A Celebração da Missa, além de alimento para nossa espiritualidade, tem um cunho pedagógico. Na Missa fico atento a todos os movimentos da celebração, em busca de compreender esse dilema sob os quais vivemos: um mundo pleno de sentido para Deus e supercontraditorio para todos nós. A Celebração também é para nos ajudar a encontrar cognição para nossas mazelas humanas. Aprendemos muito em todos os momentos da liturgia. Quando muda o tempo litúrgico então, sempre tem ensinamentos. Hoje o Pe. Tiago (na Igreja Bom Jesus, frequento a Missa da manhã de domingo nesta Igreja) explicou que no tempo do Advento somos chamados a viver o mistério da espera e a preparação da vinda de Cristo. Na sua homilia, entre muitos pontos Pe. Tiago destacou:
"Neste tempo celebramos nas primeiras semanas a espiritualidade de espera da segunda vinda. Nas semanas mais próximas a preparação para as solenidades de sua primeira vinda, seu nascimento."
Da Liturgia da Palavra, entre vários pontos, duas imagens ficaram pra mim: as imagens do dilúvio e da imprevisibilidade da colheita. Elas ajudam a gente a entender o que significa o vigiar, proposto pelo Evangelho de Mateus. Vigiar, metaforicamente, é preparar a Arca, afim de garantir a salvação, é também acompanhar com atenção as incertezas das colheitas diante dos eventos inesperados. O Deus da vida, quer nos encontrar firmes em seus propósitos divinos e não surpreendidos diante de uma realidade de dor e morte, sob as quais já vivemos. Não se pode baixar a guarda, Deus quer da gente vigilância permanente.
O nosso tempo tem cara de morte sem ressurreição, mas como o Pe. Thiago enfatizou, podemos já agora viver os valores do Reino que ainda não se estabeleceu em nosso meio de forma definitiva. Esta antecipação é a forma de se estar vigilante e em observação aos sinais de vida anunciadores da chegada do Senhor.
Quando a gente fala de estar atento, lembramos também que não é se fechar ao nossos interesses, aspecto lembrado na homilia, ao contrário, carregar a esperança em Cristo, é conviver e estar com o outro, partilhando a veladura. Corremos o risco de nos fechar no medo e não sairmos do conforto da nossa bolha, desvalorizando a paixão pela vida, a fé em Jesus e a vida em comunidade. Fazer os enfrentamentos do dia a dia, com grande consciência de fé, e ir construindo a arca, é para esta missão que somos chamados, neste tempo de passagem do ano litúrgico. São frequentes os dilúvios e a possibilidade da perda iminente da colheita, é real. As ações devem ser rápidas, eficazes e silenciosas. Não dá para colher o que não plantamos nem consertar a Arca que ainda nem fizemos. Por isso mesmo a preocupação deve ser com o tempo presente, como Drumond testemunha tão bem, no poema Mãos Dadas:
"Não serei o poeta de um mundo caduco
Também não cantarei o mundo futuro
Estou preso à vida e olho meus companheiros
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças
Entre eles, considero a enorme realidade
O presente é tão grande, não nos afastemos
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas."
Jesus tem que ser vivido todos os dias, mesmo porque a todo zeptosegundo (menor parte do tempo) o Deus da vida nos surpreende com sua chegada em inesperados momentos.
O tempo que vivemos é rico e pleno de dádivas e por isso mesmo repleto de possibilidades. Conectar profundamente com nossa humanidade e com Deus é fundamental para viver o chamado a vigilância. Já viver aqui e agora a promessa de Deus prá gente. O alerta é que o Senhor da vida está sempre conosco e é preciso fazer a triagem do amor em meio ao caos.
Como é bacana viver esse tempo de advento em nossa família, todo ano fazemos a Novena de Natal em Família, oportunidade em que a família costa se junta para viver a comunhão de ser família e pra refletir tanta coisa bonita que tem o natal.
Jesus vem, nasce, encarna mas no fundo cabe mesmo é a a cada um nós acolhê-lo não apenas com palavras, mas principalmente com gestos concretos.
Por Deodato Gomes
2 comentários:
Excelente explicação estar atentos e vigilantes.
Que lindo Deodato. Nos esclareceu mais ainda.
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