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sábado, 21 de dezembro de 2019

COLAPSO FLORESTA É USINA DE ÁGUA - Cientistas alertam que Amazônia já dá sinais de transformação da floresta em campos - reportagem do jornal O Globo de 21-12-2019

COLAPSO FLORESTA É USINA DE ÁGUA
Cientistas alertam que Amazônia já dá sinais de transformação da floresta em campos

A nuvem negra que fez do dia noite em São Paulo, em 19 de agosto, chamou a atenção do mundo para as queimadas na Amazônia, cujas cinzas cobriram o céu da metrópole. Mas, em pleno bioma, há sinais mais evidentes da gravidade da situação. A Floresta Amazônica já apresenta sintomas de que caminha para o colapso, alerta o editorial assinado pelo climatologista Carlos Nobre e pelo biólogo americano Thomas Lovejoy e publicado na “Science Advances”, respeitado periódico científico. Há marcas claras de que estamos mais próximos do chamado ponto de inflexão, a transformação da floresta tropical em savana, com consequências para o clima do continente. Um risco identificado pelo próprio Nobre em 1990, em estudos pioneiros, e previsto para acontecer por volt ade 2050, se as mudanças climáticas não fossem combatidas. Nobre destaca que a transição para a savanização — a substituição da floresta por campos — mostra estar em curso no norte do Mato Grosso e no sul do Pará, com a estação seca mais prolongada e quente. A previsão era de que a savanização poderia ocorrer em meados deste século. Ane Alencar, do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), diz que diferenças de até 13°C entre a temperatura de áreas desmatadas e remanescentes de floresta são claras nas cabeceiras do Xingu, no Mato Grosso.

O desmatamento, do qual as queimadas são o sinal mais evidente, tem acelerado o processo ao substituir a cobertura de árvores por pastagens, plantações sema mesma capacidade de retenção de umidade ou áreas devastadas e abandonadas. Ane explica que, sema floresta,não há ciclagem de água, poisa u mi da deéba ixa em grandes áreas desmatadas. — Temos visto os sinais se intensificarem acada ano.

Cresceu a mortalidade de árvores nativas da úmida Amazônia. A floresta morre e o clima sofre —destaca Nobre. No editorial, Nobre e Lovejoy frisam que as secas sem precedentes de 2005, 2010 e 2015/16 mostram que o ponto de inflexão “está aqui, é agora” e que a floresta precisa ser restaurada para “recuperar seu ciclo hidrológico e continuar a servir como motor do clima continental e parte essencial do ciclo de carbono”. O texto chega no fim de um ano em que o desmatamento da Amazônia subiu 29,5%, o maior aumento em duas décadas. A floresta ajuda a regular a chuva em escala local e em todo o continente. É ela que proporciona condições favoráveis à agricultura na América do Sul, à exceção do Chile. A cada dia, a transpiração das árvores leva 22 bilhões de toneladas de água do solo da floresta para a atmosfera. Cerca de 50% das chuvas têm origem na transpiração da própria floresta.

O vapor d’água transportado pelos ventos da Amazônia — os chamados rios voadores — é crucial para o abastecimento de água do sudeste da América do Sul. Um estudo apresentado no Sínodo para a Amazônia, no Vaticano, neste ano, mostrou que cerca de 70% do PIB do continente deriva da zona de influência da chuva produzida pela floresta.

ESTIAGEM PROLONGADA

A Floresta Amazônica devolve para a atmosfera, que redistribui pelo continente, pelo menos 75% da umidade que recebe das chuvas. Porém, quando uma área é desmatada, 50% da água é perdida no solo e não volta à atmosfera, diz o editorial. Dados indicam que a estação seca em 50% da Bacia Amazônica já se prolonga por algumas semanas, principalmente em áreas desmatadas. “O quanto a floresta ainda suportará até se converter numa savana tropical?”, questionam os autores. Segundo Nobre, parte da floresta, principalmente as regiões afetadas por grandes incêndios florestais, provavelmente já mudaram para um sistema diferente, que levará décadas ou séculos para se recuperar. O editorial afirma que o desmatamento levará ao aparecimento de savanas principalmente no leste e no sul da Amazônia, com possibilidade de se estender para áreas a sudoeste e ao centro, “porque essas zonas estão naturalmente perto do mínimo necessário de chuva para a floresta se manter”. Os cientistas advertem ainda que a área desmatada já é significativa e “assustadora”: 17% da Bacia Amazônica e cerca de 20% da Amazônia brasileira. Nobre e Lovejoy afirmam, todavia, que é possível evitar o desastre por meio de projetos ambiciosos de restauração, “particularmente nas regiões desmatadas e que hoje são pastagens e área de plantações abandonadas”. Elas representam 23% da área desflorestada.

CHANCE DE RECUPERAÇÃO

“Essas áreas, largadas à própria sorte, são provavelmente a principal razão por que a Amazônia já não virou uma savana em expansão”. Os cientistas destacam que as áreas mais críticas para o reflorestamento são o sul e o leste do bioma. Lembram que um projeto nessa linha poderia ser parte das metas assumidas no Acordo de Paris. Eles salientam que práticas econômicas de visão de curto prazo, como as monoculturas de soja, cana de açúcar e criação extensiva de gado, deveriam ser substituídas pela bioeconomia, baseada na floresta em pé e na biodiversidade. “O povo e os líderes dos países amazônicos têm o poder, a ciência e os instrumentos para evitar um desastre de escala continental. Juntos, podemos mudar a direção a favor de uma Amazônia sustentável.”

sábado, 7 de dezembro de 2019

Na COP-25, país está na contramão POR MÍRIAM LEITÃO07/12/2019 04:30


COLUNA NO GLOBO - Na COP-25, país está na contramão
POR MÍRIAM LEITÃO  07/12/2019 04:30

O Brasil chega na COP-25 numa situação muito ruim, abandonando o protagonismo que sempre teve e praticamente fora do Acordo de Paris, pelo menos longe dos compromissos que o país mesmo havia assumido. É o que pensam o pesquisador Paulo Barreto, do Imazon, e o cientista Ricardo Galvão, ex-diretor do Inpe. A vasta experiência do país em monitoramento e combate ao desmatamento poderia nos levar a ser exemplo nessas reuniões, mas o atual governo optou pelo isolamento e o retrocesso e isso fica claro na mais importante reunião climática anual.

O Brasil sediaria a Conferência das Partes da Convenção da ONU sobre Mudanças Climáticas. Recusou a escolha e passou o ano inteiro produzindo um volume extravagante de más notícias na área ambiental. Mesmo agora, durante a reunião, elas não param. O presidente Bolsonaro anunciou a intenção de liberar a exportação de madeira in natura e prepara para terça-feira o lançamento de uma MP da regularização fundiária que tinha, em uma primeira versão, a ideia de que bastava a autodeclaração para se regularizar a terra. Um convite escancarado à grilagem. Mesmo sem isso, a MP será mais flexível do que a legislação atual.

— A regra que já existe é muito leniente com quem invade a terra pública. Dá um prazo para a pessoa regularizar e ainda dá um desconto. Imagina se piratas se instalassem em áreas do pré-sal e o governo dissesse: já que você ocupou, vou vendê-la para você com desconto. Isso não aconteceria porque a Marinha expulsaria os piratas. Na Amazônia estamos fazendo o contrário, estamos dando desconto para quem ocupou ilegalmente — disse Paulo Barreto.

E agora será feita outra MP com ainda mais vantagens. Será um novo estímulo ao desmatamento. Entrevistei Paulo Barreto e Ricardo Galvão na Globonews. Galvão lamentou que o Brasil esteja na situação em que está:

— O Brasil sempre teve protagonismo na área ambiental, desde a Rio-92. O trabalho do professor José Goldemberg é reconhecido no mundo inteiro. O monitoramento do desmatamento da Amazônia é considerado a melhor série temporal de controle de desmatamento em florestas tropicais. Tudo isso está sendo jogado na lata de lixo. Inclusive essa ideia de exportação de madeira in natura e a de legalizar plantação de cana-de-açúcar no Pantanal e na Amazônia. Vários cientistas já mostraram que isso está errado.

No gráfico com o histórico do desmatamento, os dois mostraram que políticas públicas podem estimular ou conter a destruição da floresta. Os picos de desmate tanto do governo Fernando Henrique, quanto no governo Lula, foram revertidos com repressão ao crime. FHC elevou o tamanho da reserva legal e aprovou a lei de crimes ambientais. Lula, através da ministra Marina Silva, comandou uma série de ações de ataque ao crime, e encomendou o serviço de alerta de desmatamento, o Deter, que foi um auxiliar importante. O desmatamento caiu 83% de 2004 a 2012. No atual governo, o alerta foi desacreditado e o diretor do Inpe, exonerado. No final, confirmou-se o aumento grande de desmatamento. E infelizmente isso deve continuar.

—O que nós vimos, pelos dados do Inpe, é que o desmatamento continua muito forte —diz Galvão.

—Você trabalha cobrindo economia. Nela, tudo depende das expectativas. É a mesma coisa na Amazônia. A expectativa é de que podem cometer crime que não serão punidos —diz Barreto.

Em um dos gráficos levados ao programa, Paulo Barreto mostrou que de 2005 até 2013 houve uma queda forte de desmatamento, mas ao mesmo tempo um aumento do valor da produção agrícola. Ou seja, o PIB agropecuário da Amazônia cresceu mesmo com o desmatamento em queda. Isso derruba a tese do atual governo de que a preservação impede o desenvolvimento econômico. Os números provam o oposto. Mas este governo está em conflito com os dados e os fatos.