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segunda-feira, 13 de abril de 2020

No Jornal O Globo de hoje(13-04), O HORA DA CIÊNCIA está muito interessante, porque a microbiologista Natalia Pasternak, explica a diferença entre vírus e bactéria e de como tratar as bactérias é menos difícil do que os diversos tipos de vírus. Uma aula bacana.


Por que temos antibióticos eficientes para debelar infecções bacterianas, mas nenhum medicamento realmente bom para atacar vírus? Muita gente pode ter a impressão de que microrganismo é tudo a mesma coisa, mas a verdade, é que bactérias e vírus são muito diferentes.
Bactérias são seres vivos independentes, que se reproduzem por conta própria. Também têm estruturas internas que não diferem muito entre uma bactéria e outra —da mesma forma, digamos, que todos os mamíferos têm rins —o que permite que um mesmo remédio atinja um mesmo alvo e mate diferentes bactérias. Essas estruturas-alvo são exclusivas de bactéria. Isso quer dizer que os antibióticos apresentam toxicidade seletiva: não matam células humanas.
Vírus, por outro lado, são simples demais. Não passam de aglomerados de moléculas. Não conseguem se replicar sozinhos, dependem das estruturas e mecanismos das células hospedeiras para se reproduzir.
Isso nos deixa com poucos alvos para atacar vírus com medicação. Como eles basicamente sequestram o maquinário interno das células humanas, atacá-los quase sempre acaba envolvendo atacar estruturas da célula humana, o que pode fazer mal ao paciente. Vírus também são muito mais diferentes entre si do que bactérias. Os coronavírus, por exemplo, usam RNA como material genético. Outros usam DNA. Alguns se integram ao DNA da célula invadida, outros não, e assim por diante.
Geralmente, o que conseguimos são antivirais muito específicos para determinadas viroses. Isso não é muito atraente para a indústria, e complica a pesquisa.
E se resistência já é um problema para antibióticos, para vírus é pior ainda. A taxa de mutação destes organismos é alta, e não têm mecanismos de reparo de DNA — que nossas células usam para corrigir erros que poderiam dar origem a mutações. Assim, é comum encontrarmos vírus resistentes. Uma estratégia para isso é utilizar combinações de medicamentos, como é feito no coquetel anti-HIV.
Outro fator que dificulta a utilização de anti virais é a resposta imune do hospedeiro. Geralmente, quando o sistema imune mostra sinais de reação, a replicação do vírus já está bastante avançada. E a própria resposta imune pode causar uma inflamação difícil de reverter, que põe a vida do paciente em perigo. Isso acontece agora, com a Covid-19. Muitas vezes, neste ponto, a carga viral já está decaindo, e tomar um remédio que ataque o vírus já não ajuda. Um antiviral seria útil no início da infecção, mas como determinar o momento exato? Tratamentos antivirais precisam trazer um equilíbrio delicado entre  replicação do vírus, não intoxicar o paciente e modular a resposta imune.
Outro ponto. Como vírus só “vivem” quando infectam um hospedeiro, para estudá-los muitas vezes temos que desenvolver linhagens de células transgênicas suscetíveis, para cultivá-los em laboratório, ou animais geneticamente modificados.
Dadas todas essas dificuldades, o melhor que podemos fazer contra doenças virais é prevení-las —por meio de vacinas ou, quando não há vacina, por contenção do contágio via isolamento social.

Tratamentos precisam se equilibrar entre impedir a replicação do patógeno e não intoxicar o paciente

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