Fernando Pessoa, um dos maiores poetas da língua portuguesa, é conhecido pela sua capacidade de explorar as profundezas da alma humana. Em "Sou um evadido", ele nos apresenta uma reflexão intensa sobre a identidade, a liberdade e a essência do ser.
O poema começa com uma declaração de fuga: "Sou um evadido". Esta repetição enfatiza a ideia de escapar ou fugir, mas Pessoa não está falando de uma fuga física. Ele está se referindo a uma fuga de si mesmo, de sua própria identidade. "Fecharam-me em mim" sugere uma prisão interna, uma luta contra as limitações do próprio eu.
A ideia de cansaço "Se a gente se cansa / Do mesmo lugar, / Do mesmo ser / Por que não se cansar?" reflete um desejo de mudança, de não estar preso a uma única identidade ou realidade. Pessoa questiona a monotonia da existência constante e inalterada.
A linha "Minha alma procura-me / Mas eu ando a monte" é particularmente intrigante. Aqui, Pessoa pode estar sugerindo que sua verdadeira essência, ou alma, está tentando se reconectar com ele, mas ele intencionalmente se mantém inacessível. Esta é uma poderosa expressão da dualidade interna e do conflito entre o eu interior e o eu exterior.
O poema termina com "Ser um é cadeia, / Ser eu não é ser. / Viverei fugindo / Mas vivo a valer." Pessoa reconhece que a conformidade e a aceitação de uma única identidade é uma forma de prisão. Ele escolhe, em vez disso, uma existência de constante mudança e fuga, que, embora incerta, é mais autêntica e 'vale a pena'.
Como professor de História, é fascinante conectar este poema com o contexto mais amplo da modernidade. Pessoa escreveu durante um período de grandes mudanças sociais, políticas e tecnológicas. Seu trabalho reflete as tensões e incertezas de um mundo em transformação. "Sou um evadido" pode ser visto como um comentário sobre a busca da modernidade por novas formas de identidade e liberdade, em contraste com as estruturas tradicionais e restritivas do passado.
Em resumo, "Sou um evadido" de Fernando Pessoa é um poema que fala profundamente sobre a busca humana por autenticidade e liberdade. Ele desafia o leitor a considerar as próprias prisões internas e a coragem necessária para 'fugir' em busca de um eu mais verdadeiro e livre.
Professor Deodato Gomes
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