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quinta-feira, 15 de junho de 2023

Percepções divergentes: a complexidade do diálogo entre visões de mundo!

Deputada Carol de Toni e o Professor da UNB José Júnior

“Em respeito à deputada, porque na verdade ela não me fez pergunta nenhuma, né? Eu só queria dizer assim... Octavio Paz, em ‘O Labirinto da Solidão’, diz que quando (Cristóvão) Colombo chegou, (os indígenas) não viram as caravelas... Elas estavam ali fundeadas, mas não havia cognição para poder representar cerebralmente uma imagem que era absolutamente incompatível com o quadro mental de uma cultura que não tinha elementos para visualizar... Por isso que os gregos diziam que ‘teoria’ significa ‘aquele que vê’, o ‘teores’, é ‘aquele que vê’... A gente só vê o que tem cognição pra ver... Eu não tenho como discutir com a deputada porque a sua visão de mundo, a sua percepção como cosmovisão, só lhe permite enxergar o que a senhora já tem escrito na sua cognição... Então a senhora vai ver não é o que existe, mas é o que a senhora recorta da realidade... A realidade é recortada por um processo cognitivo de historicização... Então, eu não posso discutir um tema que contrapõe visão de mundo, concepção de mundo, entendeu?”

Análise das colocações do Professor José Júnior à Deputada Carol de Toni.

Essa fala apresenta uma análise sobre a impossibilidade de diálogo devido a diferenças na percepção de mundo entre o Professor José Júnior e a deputada mencionada. O Professor começa afirmando que a deputada não lhe fez uma pergunta, indicando que sua intenção é fornecer uma explicação ou esclarecimento.

Em seguida, é feita uma referência ao autor Octavio Paz e seu livro "O Labirinto da Solidão", em que se menciona a chegada de Cristóvão Colombo e a dificuldade dos indígenas em compreender as caravelas por falta de elementos culturais e cognitivos para visualizá-las. Essa citação serve como base para a afirmação de que só se pode ver aquilo para o qual temos cognição, ou seja, nossa percepção é moldada pelos conhecimentos e referências que possuímos.

O Professor argumenta que a visão de mundo e a cosmovisão da deputada limitam sua capacidade de enxergar além do que já está registrado em sua cognição. Segundo ele, a deputada só é capaz de perceber e compreender aquilo que está dentro dos limites de sua própria visão de mundo. Ele utiliza o termo "recortar" para descrever a forma como cada indivíduo seleciona e interpreta a realidade com base em suas experiências e referências históricas.

Por fim, o professor conclui que é impossível discutir um tema quando há uma contraposição entre visões de mundo e concepções de mundo, indicando que uma diferença fundamental de percepção torna o diálogo infrutífero ou sem perspectivas de entendimento mútuo.

Essa análise destaca a importância da cognição, dos conhecimentos e das experiências individuais na formação de perspectivas e visões de mundo, e como essas diferenças podem criar barreiras para o diálogo e a compreensão mútua.

14 comentários:

JOÃO FERNANDO CUNHA DA CUNHA disse...

Na verdade, esse professor esquivou-se da pergunta.
Se a visão do mundo da deputada é tão diferente da sua, porque não apresentou a dele?
É muito fácil, retóricamente esquivar-se de um tema, sob a alegação de que o interlocutor não tem cognição para entender e assimilar a realidade factual que se apresenta para discussão.
O simples fato de termos visões diferentes do mundo( cosmovisão, para esse professor), não explica a negativa de responder uma pergunta.
Dê a sua opinião; diga e esclareça qual a sua visão do mundo para que os outros saibam e entendam a manifestação de seu pensamento sobre o tema em debate. Essa técnica de FUGIR DO DEBATE, chama-se eurística e foi bem descrita por Nietsche em seu conhecido livro: COMO VENCER UM DEBATE MESMO SEM TER RAZÃO.

Deodato Gomes Costa disse...

Caro João Fernando Cunha,

Entendo sua perspectiva sobre a resposta dada pelo Professor José Júnior à deputada Carol de Toni. No entanto, acredito que sua avaliação pode ser um tanto simplista e, possivelmente, mal interpretada.

O Professor José Júnior não parece estar fugindo do debate, mas sim explorando a ideia de que a compreensão de um assunto está profundamente ligada à nossa visão de mundo e ao quadro mental que construímos ao longo da vida. Ele está tocando em um ponto crucial: quando duas pessoas têm cosmovisões muito diferentes, a comunicação pode se tornar desafiadora, uma vez que a base de entendimento é distinta.

Ao citar Octavio Paz e referências históricas, o professor está tentando explicar que, às vezes, a incompatibilidade de perspectivas é tão profunda que responder diretamente a uma pergunta pode ser complicado, pois as premissas subjacentes são divergentes. Nesse sentido, ele não está apenas evitando o debate, mas sim abordando a complexidade de comunicar entre visões de mundo distintas.

No tocante à sugestão de que o professor exponha sua própria visão de mundo, vale lembrar que ele estava respondendo a uma pergunta específica da deputada. Portanto, é compreensível que ele tenha focado na questão dela e no contexto que ele enxerga como relevante.

Não acredito que essa seja uma técnica de fuga do debate, como você mencionou. Em vez disso, é um reconhecimento das complexidades inerentes a comunicar ideias entre diferentes cosmovisões. Entender e apreciar essas complexidades é um passo importante para um diálogo construtivo e frutífero, mesmo quando as perspectivas são profundamente divergentes.

Vamos lembrar que debates significativos frequentemente envolvem uma busca por compreensão mútua, mais do que simplesmente vencer argumentos. Portanto, a crítica ao Professor José Júnior talvez mereça uma análise mais abrangente e sensível.

Anônimo disse...

Deodato, pode indicar em que capítulo do livro Nos Labirintos da Solidao está esta afirmativa de Octavio Paz sobre os índios não terem visto as caravelas?

Pollianna disse...

Penso que é importante, sempre que houver recortes de fala, analisar o contexto. Essa fala está relacionada à CPI - Movimento dos Trabalhadores sem Terra (MST) - Reforma Agrária. Alguém buscou assistir ao vídeo completo? O professor explica seu ponto de vista muito bem e com argumentos embasados. Que os números ocultam uma série de fatores que devem ser levados em consideração. A economia não produz indicadores financeiros para medir o desenvolvimento humano. É preciso reconhecer a dignidade do direito - moradia e trabalho. Eles estavam querendo mostrar através dados numéricos em que expressam que os subsídios fornecidos pelo Estado não compensavam o processo produtivo de retorno. O professor falou de outros pontos que levam muito gastos e não são evidenciados/questionados, que é importante levar em consideração, o que de fato deveria ser monitorado e avaliado dentro desse processo de Reforma Agrária e que não são...Devem ser trabalhadas políticas para superação da pobreza e isso está na constituição. Então acho que o início da fala sobre cosmovisão e que apresenta pontos de visão de mundo diferentes, condiz com o que ele falou e ao longo do discurso. De fato tem pontos de vistas diferentes, por enxergar o processo de civilização, questão de mundo diferentes.

Deodato Gomes Costa disse...

Olá João Fernando, nossa conversa cresceu. Vamos dialogando e aprendendo.
Penso que está correta sua afirmação de que não existe na obra de Paz uma citação direta, explicita, inclusive, agucei minha curiosidade e comecei a ler esta obra que confesso ainda não conhecia. Concordo plenamente com você "O Labirinto da Solidão" de Octavio Paz, repito, não contém uma citação direta sobre os índios não terem visto as caravelas quando Cristóvão Colombo chegou. No entanto, ao longo de seu livro, que agora estou lendo, como disse, Paz explora a profundidade do choque cultural e da dissonância entre os indígenas e os europeus e deixa essa ideia bastante clara. Quando a gente começa a leitura percebemos somos levados a interpretação das reflexões de Paz pode, que sugere implicitamente a ideia de que os indígenas poderiam sim ter tido dificuldade em compreender plenamente a chegada dos europeus, dadas as suas distintas perspectivas culturais e cosmogônicas. Assim, embora não se localiza de forma específica na obra tal afirmação, ou seja não esteja diretamente citada, a essência dessa ideia é derivada das reflexões de Paz neste e podemos perceber isto claramente, dependendo da nossa chave de leitura.

Deodato Gomes Costa disse...

Olá Pollianna, muitas informações você apresenta nesse seu posicionamento, no entanto eu entendo e valorizo a importância de considerar o contexto ao avaliar declarações e teorias, mas acredito que a verdadeira riqueza do diálogo reside na nossa capacidade de expandir nossas reflexões para além do contexto imediato em que as teorias são produzidas. Isso nos permite abordagens mais abrangentes e, frequentemente, insights mais profundos sobre os assuntos e problemas em discussão.

Anônimo disse...

Ela não fez uma pergunta.

Anônimo disse...

Concordo plenamente, aliás o professor explicou que outros antes da deputada, tinha visto até o sistema comunista nos acampamentos do MST.
Na minha visão é triste termos no atual congresso nacional, tão baixo nível dos nossos representantes.
Más é a vida, como diz um colega meu, é o que temos pra hoje.

Anônimo disse...

Não esqueçam que os índios mexicanos não conseguiram entender os cavaleiros espanhóis, os soldados espanhóis montados nos cavalos para eles eram um único animal uma espécie de Centauro.

Anônimo disse...

O professor apenas registrou não haver o que responder, ou seja, não se furtou a responder e demonstrou como a depurada não esrava apta a perguntar.

Anônimo disse...

Qual foi a pergunta da deputada?

Deodato Gomes Costa disse...

O contexto é de uma discussão sobre o problema da concentração de terra no Brasil na CPI do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra(MST). A deputada Carol de Toni afirmava que estava na CPI dos Sem Terra "para desmascarar os crimes e pra chegar não só à verdade dos fatos", e que "se é para dar terras para as pessoas, que elas mereçam efetivamente".

Anônimo disse...

A deputada não fez pergunta alguma

Emilio Mansur disse...

O prefessor se equivocou no nome do livro. Essa citação não está no "Labirinto da Solidão"