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sábado, 26 de julho de 2025

A Escolástica: Razão a serviço da Fé e origem das Universidades.


"A fé e a razão são como duas asas pelas quais o espírito humano se eleva para a contemplação da verdade." Tomás de Aquino.

A Escolástica: Razão a serviço da Fé e origem das Universidades.

A Escolástica é um marco intelectual da Idade Média que uniu a razão filosófica herdada da Grécia clássica com os dogmas da fé cristã. Essa síntese foi possível graças ao ambiente cultural e político que se consolidou entre os séculos IX e XIII, sobretudo com o surgimento das universidades. Mas para entender esse cenário, voltemos um pouco no tempo.

1. Entre sombras e luzes: das trevas à retomada do saber

Com o colapso do Império Romano do Ocidente no século V, a Europa mergulhou em um período de instabilidade, guerras e miséria que comprometeram profundamente a vida intelectual. Os mosteiros beneditinos, contudo, foram os guardiões da sabedoria antiga, copiando e preservando manuscritos greco-romanos. Só por volta do século IX, sob o reinado de Carlos Magno, iniciou-se o chamado Renascimento Carolíngio, uma tentativa de reviver os valores clássicos, embora ainda totalmente subordinada ao cristianismo.

Mas foi apenas nos séculos XI e XII que se verificou um verdadeiro florescimento cultural: o surgimento de cidades, a reativação do comércio e a fundação de escolas catedrais e, posteriormente, universidades, permitiram o desenvolvimento de um novo espaço para o saber.

2. A missão das universidades e a razão em defesa da fé

As universidades, nascidas inicialmente com o objetivo de formar o clero e combater as heresias, passaram a ser centros de debate filosófico e teológico. A fé cristã, desafiada por correntes divergentes, precisava ser defendida não apenas com argumentos bíblicos, mas também com o uso da razão. Surgia então a Escolástica, um método que visava ordenar e conciliar a fé com a lógica aristotélica.

3. Santo Anselmo e o argumento ontológico

O primeiro grande escolástico foi Santo Anselmo de Cantuária. Para ele, era possível provar racionalmente a existência de Deus. Seu famoso argumento ontológico parte da definição de Deus como "o ser do qual nada maior pode ser pensado". Ora, se esse ser só existisse no pensamento, não seria o maior, pois um ser real é maior que um apenas imaginado. Portanto, Deus deve existir na realidade.

Esse raciocínio, baseado em ideias puramente lógicas e independentes da experiência sensível, representava o realismo escolástico: a crença de que os conceitos universais têm existência própria.

4. Pedro Abelardo e o Nominalismo

Nem todos concordaram com Anselmo. Pedro Abelardo, outro expoente da Escolástica, defendia o nominalismo: para ele, os conceitos são apenas nomes, construções da linguagem humana, sem existência independente. Assim, um conceito, por si só, não basta para provar a realidade de Deus — é necessário verificar se há correspondência com o mundo sensível.

5. Tomás de Aquino e as cinco vias

A síntese mais profunda da Escolástica viria com Tomás de Aquino. Influenciado por Aristóteles e os comentários árabes, como os de Averróis, Aquino defendia que o conhecimento começa com os sentidos: “nada existe no intelecto que não tenha passado antes pelos sentidos”. Mas ele também via na natureza os traços da criação divina.

Tomás propôs cinco argumentos — conhecidos como as “cinco vias” — para demonstrar a existência de Deus, todos baseados em evidências do mundo natural:

  1. Motor Imóvel: tudo que se move é movido por algo; para evitar uma regressão infinita, deve haver um primeiro motor que move tudo sem ser movido – Deus.

  2. Causa Eficiente: tudo tem uma causa anterior; logo, deve haver uma causa primeira – Deus.

  3. Ser Necessário: se tudo é contingente (tem começo e fim), então deve existir um ser necessário que dê origem ao restante – Deus.

  4. Graus de Perfeição: há diferentes níveis de perfeição; deve existir um ser máximo, perfeito, parâmetro de todas as coisas – Deus.

  5. Finalidade (Teleologia): tudo na natureza parece ter um propósito; deve existir uma inteligência ordenadora – Deus.

6. A importância de Tomás de Aquino

No início, suas ideias foram vistas com desconfiança, mas com o avanço da Reforma Protestante, a Igreja Católica recorreu à teologia de Aquino para se fortalecer. Sua obra-prima, a Suma Teológica, chegou a ser colocada ao lado da Bíblia no ¹Concílio de Trento. Tomás de Aquino foi elevado à condição de Doutor da Igreja, e sua doutrina, o tomismo, ainda é referência no catolicismo até hoje.

Na política, Aquino defendeu a monarquia como forma legítima de conduzir o povo ao bem comum — um bem que, para ele, só pode ser revelado por Deus.


Conclusão

A Escolástica é a tentativa brilhante — e ousada — de conciliar fé e razão. É nela que nasce a universidade como espaço de saber sistemático, e é nela também que a razão começa a ganhar autonomia, ainda que ancorada na fé. Santo Anselmo, Pedro Abelardo e Tomás de Aquino não apenas pensaram Deus, mas ajudaram a moldar os fundamentos do pensamento ocidental.

¹ O Concílio de Trento (1545–1563) foi uma assembleia ecumênica da Igreja Católica convocada em resposta à Reforma Protestante. Seu principal objetivo foi reafirmar os dogmas católicos, corrigir abusos e formular diretrizes de fé e disciplina, marcando o início da chamada Contrarreforma. Durante o concílio, obras como a Suma Teológica de Tomás de Aquino foram valorizadas como referência teológica, sendo colocadas ao lado da Bíblia nos altares, em sinal de sua importância doutrinal.

FILÓSOFOS DO ENEM. Escolástica – Aula 09 | Filósofos do Enem. [S.l.]: YouTube, 26 jul. 2025. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=HjjMUyZjyxM. Acesso em: 26 jul. 2025.

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