Febre de matemática
Nos últimos anos vem crescendo o caráter de urgência no que se refere ao aprendizado de matemática por parte dos estudantes da educação básica em nosso país. De cada 100 alunos que concluíam o ensino médio, apenas cinco aprendiam o que seria esperado pelo público de testes. Mundialmente, esse quadro foi destacado também em relatórios internacionais, como no Estudo Internacional de Tendências em Matemática e Ciências (TIMSS, na sigla em inglês). Nas últimas edições, o Brasil superou apenas países da África do Sul e do Marrocos.
Não à toa, em 2020 foi lançado um novo Plano Nacional de Educação (PNE) 2024-2034 que deve trazer de forma explícita objetivos e estratégias para reverter esse quadro. Nesse sentido, o Instituto Ayrton Senna (IAS) e o Interdisciplinary Evidence Based Education Discussion (Iede) elaboraram um documento propondo que o PNE valorize o ensino e a aprendizagem da matemática. Na versão que se encontra em discussão no Congresso Nacional, percebe-se uma total falta de ênfase ao desafio da educação básica.
O Ministério da Educação (MEC) reconhece esse caráter de urgência, pois sabe que isso traz impactos no desenvolvimento social e econômico – que se traduz, entre outros aspectos, na redução do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. Por isso, acaba de lançar o Compromisso Nacional da Matemática, em parceria com instituições e movimentos sociais que buscam promover um ensino de qualidade em todas as regiões do Brasil.
Para reforçar essa iniciativa, o país poderia se inspirar no modelo brasileiro de Olimpíadas de Matemática, em especial a Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP), coordenada pelo Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa). Trata-se de uma das maiores competições do mundo. Além disso, o trabalho desenvolvido pela Sociedade Brasileira de Matemática (SBM) ao longo de décadas é outro exemplo de mobilização que precisa ser ampliado.
O grande desafio, no entanto, continua sendo a formação dos professores. Sem mudanças significativas nesse campo, dificilmente conseguiremos avançar. Se não mudarmos principalmente a formação inicial, não vamos ter êxito, e isso passa também pelas nossas universidades. É preciso compreender que não basta dominar os conteúdos, mas é essencial saber como ensiná-los. Em outros países, isso se passa pela formação pedagógica dos docentes, que começa dentro da sala de aula.
Nesse sentido, foi muito importante a parceria estabelecida entre o MEC e a Associação Brasileira de Avaliação Educacional (ABAVE), idealizadora da Higher Education Learning Assessment (HELA), voltada à avaliação da aprendizagem inicial dos futuros professores.
No âmbito da educação básica, algumas iniciativas se destacam, como as Escolas em Tempo Integral, que já demonstraram impacto positivo no aprendizado de matemática, e projetos apoiados pelo Instituto Ayrton Senna e pela BB Seguros, entre outros.
Ainda assim, o Brasil precisa ir além. A Coreia do Sul, por exemplo, estabeleceu o slogan “Febre da Matemática” como parte de sua mobilização nacional. Outras nações seguiram o mesmo caminho.
O Brasil poderia fazer algo semelhante, mobilizando toda a sociedade em torno desse grande desafio da matemática em nosso país.
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