomas, o indivíduo pode precisar mais de uma terapia ou de outra.
Aprendizados da prática
Cerca de dois anos após o diagnóstico de Noah, Renata reflete sobre algumas coisas que gostaria de dizer para todas as famílias que recebem uma notícia parecida.
“Certa vez, ouvi uma frase que me marcou: quando você conhece uma criança autista, você só conhece uma criança autista”, diz.
“O espectro do autismo é muito amplo e cada indivíduo, cada família, vai ter uma maneira diferente de lidar com o mundo.”
Renata também aprendeu aos poucos com outros pacientes e pelas redes sociais a evitar certos termos, que podem reforçar estigmas ou incomodar os portadores do transtorno.
“Não existe autismo leve, moderado ou grave. No Brasil, temos os níveis um, dois e três de suporte, de acordo com a necessidade de intervenção e apoio que a pessoa precisa”, ensina.
“Frases como ‘Nossa, mas ele não tem cara de autista’ ou ‘Ele é um anjo azul’ também não ajudam. O autismo não tem cara, e não podemos infantilizar a luta de pessoas que só querem ser incluídas, ir à escola, arrumar um emprego e fazer as atividades diárias”, destaca a escritora.
Por fim, Renata entende que a aceitação do diagnóstico pelas famílias é sempre o melhor caminho.
“Aceitar que seu filho tem autismo pode abrir um caminho maravilhoso para que a criança possa finalmente ser quem ela é”, conclui.
Amanhã, 2 de abril, é o Dia Mundial da Conscientização sobre o Autismo. Cada vez mais ouvimos falar de pessoas com essa condição. Gente anônima e famosa. Será então que a incidência está aumentando? Apesar de muita controvérsia sobre as estatísticas, alguns trabalhos científicos apontam que uma a cada 30 ou 40 crianças pode nascer com o Transtorno do Espectro Autista (TEA). Já a OMS estima algo menos recorrente: um a cada 100 nascimentos. O número que ninguém nega é o dos diagnósticos de autismo crescendo exponencialmente nas últimas décadas.
A explicação para isso ocorre basicamente devido a mudança ocorrida no manual de classificação de desordens mentais, o DSM. O DSM-5 é a última versão, lançada em 2013. Na versão anterior, o autismo era subdividido em cinco categorias clínicas, o que dificultava e atrasava o fechamento de um diagnóstico preciso. A diretriz atual normatizou as características globais do transtorno, deixando os critérios mais homogêneos, facilitando a identificação.
Outra novidade foi a inclusão de síndromes, como a de asperger, no rol do autismo. E os sintomas, que antes eram diagnosticados separadamente, agora formam um contínuo único de déficits – de leve a severos – como nos domínios de comunicação, comportamentos restritos e repetitivos. Portanto, não há justificativa para diagnosticá-los de modo desassociado, como acontecia até então.
Com isso, a divulgação das características típicas foi aumentando gradualmente o conhecimento das condições, que antes eram do conhecimento apenas dos profissionais da saúde. Sem falar da disseminação de informações nas redes sociais. E aqui fica um alerta: muito cuidado com as fontes da informação, pois há muita gente sem qualificação (ou lugar de fala, no caso dos autistas youtubers e tiktokers que eu assisto e aplaudo, diga-se) dando palpites sem base científica, ou glamourizando a condição, com exemplos como o de Elon Musk e Greta Thunberg.
Aventureiros à parte, esse conjunto de fatores vem facilitando a suspeita e o consequente diagnóstico em crianças e adultos. Ressalto, infelizmente, que é muito difícil chegar rápido a uma conclusão. Normalmente é um processo longo e doloroso para toda a família, por não existir um único exame que confirme definitivamente a condição. A palavra final vem normalmente após um conjunto de avaliações profissionais.
Entretanto, podemos estar mais perto de uma solução prática. Desde 2015, quando passei a atuar junto à ONG Autismo e Realidade, temos nos dedicado a gerar conhecimento sobre o tema. Estamos desenvolvendo pesquisas em parceria com o Ministério da Saúde para o diagnóstico precoce do autismo. Está em fase de testes um modelo simplificado da metodologia atual de detecção (ABA) a ser adotado pelo SUS e, em conjunto à FIPE, um cálculo do custo de uma cesta básica de tratamentos para a família da criança autista. Também foi lançada recentemente uma cartilha atualizada, que está disponível no site da instituição.
Neste mês de conscientização, é importante que pais, cuidadores, professores e profissionais da saúde entendam que o diagnóstico precoce do TEA é importante para melhorar a adaptação da criança ao seu entorno. Quanto mais cedo se identificar, mais tranquilo será o contato com as pessoas ao redor, menor o sofrimento e maiores as chances de conquistar uma vida plena no futuro.
Semanalmente fico sabendo de casos graves de crianças que não têm acesso a um tratamento integrativo. Normalmente filhos de famílias das classes média e baixa, que são ajudadas por igrejas, associações e ONGs – parte de sociedade civil organizada tentando suprir a falta que faz um sistema público que enxergue os autistas. Urge pressionar e conscientizar nossos governantes para que tenhamos unidades de saúde mental, escolas e serviço social bem equipados, com profissionais preparados para o atendimento das crianças com TEA e suas famílias.
Autismo vem da palavra de origem grega "autos" cujo significado é "próprio ou de si mesmo", sendo caracterizado como um distúrbio neurológico que surge ainda na infância, causando atrasos no desenvolvimento (na aprendizagem e na interação social) da criança.
A Prefeitura Municipal, por vontade política do Prefeito Nanayoski, tem um olhar especial para os estudantes especiais. São atendidos atualmente 23 estudantes autistas com professores de apoio e com a instituição de uma Comissão de Apoio à inclusão educacional, nomeada pelo Prefeito, que orienta os pais, analisa e encaminha os casos em que as crianças necessitam de uma atenção especial.
O autismo não tem causa definida. É um transtorno que provoca atraso no desenvolvimento infantil, comprometendo principalmente sua socialização, comunicação e imaginação. Manifesta-se até os três anos de idade e ocorre quatro vezes mais em meninos do que em meninas. Algumas características são bem gerais e marcantes, como a tendência ao isolamento, a ausência de movimento antecipatório, as dificuldades na comunicação, as alterações na linguagem, com ecolalia e inversão pronominal, os problemas comportamentais com atividades e movimentos repetitivos, a resistência a mudanças e a limitação de atividade espontânea. Bom potencial cognitivo. Capacidade de memorizar grande quantidade de material sem sentido ou efeito prático. Dificuldade motora global e problemas com a alimentação (Kanner, apud Menezes, 2012, p. 37).
No autismo, o azul estimula o sentimento de calma e de maior equilíbrio para as crianças. Assista esta anaimação em celebração ao autismo.