Leia a íntegra do discurso da vitória de Joe Biden como presidente eleito
Democrata
pregou a cura da alma dos EUA após eleição tensa
Joe Biden, presidente eleito dos EUA, fez o discurso da vitória na noite de sábado
(7), em Wilmington, Delaware. Leia a íntegra a seguir.
Meus conterrâneos americanos, o povo deste país
falou. Ele nos deu uma clara vitória, uma vitória convincente, uma vitória para
"Nós, o povo". Nós vencemos com o maior número de votos já dados a uma chapa presidencial
na história deste país —74 milhões.
Estou comovido pela confiança e a fé que vocês
depositaram em mim.
Prometo ser um presidente que não busca dividir,
mas unir. Que não vê estados vermelhos e azuis, mas os Estados Unidos. E que
trabalhará com todo o seu coração para conquistar a confiança de toda a
população.
Pois isso é do que se trata a América: o povo. E é
disso que tratará nosso governo.
Eu quis ter este cargo para restaurar a alma da
América. Para reconstruir a espinha dorsal do país —a classe média.
Para fazer a América ser respeitada em todo o mundo
novamente e nos unir aqui em casa. É a maior honra da minha vida que tantos
milhões de americanos tenham votado nessa visão. E agora o trabalho de realizar
essa visão é a tarefa de nossa época.
Como eu já disse muitas vezes, sou o marido de
Jill. Eu não estaria aqui sem o amor e o apoio incansável de Jill, Hunter,
Ashley, todos os nossos netos e seus cônjuges e toda a nossa família. Eles são
meu coração.
Jill é uma mãe —uma mãe militar— e uma educadora.
Ela dedicou sua vida à educação, mas ensinar não é só o que ela faz —é quem ela
é. Para os educadores da América, este é um ótimo dia: vocês terão uma de vocês
na Casa Branca, e Jill vai ser uma ótima primeira-dama.
E eu terei a honra de servir com uma
fantástica vice-presidente, Kamala Harris, que fará
história como a primeira mulher negra, a primeira mulher de origem sul-asiática
e primeira filha de imigrantes já eleita para um cargo nacional neste país.
1.
O candidato democrata à presidência dos Estados
Unidos Joe Biden, sua esposa Jill, a candidata à vice-presidência Kamala Harris
e seu marido Doug comemoram vitória durante comício em Wilmington, no estado de
Delaware Jim Watson/AFP
Isso já devia ter acontecido há muito tempo, e
somos lembrados hoje à noite de todos os que lutaram firmemente durante tantos
anos para que acontecesse. Mas mais uma vez a América curvou o arco do universo
moral em direção à justiça.
Kamala, Doug, gostem ou não, vocês são da família.
Vocês se tornaram Bidens honorários e não há como escapar.
A todos os voluntários, que trabalharam nas
pesquisas no meio desta pandemia, autoridades eleitorais locais —vocês merecem
um agradecimento especial deste país.
À minha equipe de campanha, e todos os voluntários,
a todos os que deram tanto de si para tornar possível este momento, eu devo
tudo a vocês.
E a todos os que nos apoiaram: orgulho-me da
campanha que fizemos e conduzimos. Estou orgulhoso da coalizão que formamos, a
mais ampla e diversificada da história. Democratas, republicanos e
independentes. Progressistas, moderados e conservadores. Jovens e velhos. Urbanos,
suburbanos e rurais. Gays, héteros, transgêneros. Brancos, latinos, asiáticos,
americanos nativos.
E especialmente por aqueles momentos em que esta
campanha esteve mais frágil, a comunidade afro-americana se ergueu novamente
por mim. Eles sempre terão meu apoio, e eu o de vocês.
Eu disse desde o começo que queria uma campanha que
representasse a América, e acho que a fizemos. Agora é assim que eu quero que
seja o governo.
E aos que votaram no presidente Trump, eu
compreendo sua decepção nesta noite. Eu mesmo já perdi
algumas eleições. Mas agora vamos dar uma chance uns aos outros. Está na hora
de pôr de lado a retórica dura. De baixar a temperatura. De vermos uns aos
outros de novo. De escutarmos uns aos outros de novo.
Para progredir, precisamos parar de tratar nossos
oponentes como inimigos. Não somos inimigos. Somos americanos.
Apoiadores comemoram vitória do candidato democrata
Joe Biden à presidência dos Estados Unidos, na praça Black Lives Matter em
frente à Casa Branca (Washington DC) Eric
Baradat /AFP
A Bíblia nos diz que para tudo há um tempo certo,
um tempo para construir, um tempo para colher, um tempo para semear. E um tempo
para curar. Este é o momento de curar a América.
Agora que a campanha terminou —qual é o desejo da
população? Qual é nosso mandato? Acredito que seja este: os americanos nos
chamaram para controlar as forças da decência e as forças da justiça. Para
controlar as forças da ciência e as forças da esperança nas grandes batalhas de
nossa época.
A batalha para controlar o vírus. A batalha para
construir prosperidade. A batalha para garantir tratamento de saúde para sua
família. A batalha para conseguir justiça racial e extirpar o racismo sistêmico
deste país. A batalha para salvar o clima. A batalha para restaurar a decência,
defender a democracia e dar a todos neste país uma chance justa.
Nosso trabalho começa por controlar a Covid. Não
podemos reparar a economia, restaurar nossa vitalidade ou desfrutar os momentos
mais preciosos da vida, abraçar um neto, aniversários, casamentos, formaturas,
todos os momentos mais importantes para nós, enquanto não tivermos esse vírus
sob controle.
Na segunda-feira vou nomear um grupo de importantes
cientistas e especialistas como assessores da transição para ajudar a pegar o
plano Biden-Harris para a Covid e transformá-lo em um plano de ação que começa
em 20 de janeiro de 2021. Esse plano será construído sobre um alicerce
científico. Será construído com compaixão, empatia e preocupação.
Não pouparei esforços —ou dedicação— para reverter
esta pandemia.
Eu disputei como um orgulhoso democrata. Agora
serei um presidente americano. Vou trabalhar duro por aqueles que não votaram
em mim —assim como para os que votaram. Deixem esta triste era de demonização
na América terminar aqui e agora.
A recusa dos democratas e republicanos a cooperar
uns com os outros não se deve a uma força misteriosa fora de nosso controle. É
uma decisão. É uma opção que fazemos.
E se podemos decidir não cooperar também podemos
decidir cooperar. E acredito que isso faz parte do mandato para a população
americana. Vocês querem que nós cooperemos.
Essa é a opção que farei. E eu peço ao Congresso
—democratas e republicanos igualmente— que façam essa opção comigo.
A história americana tem a ver com a lenta mas
constante ampliação das oportunidades. Não se enganem: muitos sonhos foram
retardados por um tempo longo demais. Devemos tornar a promessa do país real
para todos, não importa sua raça, etnia, religião, identidade ou deficiência.
A América sempre foi moldada por pontos de inflexão
—por momentos no tempo em que tomamos decisões difíceis sobre quem somos e o
que queremos ser.
Lincoln em 1860 —vindo para salvar a União.
Franklin Roosevelt em 1932 —prometendo um New Deal
a um país perturbado.
John Kennedy em 1960 —prometendo uma Nova
Fronteira.
E 12 anos atrás —quando Barack Obama fez história e
nos disse: "Sim, nós podemos".
Estamos novamente em um ponto de inflexão. Temos a
oportunidade de derrotar o desespero e construir uma nação de prosperidade e
propósitos.
Podemos fazer isso, sei que podemos.
Já falei muito sobre a batalha pela alma da
América. Devemos restaurar a alma da América. Nosso país é moldado pela batalha
constante entre nossos melhores anjos e nossos impulsos mais obscuros. Está na
hora de nossos melhores anjos prevalecerem.
Nesta noite, o mundo inteiro está olhando para a
América. Acredito que em nosso melhor momento a América é um farol para o
mundo. E lideramos não pelo exemplo de nosso poder, mas pelo poder de nosso
exemplo.
Eu sempre acreditei que podemos definir a América
em uma palavra: possibilidades. Que na América todos devem ter a oportunidade
de ir tão longe quanto seus sonhos e a capacidade dada por Deus os levarem.
Vocês veem, eu acredito na possibilidade deste
país. Estamos sempre olhando à frente. À frente para uma América mais livre e
mais justa. Para uma América que cria empregos com dignidade e respeito. À
frente para uma América que cura doenças —como câncer e Alzheimer. À frente
para uma América que nunca deixa ninguém para trás.
Uma América que nunca desiste, nunca se rende. Esta
é uma grande nação. E nós somos um bom povo. Isto são os Estados Unidos da
América. E nunca houve nada que não conseguimos fazer quando o fizemos juntos.
Nos últimos dias da campanha, tenho pensado em um
hino que representa muito para mim e minha família, especialmente para meu filho Beau, já falecido. Ele captura a fé
que me sustenta e que eu acredito que sustenta a América.
E espero dar algum conforto e alívio às mais de 230
mil famílias que perderam um ser amado para esse vírus terrível neste ano. Meu
coração está com cada um de vocês. Espero que este hino lhes dê alívio também.
"E Ele os erguerá com asas de águia,
Os sustentará no sopro do amanhecer,
Os fará brilhar como o sol,
E os segurará na palma de Sua mão."
E, agora, juntos —nas asas da águia— embarcamos no
trabalho que Deus e a história nos pediram para fazer.
Com corações plenos e mãos firmes, com fé na
América e nos outros, com amor pelo país —e sede de justiça—, sejamos a nação
que sabemos que podemos ser.
Uma nação unida. Uma nação fortalecida. Uma nação
curada. Os Estados Unidos da América.
Deus os abençoe. E que Deus proteja nossas tropas.
Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves.
FONTE: Folha de São Paulo de 08-11-2020