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sábado, 15 de novembro de 2025

Proclamaram a República, falta proclamar a Educação!

Proclamaram a República, falta proclamar a Educação!

Por Deodato Gomes Costa

Liberdade, liberdade, abre as asas sobre nós!” — difícil iniciar uma reflexão sobre a Proclamação da República sem recordar essa força poética que ecoa tanto no hino quanto no inesquecível samba-enredo da Imperatriz Leopoldinense, que embalou o centenário da República em 1989. Cada vez que leio ou escuto essas palavras, sinto que elas não pertencem apenas ao passado; elas conversam conosco, educadores, no presente, e apontam caminhos para o futuro.

A Proclamação da República, ocorrida em 15 de novembro de 1889, foi resultado de um acúmulo de tensões que marcaram profundamente o Brasil do final do século XIX: o desgaste político da monarquia, a crise com a Igreja, a ruptura com os militares e o impacto da abolição da escravidão sobre as elites agrárias. Tudo isso compôs o cenário de uma sociedade que já não cabia mais dentro do modelo imperial. Era necessária uma mudança — ainda que, paradoxalmente, essa mudança tenha ocorrido sem participação popular direta, como lembrou Aristides Lobo ao dizer que “o povo assistiu bestializado”.

Mesmo assim, a data marca simbolicamente o desejo de construir uma nação mais livre, racional, moderna e democrática. O hino da Proclamação revela esse anseio coletivo quando afirma:

“Seja um hino de glória que fale
De esperança de um novo porvir.”

O Brasil proclamava não apenas um novo sistema político, mas a esperança de uma vida social renovada. O país buscava romper com amarras — escravidão, autoritarismo, desigualdade de direitos — e apontar para um horizonte de liberdade.

E aqui faço a pergunta que me acompanha há anos — como educador, como gestor público, como cidadão:

Quando é que vamos proclamar a Educação no Brasil?

Proclamar a Educação é muito mais do que garantir vagas, prédios e calendários. É um ato político, ético e civilizatório.
Proclamar a Educação é:

  • garantir aprendizagem de qualidade para todos, e não para alguns;

  • formar o pensamento crítico, para que o aluno não seja espectador “bestializado” da própria história, mas autor dela;

  • oferecer condições reais de ascensão profissional, combatendo a desigualdade pela raiz;

  • romper com modelos ultrapassados, assim como a República rompeu com a monarquia;

  • libertar pela consciência, como Tiradentes, cujo “sangue vivo batizou o pavilhão”.

A República nasceu porque brasileiros de diferentes grupos — ainda que movidos por interesses variados — já não aceitavam um governo que não dialogava com a sociedade. E eu arrisco dizer: a Educação brasileira precisa do mesmo movimento de ruptura simbólica.

Precisamos proclamar:

  • uma escola que acolha;

  • uma gestão que escute;

  • um currículo que emancipe;

  • uma política pública que não abandone nenhuma criança no caminho;

  • uma prática pedagógica que faça da liberdade um verbo cotidiano.

O hino nos lembra:
“Somos todos iguais, ao futuro saberemos, unidos, levar.”

Mas só saberemos levar esse futuro se garantirmos às nossas crianças — todas elas — as asas da liberdade intelectual.

E o samba da Imperatriz completa, com a sabedoria do povo que canta para não deixar a história morrer:

“E que a voz da igualdade
Seja sempre a nossa voz.”

Que a República que celebramos hoje inspire, finalmente, a Proclamação da Educação que tanto esperamos.
Uma educação que não seja privilégio, mas direito.
Que não seja promessa, mas prática.
Que não seja retórica, mas transformação concreta.

Porque, se a República foi proclamada de cima para baixo,
a Educação só será proclamada de verdade de dentro para fora,
quando cada escola, cada professor, cada gestor, cada família e cada estudante compreenderem que a liberdade começa pela aprendizagem.

Viva a República, viva a educação pública e viva o Brasil que estamos construindo — com consciência, coragem e esperança.

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