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quinta-feira, 23 de abril de 2020

Educação após a pandemia - O Globo 23 de Abril de 2020 - Roberto Lent Neurocientista, professor emérito da UFRJ e pesquisador do Instituto D’Or


A Covid-19 tem revelado pelo menos dois investimentos públicos de alta prioridade: a ciência e o SUS. Embora os hospitais privados estejam participando ativamente do esforço de controle da doença, é nos hospitais públicos que a coisa explode. Sua incapacidade de atender à demanda emergencial foi posta a nu e mostra a direção que o Brasil deve tomar após a pandemia: investir pesadamente para fortalecer o SUS.
Da mesma forma, o parque de ciência e tecnologia do país mostra nossa força e nossa fraqueza. Temos muito, mas ainda é pouco, e precisamos de mais. Mais ciência de qualidade em todas as universidades — públicas e privadas —e um complexo tecnológico-industrial independente. Ciência para saúde. A emergência global e a busca desesperada por terapias eficazes deixam à mostra a premência de termos uma ciência bem financiada e estruturada — da pesquisa básica ao desenvolvimento de tecnologias.
Mas há um terceiro componente que não podemos perder de vista, agora e após o fim da pandemia: a educação. Ela também é precária no Brasil, está sendo fortemente impactada pela crise e precisa muito da ciência. Ciência para educação. Que fazemos com as crianças, com as escolas fechadas? E o que faremos quando elas reabrirem? O ensino virtual é uma possibilidade, mas esbarra na desigualdade socioeconômica do país. Além disso, quem provou que é eficaz?
Um pequeno exemplo de trabalho recente é contundente no título: “A conectividade cerebral em crianças aumenta com o tempo de leitura de livros e decresce com a exposição a telas digitais”. Os autores recrutaram cerca de 20 crianças de 8 a 12 anos para um experimento em neurociência da leitura. Os pais responderam questionários para determinar os tempos de leitura de livros físicos e de exposição a mídias digitais de seus filhos.
E as crianças tiveram seus cérebros analisados por ressonância magnética funcional, para avaliar o grau de conectividade das áreas da leitura, tomando uma delas como “nó principal” das redes visuais, linguísticas e de controle executivo (como a atenção). Foi possível então avaliar se a conectividade dessas redes era maior ou menor nos dois grupos (leitores e “digitais”). Não deu outra: o tempo de leitura de livros correlacionava mais forte e positivamente do que o tempo de telinha com a conectividade dessas redes no hemisfério esquerdo do cérebro.
As implicações são óbvias: familiares e professores devem ler com as crianças, estimulá-las a folhear livros e limitar os tempos de tela em aplicativos não validados pela ciência, mesmo quando são ditos “educacionais”.
O mundo emergirá mudado ao fim da pandemia. Teremos mais relações à distância. Será o fim do abraço? Dos brasileiríssimos beijos no rosto? Será o fim do livro físico? Quais as implicações dessas possibilidades na conectividade cerebral da geração pós-pandemia, no seu desempenho educacional e sucesso escolar? A ciência para educação precisa ser um vetor de investimento para a emergência da crise, assim como está óbvio para a saúde.

Educação após a pandemia

Um componente que não podemos perder de vista, agora e após o fim da pandemia, é a educação. Ela também é precária no Brasil.

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