Proclamaram a República, falta proclamar a Educação!
Por Deodato Gomes Costa
“Liberdade, liberdade, abre as asas sobre nós!” — difícil iniciar uma reflexão sobre a Proclamação da República sem recordar essa força poética que ecoa tanto no hino quanto no inesquecível samba-enredo da Imperatriz Leopoldinense, que embalou o centenário da República em 1989. Cada vez que leio ou escuto essas palavras, sinto que elas não pertencem apenas ao passado; elas conversam conosco, educadores, no presente, e apontam caminhos para o futuro.
A Proclamação da República, ocorrida em 15 de novembro de 1889, foi resultado de um acúmulo de tensões que marcaram profundamente o Brasil do final do século XIX: o desgaste político da monarquia, a crise com a Igreja, a ruptura com os militares e o impacto da abolição da escravidão sobre as elites agrárias. Tudo isso compôs o cenário de uma sociedade que já não cabia mais dentro do modelo imperial. Era necessária uma mudança — ainda que, paradoxalmente, essa mudança tenha ocorrido sem participação popular direta, como lembrou Aristides Lobo ao dizer que “o povo assistiu bestializado”.
Mesmo assim, a data marca simbolicamente o desejo de construir uma nação mais livre, racional, moderna e democrática. O hino da Proclamação revela esse anseio coletivo quando afirma:
O Brasil proclamava não apenas um novo sistema político, mas a esperança de uma vida social renovada. O país buscava romper com amarras — escravidão, autoritarismo, desigualdade de direitos — e apontar para um horizonte de liberdade.
E aqui faço a pergunta que me acompanha há anos — como educador, como gestor público, como cidadão:
Quando é que vamos proclamar a Educação no Brasil?
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garantir aprendizagem de qualidade para todos, e não para alguns;
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formar o pensamento crítico, para que o aluno não seja espectador “bestializado” da própria história, mas autor dela;
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oferecer condições reais de ascensão profissional, combatendo a desigualdade pela raiz;
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romper com modelos ultrapassados, assim como a República rompeu com a monarquia;
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libertar pela consciência, como Tiradentes, cujo “sangue vivo batizou o pavilhão”.
A República nasceu porque brasileiros de diferentes grupos — ainda que movidos por interesses variados — já não aceitavam um governo que não dialogava com a sociedade. E eu arrisco dizer: a Educação brasileira precisa do mesmo movimento de ruptura simbólica.
Precisamos proclamar:
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uma escola que acolha;
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uma gestão que escute;
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um currículo que emancipe;
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uma política pública que não abandone nenhuma criança no caminho;
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uma prática pedagógica que faça da liberdade um verbo cotidiano.
Mas só saberemos levar esse futuro se garantirmos às nossas crianças — todas elas — as asas da liberdade intelectual.
E o samba da Imperatriz completa, com a sabedoria do povo que canta para não deixar a história morrer:
Viva a República, viva a educação pública e viva o Brasil que estamos construindo — com consciência, coragem e esperança.

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