Bullying

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quinta-feira, 13 de julho de 2023

Segurança nas escolas

Em determinados momentos, atuação policial pode ser necessária. Mas a saída está, principalmente, na pedagogia, em seu mais amplo sentido.

Voar é seguro. Mas, quando um avião cai, automaticamente mobilizamos nossos melhores esforços para entender as causas do acidente. Passado o luto, o objetivo principal das investigações é, mais do que achar culpados, propor aperfeiçoamentos ou novas soluções para diminuir as chances de isso ocorrer novamente. Essa postura é importante para renovar a confiança dos usuários de transporte aéreo no sistema.

Diariamente, 47 milhões de alunos se encontram com dois milhões de professores em 180 mil escolas no país. Em geral, todos chegam e saem com segurança, estabelecendo relações que, em sua imensa maioria, são harmoniosas. No entanto, quando ocorre um fato tão chocante quanto um assassinato cometido por um estudante contra professores ou colegas, não há como minimizar. Tal como acontece com acidentes aéreos, além da comoção, é importante canalizarmos esforços para entender as causas e propor soluções.

Um dos primeiros passos é monitorar a frequência desses episódios. Um caso isolado que resulte em morte no ambiente escolar, por si só, já é preocupante. Porém, se isso começa a se tornar mais frequente, as atenções precisam ser redobradas. No atual contexto, por exemplo, não há como ignorar como uma das múltiplas causas desse fenômeno a ascensão do discurso de ódio de extrema direita, conforme destacado em relatório feito pelo grupo de transição de governo na educação.

Por ser também um fenômeno além dos muros da escola, é importante que toda a sociedade reveja práticas que, involuntariamente, podem contribuir para a repetição desses casos. Veículos de comunicação, por exemplo, têm muito a refletir, pois um dos aspectos citados por especialistas como indutor desses episódios é a espetacularização da tragédia, com foco exagerado em detalhes sobre a vida e a motivação dos agressores. Pode-se argumentar que isso vai contra a natureza do jornalismo de noticiar os fatos relevantes, mas a postura não seria inédita. Por exemplo, redações costumam ter orientações sobre como agir em casos de suicídio e sequestro, colocando o interesse público acima do interesse do público. Num mundo em que jovens se informam principalmente por redes sociais, essas plataformas também precisam assumir sua responsabilidade, por lei ou iniciativa própria.

Outro cuidado é evitar soluções simples para assuntos complexos. A primeira reação de parte da sociedade quando ocorre um caso desse é clamar por mais policiais ou detectores de metais em escolas. Se essas medidas fossem ao menos eficazes, até poderíamos debater se os benefícios compensariam seus custos e efeitos colaterais. No entanto, revisões de estudos feitos nos Estados Unidos – país que já vivencia essa onda há mais tempo – mostram que elas não diminuem a chance de ocorrência desses episódios.

Muito já foi falado esses dias por especialistas sobre as ações mais eficazes, que focam na atenção ao bullying e à saúde mental, e na criação de um clima escolar em que todos se sintam à vontade para relatar situações que possam resultar em violência, de modo a preveni-las antes que aconteçam. Em determinados momentos ou contextos, pode também ser necessária a atuação de forças policiais. Mas a saída está, principalmente, na pedagogia, em seu mais amplo sentido.