Diagnósticos psiquiátricos sempre ajudam as escolas a entender os adolescentes e jovens. As vezes a situação indica a necessidade de medicamento. Adolescentes e jovens são tratadas com remédios que visam a extinção de um comportamento inadequado ou uma melhor performance na aprendizagem. O quadro clínico que surge nas salas de aula é o transtorno opositor desafiador (TOD), também conhecido como transtorno de oposição. Adolescentes e jovens anteriormente tidos como hostis, desobedientes ou simplesmente mal-educados passam a ser vistos como portadores de um distúrbio mental.
Segundo a psiquiatra Maria Antonia Serra-Pinheiro, o TOD é “um transtorno disruptivo, caracterizado por um padrão global de desobediência, desafio e comportamento hostil. O jovem discute excessivamente com adultos, não aceita responsabilidade por sua má conduta, incomoda deliberadamente os demais, possui dificuldade de aceitar regras e perde facilmente o controle se as coisas não seguem da forma como deseja”. O sistema diagnóstico DSM-IV define o TOD como um modelo de comportamento que inclui, por pelo menos seis meses, quatro entre estes critérios: “Perder a calma, discutir com adultos, negar-se a obedecer aos pedidos ou regras dos adultos, fazer coisas que incomodem, gratuitamente, os outros, culpar os outros por seus erros ou comportamentos inadequados, ser suscetível à irritação, ficar enraivecido e ressentido, e ser rancoroso e vingativo”.
O tratamento normalmente sugerido é terapia familiar que visa alterar as atitudes do adolescente por meio da modificação da maneira como os pais lidam com ele. A isso são aliadas a terapia individual para o estudante e o uso de medicação. Mas, afinal, o que a escola pode fazer diante de um quadro como esse? Primeiro, é importante nos posicionarmos de uma forma sensata. Não somos onipotentes, não temos o poder de, sozinhos, solucionar os problemas desse aluno e de sua família, mas também não somos totalmente impotentes. Há algo que podemos e devemos fazer. Evidentemente, o comportamento desses adolescentes afeta a relação deles com colegas, professores e gestores. A escola precisa, então, cumprir a sua função educativa de oferecer parâmetros claros sobre o que é permitido nas relações sociais e o que não é tolerado. Nesse sentido, ela não pode ser permissiva, tem de ajudar os estudantes a compreender os princípios que orientam as regras e zelar pelo cumprimento delas. Aqueles que não seguirem tais preceitos devem ser responsabilizados por sua conduta com o coletivo.
Entretanto, se quiser colaborar com aquele que insiste em enfrentar as figuras de autoridade, a escola também precisa ter tato. Ela tem de fazer um filtro diante das atitudes dos alunos e definir quais delas serão objeto de intervenção. Os manuais americanos orientam os professores a desviar do aluno e não bater de frente, isto é, não valorizar o conflito criado por ele. A dica é, quando possível, ignorar o comportamento provocativo e oferecer uma nova oportunidade para o estudante ter uma projeção positiva no grupo. Outra orientação é valorizar as boas atitudes de quem costuma transgredir. Assim, ele se dá conta de que pode assumir outros papéis e que não precisa ficar aprisionado no lugar de adolescente-problema. Para alcançar esse objetivo, professores, orientadores e gestores precisam se aproximar desse aluno, conhecê-lo melhor, descobrir suas competências e seus centros de interesse, além de criar oportunidades para um relacionamento positivo dele com o conhecimento. Não há remédio que substitua uma convivência frutífera e solidária.