Iluminando mentes, girando ideias – onde a educação floresce e as reflexões ganham neurônios, guiando pais, educadores e alunos na dança contínua em busca do saber, tal como girassóis em seu compasso com o sol.
A partir de sexta-feira, 26
de março de 2021, os serviços prestados pela Secretaria de Educação por meio de
sua Equipe Técnica aos servidores e ao público em geral serão realizados de
forma remota. Medidas tomadas de acordo com a Deliberação nº 141 que altera a deliberação 130 estendendo o prazo da onda roxa até 04 de Abril de 2021.
Art. 1º Fica estendida até 4 de abril de 2021 a vigência do Protocolo Onda Roxa em Biossegurança Sanitário-Epidemiológico - Onda Roxa, nos termos dos arts. 1º e 2º da Deliberação do Comitê Extraordinário COVID-19 nº 130, de 3 de março de 2021, em todo o território do Estado de Minas Gerais.Deliberação COVID-19 Nº 141 DE 24/03/2021.
Com a instituição excepcional e provisória do teletrabalho como medida de proteção aos servidores e ao público durante a pandemia da covid-19 neste ano de 2021, que assumiu um contorno gravíssimo, não haverá atendimento presencial no órgão central e em nenhuma das nossas Unidades escolares que já se encontram fechadas para atividades presenciais desde o dia 18 de Março de 2021.
O acesso às informações e
a solicitação de documentos, bem como todo o atendimento da SME será realizado
por: e-mail; secretaria@edu.carloschagas.mg.gov.br,
telefone da Secretaria 33 98832-6421 (disponibilizando também na versão WhatsApp).
Todos estes canais estão disponibilizados e abertos para atender prontamente as
solicitações.
Nas unidades escolares o
teletrabalho foi estendido aos Professores, Gestores, Supervisores e Secretários
Escolares, dessa forma as Escolas se encontram fechadas, com as aulas acontecendo
somente de forma remota. Comunicamos que estamos aprimorando as aulas remotas e
breve estará construída as escolas na sua versão virtual, de acordo com o
convênio fechado com a Google For Education. Então não haverá atendimento presencial.
Necessitando resolver qualquer problema, informações e solicitação de
documentos, gentileza entrar em contato diretamente com as Escolas pelos
celulares próprios das mesmas, ou pelo e-mail, informado a seguir.
A Escola João Beraldo, ministra seu 4º Aulão no
dia 11 de Agosto, às 14h. Agora á a vez dos Professores de Matemática: Odeni, Lísia e Luciléia. O evento on-line batizado ‘Aulão da João Beraldo’ está
direcionado a todos os nossos alunos. Nesse dia teremos a presença de Addaê e Lucian Gustavo que farão uma homenagem especial ao Dia do Estudante.
Pela terceira vez, a
Escola João Beraldo, promove um aulão no dia 07 de Agosto, às 14h. O evento
on-line batizado ‘Aulão João Beraldo’ está
direcionado a todos os nossos alunos tanto dos ensino fundamental quanto do médio. Para participarem, os alunos terão pegar o link para a transmissão ao vivo via.
De segunda a sexta-feira (22 a 26/6), o programa Se Liga na Educação, que é uma das ferramentas complementares ao Plano de Estudo Tutorado (PET), transmitirá a semana de acolhimento do ciclo II do Regime de Estudo não Presencial. Será uma semana inteira dedicada a esclarecer as principais dúvidas dos estudantes e fixar os conteúdos do primeiro volume do PET. Com isso, os estudantes estarão mais preparados para o segundo volume do Plano de Estudo Tutorado.
“Atentos ao desenvolvimento das habilidades propostas em cada teleaula os nossos professores selecionaram atividades e conteúdos dos PETs que normalmente os estudantes apresentariam mais dificuldades, para a partir daí se dedicarem na resolução desses exercícios com maior profundidade, teremos vários desafios que poderão ser resolvidos junto com os estudantes, além de dicas para uma tranquila transição para o PET Vol II. Será uma semana de acolhimento das dúvidas e preparação para o novo ciclo”, destaca a subsecretária de Desenvolvimento da Educação Básica, Geniana Faria.
Após a semana dedicada à transição para o PET Vol.II, no dia 29 de junho, as teleaulas do “Se Liga na Educação” já serão totalmente relacionadas ao segundo volume do PET.
Parceria com a ALMG vai levar o "Se Liga na Educação" para mais cerca de 80 municípios
A partir da assinatura de um termo de cooperação técnica entre o Governo de Minas e a Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), o programa Se Liga na Educação vai chegar a mais cerca de 80 municípios mineiros. As teleaulas serão transmitidas pela TV Assembleia, o que beneficiará aproximadamente 200 mil alunos da rede estadual.
A transmissão terá início na próxima segunda-feira (22/6) e acontecerá da seguinte maneira:
De segunda a sexta-feira
Das 7h às 9h – conteúdos voltados para o ensino fundamental
Das 19h30 às 22h30 – conteúdos voltados para o ensino médio
Por questões técnicas, a transmissão feita pela TV ALMG, em relação a que é realizada pela Rede Minas, contará com uma semana de diferença, ou seja, na próxima segunda-feira, os estudantes assistirão na TV Assembleia à programação que foi transmitida pela Rede Minas no dia 15/6. FONTE-Site da SEEmg
A pandemia trouxe a educação à distância para as nossas casas. De um dia para outro, toda a gente passou a falar de educação à distância. A expressão, que já era controversa no contexto profissional onde era usada, explodiu subitamente, num fogo de artifício de interpretações coloridas e ilusórias que lhe destruíram de vez o significado. Quando hoje se discute a educação à distância a expressão já não quer dizer nada.
A ironia desta efervescência é que a dicotomia entre mundo presencial e mundo online é hoje um falso problema. Os dois mundos já não têm fronteiras. Raras são hoje as atividades individuais e sociais que prescindem das tecnologias digitais, do uso dos telemóveis, da comunicação na Net ou do acesso a repositórios na “nuvem”, onde, de resto, já se encontra armazenada a maior parte dos nossos dados.
Curiosamente, vários comentadores dos media, justamente frustrados com as restrições que a pandemia lhes impôs, passaram a reclamar, não contra a pandemia ou as restrições, mas contra a linha-de-vida que os manteve ligados ao mundo nesse período: o online. Paradoxalmente, foi online que as reclamações contra o online foram mais lidas e foi aí que foram partilhadas e aclamadas. Sem online, teriam sido gotas de água no oceano.
Sentindo que este tipo de contradição, entre o ser-e-não-ser, estar-e-não-estar, dificulta a construção serena do futuro, que nos explodirá nas mãos sob formas indesejáveis se não cuidarmos de o criar com inteligência, a Comissão Europeia lançou, há meia dúzia de anos, o projeto Onlife Manifesto, onde defendeu que assumamos o fim da distinção entre mundos online e offline e reconheçamos que vivemos uma nova ordem social, económica, política e ética no seio da qual esse tipo de distinção não tem sentido. O projeto, liderado por Luciano Floridi, professor de filosofia e ética da informação da Universidade de Oxford, deu origem a um interessante volume de reflexões publicado pela editora Springer em 2015.
O ensino remoto de emergência não poderia correr bem, nem em Portugal nem em parte nenhuma do mundo, por razões biológicas básicas: a atenção, a memória e a disciplina intelectual de uma criança têm limites que ninguém pode contornar.
Sendo este o mundo alargado que aguarda os jovens das nossas escolas, seria absurdo dividi-lo entre presencial e online. O desafio da educação não é dividir, mas unir, superando as desigualdades sociais que esse alargamento está a gerar sob os nossos olhos. Poderá a escola superar tais desigualdades sem se prolongar harmoniosamente para a dimensão online? Acreditará a escola que lhe bastará “explicar”, por palavras ou imagens, sem integração cultural plena, o que é viver e vingar num mundo misto de presença e distância? Irá a escola fazer como o professor de música que acreditava que se “explicasse” a uma criança onde calcar as cordas teria criado uma violinista de talento?
Se quisermos construir uma educação que tire partido da dimensão de distância, teremos de compreender, em vez de confundir, a distância de que estamos a falar. Faz sentido, nesse contexto, analisar o que se passou nestes últimos tempos de “ensino remoto de emergência” e compará-lo com as formas de aprendizagem regulares e consolidadas onde o fator distância está presente.
O ensino remoto de emergência
O ensino remoto de emergência não poderia correr bem, nem em Portugal nem em parte nenhuma do mundo, por razões biológicas básicas: a atenção, a memória e a disciplina intelectual de uma criança têm limites que ninguém pode contornar. Só por distração se poderia acreditar que o ensino remoto de emergência iria “cumprir os programas”, sobretudo com as crianças mais novas. Acresce que a autonomia para a aprendizagem da maioria das crianças portuguesas, que não é incentivada nem pelas escolas nem pelas famílias, as colocava em desvantagem para uma modalidade de aprendizagem que assenta, acima de tudo, na autonomia.
Além disso, e embora já houvesse em Portugal, graças à livre iniciativa de alguns professores, escolas com experiência nas práticas e tecnologias da aprendizagem à distância, a maior parte das escolas e dos professores não possuía nem experiência nem tecnologias para as pôr em prática. Nessas circunstâncias, a função primordial do ensino remoto de emergência não poderia ser fazer cumprir programas, sobretudo pelos mais jovens, mas manter as crianças funcionais para a aprendizagem e intelectualmente ativas durante os meses em que se sabia que não iriam à escola — um objetivo nobre, meritório e imensamente trabalhoso.
Nestas condições, se não considerarmos, por momentos, a resposta pronta das escolas e dos professores mais experientes, a transição para o ensino remoto foi uma caótica reprodução por videoconferência do modelo presencial, com os defeitos que lhe são próprios, agora acentuados pelo recurso improvisado às tecnologias. Quanto aos alunos mais desfavorecidos, foi claro que ficaram ainda pior. Alguns deles, três meses volvidos sobre o início do processo, ainda nem tinham aparecido.
Foi penoso notar no discurso do ministério e dos sindicatos a ilusão antiquíssima de que educar é transferir “conteúdos”, agitada desajeitadamente perante uma pandemia que impunha um ensaio geral para a educação do futuro.
Nos balanços de fim de ano a que agora assistimos, proliferaram as opiniões dos críticos habituais, que, apesar das suas eternas certezas, foram incapazes, na altura própria, de contribuir com as suas sugestões para a resolução do problema. Foi evidente que o Ministério da Educação não esteve à altura do desafio. Também foi notório o eclipse dos sindicatos no período de emergência. Aliás, foi penoso notar no discurso do ministério e dos sindicatos a ilusão antiquíssima de que educar é transferir “conteúdos”, agitada desajeitadamente perante uma pandemia que impunha um ensaio geral para a educação do futuro.
Estranhamente, nenhum dos críticos parece ter notado a faceta invulgar e magnífica deste ensino remoto de emergência, que talvez tenha colocado Portugal na linha da frente internacional da capacidade de resposta ao fecho das escolas: a ação dos professores. Em vez de baixarem os braços, como seria de esperar perante a debilidade da ação ministerial, os professores começaram de imediato a discutir soluções nas redes sociais. Em 14 de Março, dia seguinte ao fecho das escolas, criaram no Facebook, por sua livre iniciativa, o grupo “E-learning – Apoio”, dedicado à ajuda entre professores. Três meses depois, esse mesmo grupo registava quase 30 mil membros e uma atividade intensiva e ininterrupta de entreajuda entre professores.
Quantos países poderão gabar-se de que um terço dos seus professores, totalizando dezenas de milhares, se auto-organizaram espontaneamente num grupo de ajuda recíproca que se transformou num exercício gigantesco de formação mútua em exercício? Quanto valerá essa formação, face a uma formação em sala? Que implicações terá tido para a construção de uma cultura coletiva de resiliência perante as dificuldades da docência? Valerá a pena recordar, por contraste, que em abril passado Andreas Schleicher, diretor de educação da OCDE, referindo-se às tentativas do governo espanhol para lançar o ensino remoto, lamentava, numa entrevista ao El País, a falta de colaboração mútua e partilha de soluções por parte dos professores espanhóis.
É interessante observar que, sem que professores e alunos se tenham apercebido, as universidades portuguesas já recorrem, em larga medida, a uma forma degradada do modelo combinado.
Em 2008, dois professores canadianos da universidade de Athabasca, George Siemens e Stephen Downes, lançaram um curso à distância que se tornou mundialmente célebre porque mobilizou 2200 pessoas para um projeto coletivo de aprendizagem sem conteúdos. Neste curso, que os seus criadores viriam a teorizar em torno do conceito de aprendizagem conectivista, aprendia-se, não organizando conteúdos, mas debatendo e resolvendo as dificuldades que cada um colocava ao coletivo. Valeria a pena estudar agora, comparativamente, a experiência deste grupo português de 30 mil professores, com quase quinze vezes mais participantes.
A aprendizagem combinada
A aprendizagem combinada (blended learning), ou aprendizagem mista, procura conciliar o melhor da aprendizagem presencial com o melhor da aprendizagem à distância. Oferece, por isso, um contexto favorável à compreensão dos paradigmas do prolongamento da educação presencial para a distância. É interessante observar que, sem que professores e alunos se tenham apercebido, as universidades portuguesas já recorrem, em larga medida, a uma forma degradada do modelo combinado.
Quando, já há mais de duas décadas, as universidades portuguesas começaram a instalar plataformas de gestão de conteúdos e a colocar online os materiais dos cursos, muitos dos alunos, cansados de sessões monótonas e com qualidade pedagógica duvidosa, em salas desconfortáveis e a abarrotar, passaram a faltar às aulas teóricas, preferindo trabalhar sobre os materiais online e restringir a sua presença às aulas práticas e laboratoriais onde a sua participação ativa era indispensável. O problema é que os professores continuaram a conceber os cursos para uso presencial, com deficiências que nunca seriam aceitáveis num modelo combinado. O que é estranho é que, sendo o fenómeno reconhecido há mais de uma década, não seja adoptado o novo modelo, eliminando o hibridismo vigente.
No modelo combinado, todos os materiais pedagógicos (textos, slides, vídeos, podcasts, simulações) são colocados online e as sessões presenciais, embora usadas por vezes para apresentações magistrais, são normalmente reservadas para trabalhos laboratoriais e de grupo, que procuram tirar partido da riqueza social da aprendizagem presencial. A avaliação dos alunos também tende a ser conduzida presencialmente, por um lado para evitar as dificuldades da identificação da autoria, por outro para capitalizar nos benefícios pedagógicos do debate com professores e colegas. Apesar deste caráter predominantemente presencial, a avaliação pode ser muito enriquecida com a dimensão online, nomeadamente por permitir a avaliação anónima pelos pares em trabalhos escritos, projetos e portfólios.
Este modelo presta-se a muitas variantes. No exemplo anterior, a componente de presença é dominante, mas pode acontecer o contrário. Em muitos cursos de formação e mestrado, a maior parte do trabalho decorre online: no primeiro dia as atividades são presenciais, de apresentação, socialização e construção do espírito do curso; o último dia é ocupado com uma conferência de encerramento na qual os formandos apresentam e defendem presencialmente os seus trabalhos. Entre o primeiro e o último dia, os trabalhos decorrem em períodos à distância, relativamente extensos, intercalados com sessões presenciais de um dia ou de algumas horas destinadas a consolidar a aprendizagem e reforçar a componente social.
A educação à distância
Partindo do modelo de aprendizagem combinada, é agora possível caracterizar a educação à distância como sendo idêntica, mas sem a componente presencial. A grande diferença está em que a educação à distância reinventou os seus modelos pedagógicos, libertando-os dos entraves da presença e tirando pleno partido da ligação em rede, da colaboração e da aprendizagem em comunidade. Esta reinvenção, que se renova em permanência, assenta num corpo dinâmico de teoria e prática em domínios tão diversos como as ciências da educação, sociologia, filosofia, comunicação, multimédia, estatística, computação, ciências dos dados e inteligência artificial e exige infra-estruturas e equipas cuja elevada complexidade e sofisticação se aproximam das das indústrias cinematográfica e dos videojogos.
Importa não esquecer que vivemos num mundo de presença e de distância. Quer queiramos, quer não, a distância faz parte das nossas vidas. Por isso, faz parte da educação. A aprendizagem à distância, com desafios e tempos moderados, está ao alcance de qualquer ser humano, mesmo muito jovem.
Deste modo, só por desconhecimento se pode recear, como parece acontecer com a nossa comunicação social, que as universidades e escolas venham a transformar-se em instituições de educação à distância. Primeiro, porque a educação exclusivamente à distância só resulta para adultos ou quase adultos com elevados graus de autonomia e disciplina. Segundo, porque os graus de conhecimentos, sofisticação tecnológica e tempo necessários à concepção de soluções autênticas de educação à distância estão largamente ausentes das nossas universidades e escolas. As universidades e escolas poderão e deverão desenvolver iniciativas de educação à distância que as prolonguem para o espaço online, mas seria absurdo transformá-las em instituições de educação à distância. Tanto mais absurdo quanto mais real se torna nos nossos tempos a necessidade de bons professores: como alertava John Neisbitt, “high tech calls for high touch” (“quanto mais sofisticada é a tecnologia, mais necessário é o calor humano”).
Dito isto, importa não esquecer que vivemos num mundo de presença e de distância. Quer queiramos, quer não, a distância faz parte das nossas vidas. Por isso, faz parte da educação. A aprendizagem à distância, com desafios e tempos moderados, está ao alcance de qualquer ser humano, mesmo muito jovem. Grande parte da aprendizagem dos nossos dias e, sobretudo, da aprendizagem do futuro só poderá ser encontrada à distância. O “espaço das aprendizagens”, nestes nossos tempos, será cada vez mais um espaço à distância, para quem as recebe e para quem as oferece. Uma universidade e uma escola que não sejam capazes de se prolongar para a distância não pertencerão, certamente, aos nossos tempos.
Tenho participado de discussões e ouvido críticas ao ambiente online como espaço inadequado para ensinar e aprender. Muitos professores estão estressados e muitos estudantes continuam insatisfeitos. Há uma nostalgia – em muitos - pela volta para o espaço seguro da sala de aula que garante a aprendizagem plena, enquanto que online seria um espaço precário, incompleto, provisório.
O problema não está em aprendermos ou não em plataformas online. O que está revelando este período é que a maior parte das escolas vem ensinando de uma forma inadequada, muito conteudista, dependente do professor, com pouco envolvimento, participação e criatividade dos estudantes.
O problema não está no online; está na falta de autonomia na formação de cada estudante, na deficiência de domínio das competências básicas (saber pesquisar, analisar, avaliar...) e também na gestão paternalística das aulas, da forma de ensinar: Tudo é dado pronto, como receita fechada, prato feito, com pouca autonomia, participação e envolvimento dos aprendizes.
O online não é solução nem problema, é um ambiente que permite tanto a transmissão como a experimentação, com algumas adaptações. Escolas e universidades que estimulam o protagonismo do aluno, que trabalham com desafios se adaptaram rapidamente ao online, incentivando o aluno-pesquisador, a personalização, atividades em grupo. Mas professores que privilegiam a transmissão de conteúdo, tornam o processo cansativo, insuportável e pouco produtivo para todos.
O problema não está no online, está em privilegiar a transmissão de informações longas, quando é possível combinar informações curtas, atraentes com desafios, projetos, criatividade. Escolas e docentes que vinham trabalhando com desafios, experimentação e projetos no presencial tem encontrado plataformas e aplicativos digitais que combinam os itinerários pessoais (com flexibilidade de tempos e escolhas), as atividades diversificadas em grupo e as de compartilhamento síncrono entre todos.
Encontramos também problemas no online. Os laboratórios virtuais 3-D e com realidade aumentada trazem soluções muito poderosas para simulação, imersão, aprendizagem compartilhada a distância, a um custo baixo, mas que precisam ser complementadas com experimentações de campo, com contato físico em muitos campos profissionais para uma efetiva calibração do desenvolvimento de cada um. Não basta realizar somente exercícios em simuladores de voos; o estudante precisa também de voos reais com instrutores.
Por outro lado, este período longo de ida forçada para o digital revelou que podemos aprender e ensinar de forma muito ativa, diversificada, personalizada, misturada. As crianças precisam conviver juntas, com tutoria próxima. Mas quem já tem um domínio básico da língua, da escrita, da linguagem dos números e computacional pode aprender com um design curricular mais flexível, personalizado, que equilibre as diversas formas de presença física e digital; espaços, tempos e múltiplas formas de aprender e de avaliação para desenvolver as competências necessárias hoje como autonomia, colaboração, resiliência e criatividade.
Este período escancarou também aextrema desigualdade de acesso ao digital e de condições de estudo e pesquisa na maioria das residências. Reforçou a necessidade de termos uma política pública que agilize a infraestrutura digital nas escolas, a formação docente em competências digitais e que o acesso individual e familiar à Internet seja considerado um direito fundamental do século XXI como ter água, esgoto e energia. Ensinar e aprender hoje sem o digital é privar os estudantes de oportunidades ricas para vivenciar dimensões importantes para sua vida pessoal, profissional e social.
É urgente agora o compartilhamento e análise de como integrar todos os ambientes, estratégias de ensino e aprendizagem de forma otimizada em cada etapa da aprendizagem e de acordo com as necessidades de cada um, de cada escola, região. O digital não é uma panaceia, mas um componente fundamental da vida moderna, que afeta todas as dimensões da nossa existência (trabalho remoto, compras online, inserção em redes e comunidades de interesse e de práticas...).
São muitos os desafios na educação, em ambientes presenciais e digitais, num cenário tão complexo e carregado de incertezas. É prioritário dar ênfase e vivenciar valores humanos fundamentais. Educadores, gestores, estudantes e famílias precisam insistir em construir relações inclusivas, de afeto, de conhecimento, abertas ao diálogo, a partir de questões reais, de experimentação, pesquisa, de projetos socialmente relevantes onde os estudantes sejam protagonistas e utilizem todos os meios e tecnologias possíveis.
Temos que rever o currículo neste período, com maior autonomia docente e intenso compartilhamento de experiências, dificuldades, formas de engajar os estudantes através das diversas plataformas e aplicativos digitais, mas também da criatividade em chegar aos mais carentes com roteiros ativos e criativos impressos, sonoros e audiovisuais adequados para cada necessidade.
Num horizonte de crises em todos os campos, que tendem a se agravar, é de capital importância que educadores e gestores sejam os impulsionadores da esperança, de valores humanos, de caminhos que inspirem projetos relevantes. Todo o conteúdo precisa ser relevante, ligado à vida, trabalhado em relação estreita com atividades criativas e empreendedoras. Vai ficando cada vez mais evidente que podemos aprender de múltiplas formas, em todos os espaços e em tempos diferentes.
Precisamos avançar rapidamente no redesenho de projetos educacionais que sejam flexíveis, de qualidade, de custo menor e de resultados mais rápidos e ágeis. Ao mesmo tempo que fazemos as mudanças possíveis agora, neste período de transição, é importante definir um projeto estratégico de transformação no médio prazo das escolas e instituições de ensino superior para que realmente sejam modernas, atraentes, envolvente e relevantes nos próximos anos.
Secretários de Educação preveem refeitório com lugar marcado e rodízio de alunos na volta às aulas.
Gonçalo Júnior, O Estado de S.Paulo
16 de junho de 2020 | 21h12
Quando forem retomadas, as aulas presenciais nas escolas terão menos alunos por sala e só atividades individuais, nada de trabalhos em grupo. Haverá rodízio entre estudantes em sala e em casa, com continuidade das atividades online. No intervalo, refeitórios terão lugares marcados para que estudantes mantenham a distância entre si. Cada um deverá ter a própria garrafinha de água. Podem ocorrer aulas de reposição aos sábados ou em outros períodos. Professores e alunos devem usar máscaras o tempo todo.
Essas são algumas das diretrizes elaboradas pelo Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed) para o retorno às aulas presenciais no País. Os secretários estaduais não têm previsão de datas para a volta, mas elaboraram a cartilha nacional para que Estados façam adaptações às realidades locais, principalmente em relação às ações sanitárias. O documento dedica grande espaço a medidas pedagógicas.
As escolas devem apresentar alternativas para o cumprimento da carga horária mínima anual com ampliação da jornada diária e reposição de aulas aos sábados ou à noite. O documento prevê a “possibilidade de prorrogação do calendário para o período de recesso ou para o ano seguinte”. Isso significa que o ano letivo não deve acabar em dezembro.
“Os anos letivos de 2020 e 2021 serão entendidos como um ciclo. Com isso, os alunos não seriam prejudicados. Os conteúdos de 2020 seriam distribuídos nesse ciclo”, diz a secretária de educação de Alagoas, Laura Souza, uma das coordenadoras do documento. “Vamos olhar para o currículo e identificar aprendizagens fundamentais que não podem faltar para todos os estudantes.”
Embora seja orientado principalmente para escolas públicas, a cartilha do Consed também influencia as particulares. Em São Paulo, gestores e professores já começaram a quebrar a cabeça para se adequar ao “novo normal” antes mesmo de o documento ser divulgado. Medidas de prevenção, como máscaras, medição de temperatura e álcool em gel, são itens de consenso. O problema será o distanciamento social.
Rodízio
No Colégio Equipe, em Higienópolis, região central paulistana, os mais de 600 alunos deverão viver um rodízio de uma turma por vez, por dia e por período na escola. “Na segunda-feira, teremos aulas apenas para os alunos do 1.º do ensino médio, por exemplo. Esses alunos, da mesma turma, serão distribuídos em várias salas”, diz a diretora Luciana Fevorini.
O mesmo rodízio deve ocorrer com os 814 alunos do Colégio Gracinha, no Itaim-Bibi, na zona oeste de São Paulo. “Será muito difícil que a gente retorne com todos de uma vez. Concordamos que o retorno deve ser gradual, por partes, com poucos alunos”, avalia Wagner Cafagni Borja, diretor geral.
Eliana Rahmilevitz, diretora pedagógica da Stance Dual School, escola bilíngue na Bela Vista, região central da cidade, mostra preocupação com o lado emocional dos quase 500 alunos e suas famílias. “Queremos ouvir o que eles têm a dizer nas aulas de teatro, música e artes.”
O documento divulgado pelo Consed faz recomendações sobre “como” as escolas devem proceder, mas não faz referência ao “quando”. Ainda não há previsão de reabertura das escolas para aulas presenciais.
Benjamim Ribeiro da Silva, presidente do Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino de São Paulo, aposta no mês de agosto como a possível retomada de todas as escolas, privadas e públicas. Os colégios particulares de São Paulo preparam protocolo próprio, já apresentado ao governo estadual, mas ainda não obtiveram retorno.
Uma das preocupações dos autores do estudo é com o financiamento das ações na esfera pública. “Os cuidados de prevenção vão criar custos extras. Não temos margem para tantos investimentos. É preocupante”, diz Claudio Furtado, secretário de Educação da Paraíba e também coordenador do estudo do Consed. Ele diz que não houve participação do Ministério da Educação (MEC). “Por isso, o protocolo é importante como ação unificada de Estados e Distrito Federal.” Procurado, o MEC não se manifestou.
Plano esbarra em falta de recursos
Especialistas ouvidos pelo Estadão apontam desafios para a implementação do plano, tanto em relação à disponibilidade de profissionais e recursos quanto à diversidade das redes de ensino pelo País.
Silvia Colello, professora de pós-graduação da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), afirma que algumas medidas estão distantes da realidade escolar. “Temos propostas sobre contratação de mais servidores e formação dos professores. Outra cita ampliação das aulas em horários alternativos. Mas as escolas já funcionam em três turnos e os professores trabalham em diferentes instituições”, argumenta. “Há boa intenção. Mas é preciso tomar cuidado entre boas intenções e um discurso prescritivo sem a efetivação das medidas.”
O professor Wagner Cafagni Borja, diretor geral do colégio Gracinha, no Itaim-Bibi, zona oeste, classifica o documento como “embasado e que alinha medidas bastante razoáveis do ponto de vista sanitário, ainda que apresentem grande dificuldade de implementação, e do ponto de vista pedagógico”.
O documento foi criado pela Frente Protocolo de Retomada, que reúne técnicos das secretarias estaduais de Educação e do Distrito Federal, a partir da experiência de outros países que já retomaram as aulas, como a França, organismos internacionais, entre eles a Unesco, e de protocolos de Estados que já se adiantaram nesse quesito. O Sebrae foi parceiro técnico.
Método
Luiz Miguel Martins Garcia, presidente da União dos Dirigentes Municipais de Educação de São Paulo (Undime), afirma que o documento não contempla as necessidades dos municípios. “Não basta dizer o que fazer. Também temos de dizer ‘como’ fazer”, diz.
“O documento traz a leitura e o olhar das redes estaduais. Ele olha para o atacado, como um todo. O Estado de São Paulo, por exemplo, tem 645 municípios. Cada um tem uma realidade diferente entre si”, avalia o presidente da Undime, que pretende lançar o seu próprio protocolo de diretrizes para retomada das escolas na próxima sexta-feira.
A
semana de 22 a 26 de junho será dedicada para que a todos conheçam o material.
Neste período, pais e responsáveis, estudantes, professores poderão
estudar o PET 2 e se organizar para o início do novo ciclo no dia 29 de junho.
Os
Planos de Estudos Tutorados-PET, são apostilas para que os alunos e os professores
trabalhem os conteúdos curriculares ao longo do período de isolamento social.
Veja o que estudar, e utilize seu livro didático. Não deixe de fazer as
atividades. E sempre mantenha contato
com seu professor.
Um garoto de apenas 13 anos, chamado Willian, passa seus dias sentado em um banco de uma praça de Hidrolândia, cidade a cerca de 30 km de Goiânia, em Goiás. Quem vê acha até que é uma cena rotineira. Mas não: o garoto permanece no local apenas para conseguir o acesso à rede Wi-Fi do açougue em frente e, com isso, estudar neste período de pandemia.
Willian está no oitavo ano do ensino fundamental e, neste período de quarentena para combater o novo coronavírus, as aulas só acontecem à distância. O garoto é de família humilde, que não possui condições de manter internet nem mesmo de comprar um aparelho celular. No entanto, o menino não pensou em reclamar ou desistir dos estudos, mas lutou para seguir em frente.
O garoto cata latinhas e as vende para realizar os seus sonhos. Ele conseguiu comprar um celular e contou com a ajuda do dono do açougue, que gentilmente liberou a senha do Wi-Fi. Agora, Willian continua, dando exemplo de dedicação e acreditando que um futuro melhor é possível através dos estudos e da educação.
Por melhor que seja o ensino à distância, porZoom,Teams,Meet,Moodle, etc., não deixa de ser umensaiocurto doensinopresencial. A razão é simples. Tão ou mais importante que a aprendizagem formal, de conteúdos programáticos e avaliações, é a aprendizagem informal que acompanha aquela e só possível numapresença de corpo e alma.
A decisão de continuar com o ensino à distância ou a retomada do ensino presencial deve ter também em conta a dimensão do que se perde mantendo docentes e alunos em casa. Mesmo na aprendizagemformal há uma enorme diferença entre os dois tipos de ensino. As matérias podem continuar a ser lecionadas e sumariadas, mas a recepção e assimilação é radicalmente diferente se feita num ambientecaseiro ou se num ambiente feito propositadamente para favorecer a melhor percepção do que se ensina. Desde logo porque a predisposição é diferente. Os tempos e espaços em que dividimos a vida quotidiana precisam de fronteiras claras. Logo em casa diferenciamos os espaços conforme as finalidades; um quarto para dormir, uma sala para estar, uma cozinha para cozinhar, uma casa de banho para lavar-se, etc. A multiplicidade e diversidade da vida impõem essas diferenciações do espaço doméstico. O mesmo vale para as interaçõessociais; fábricas e escritórios para trabalhar, mercados e lojas para comprar, teatros e cinemas para o lazer, igrejas para rezar, escolas para aprender. Quando nos movimentamos de um para outro lado, fazemo-lo no tempo, com horários que circunscrevem as respectivas ações. Para que possamos dedicar-nos verdadeiramente a algo, precisamos de espaços e tempos dedicados.
Dentro de uma sala de aula, frente a um professor, o aluno encontra-se num ambiente de aprendizagem. Muito diferente do que ocorre em casa, agarrado a um tablet ou frente a um computador, em que a voz e a imagem do professor chegam como muitas outras vozes e imagens, vindas dos mesmos dispositivos eletrônicos. Na sala de aula não são apenas os olhos e os ouvidos do aluno que aprendem, é todo o corpo e alma numa osmose total.
Nunca será de mais realçar o carácter osmótico da aprendizagem escolar. A envolvência imersiva da vivência escolar faz toda a diferença. Estar dentro de uma sala de aula à hora certa para ter uma lição é já meio caminho andado num processo de aprendizagem. Algo semelhante ao que acontece numa sala de cinema, quando as luzes se apagam, se pede silêncio aos espectadores e toda a atenção se concentra no ecrã. O filme, esse pode ser visto em casa, numa televisão, num tablet ou mesmo num smartphone, mas ninguém confundirá a vivência de uma ida ao cinema com o visionamento do mesmo filme num dispositivo doméstico. Quem se desloca a uma sala de cinema e paga o bilhete faz todo um percurso de preparação para o visionamento, e o mesmo se passa com os jovens que saem de casa e vão à escola para aprender. Saem de um ambiente para entrar num novo ambiente, fazem uma mudança de agulhas, assumem uma nova atitude. No ensino presencial temos um ambiente propício à concentração dos alunos (e dos professores!), no ensino à distância temos um ambiente propício à dispersão.
Se no âmbito da aprendizagem formal já há uma perda enorme do ensino presencial para o ensino à distância, então nas aprendizagensinformais temos uma perda total. E se são importantes essas aprendizagens informais! Com efeito, não basta o quê, o que se ensina, mas o como, a forma como se ensina. Mais do que as matérias que ensinam são os professores, a sua personalidade própria com características especiais e únicas, que marcam os alunos. São deles que os alunos se lembrarão para o resto das suas vidas, esquecendo a maior parte das vezes o que ensinaram. Mas esta é uma aprendizagem osmótica, obtida inconscientemente, tal como o ar que se respira. E o mesmo se diga da convivência com os colegas. Entrelaçadas com a aprendizagem formal de determinada matéria estão as relações interpessoais dos alunos com o professor e com os colegas. Empatia, simpatia, antipatia, entreajuda, concorrência, atração, amizades, inimizades, conflitos e sua resolução, são elementos constituintes das aprendizagens informais que a escola fornece, e que só podem ser dadas numa convivência presencial.
Ao fim e ao cabo, são as aprendizagensinformais que distinguem as escolas umas das outras. O currículo pode ser idêntico, e é-o normalmente, mas é o ambiente de cada escola que a singulariza e a destaca, seja para cima ou para baixo. A apreensão do currículo, dos conteúdos lectivos, pelos alunos é determinada, em grande medida, pelo ambiente que se respira em cada escola. Numa boa escola os alunos movem-se como peixes num aquário feito à medida. Numa má escola, movem-se num aquário, é certo, mas a oxigenação da água é má. Fora da escola, são como peixes fora do aquário, sem água para respirar.
O ensino online é, sem dúvida, um complemento importante à escola nos tempos que correm, tal como o acesso a bibliotecas, mesmo que itinerantes, era um excelente complemento há quarenta ou cinquenta anos. Complementos da formaçãoescolar houve-os sempre e a sua importância não é de escamotear. Mas crer que possam alguma vez substituir um professor de carne e osso no ensino é simplesmente tomar a nuvem por Juno.
AntónioFidalgo, reitor da Universidade da Beira Interior, Portugal, e destacado pesquisador na área das Ciências da Comunicação, em artigo publicado por Observador, 14-05-2020.