Bullying

quarta-feira, 20 de agosto de 2025

Quando a Noite também é Azul: uma Quarta-Feira do Autismo!

Uma noite onde a Quarta-Feira foi Azul¹

Na NOITE desta quarta-feira, 19 de agosto de 2025, o sol havia completado seu poente em Carlos Chagas quando nós, da Comissão de AEE da Secretaria de Educação, seguimos rumo ao SICOOB Hall, em Nanuque em um daqueles amarelinhos. O destino não era uma simples sala de formação; era mais um capítulo do nosso aprendizado coletivo sobre algo que atravessa não apenas as escolas, mas também as nossas memórias e emoções mais íntimas: o Autismo.

À frente de tudo, como sempre, estava a psicóloga Patrícia Rodrigues, com sua clareza firme e, ao mesmo tempo, acolhedora. Ao redor dela, palavras técnicas ganham vida, teorias encontram exemplos, e conceitos que poderiam soar frios nos livros se tornam carne e afeto. Patrícia não fala de autismo como quem descreve um diagnóstico. Ela fala de gente. E quando fala de gente, cada um de nós inevitavelmente se lembra de um aluno, de um filho, de alguém próximo da gente. Vi muito de Maria em tudo que foi ensinado. 

Presenças que contam histórias

Estávamos ali: Maria, supervisora incansável; Rita Medrado, psicóloga de sensibilidade atenta; Joice, nossa assistente social sempre de mãos dadas com as famílias; e eu, Deodato, Secretário de Educação que insiste em aprender para não se perder no caminho da gestão. Encontramos também Rejane, professora da Escola Municipal Oscar João Kretli, que se juntou a nós nesse mergulho de reflexões.

Na estrada de ida e volta, partilhamos não apenas o carro, mas também histórias, dúvidas, expectativas. É assim que a formação também acontece: no movimento, no diálogo, nos olhares cúmplices.

Patrícia e sua psicologia de afetos

Patrícia nos conduziu pelos Fundamentos do Transtorno do Espectro Autista (TEA). Explicou que o TEA é um espectro – e espectro é arco-íris, é diversidade, é multiplicidade. Não há um autismo único, mas milhares de modos de ser autista. Falou do diagnóstico precoce, possível desde os 18 meses, quando sinais sutis como a falta de contato visual ou estereotipias motoras aparecem.

Trouxe o DSM-5 e a CID-11, mas com eles não vieram códigos frios, e sim as portas para compreendermos que cada aluno precisa de apoios diferentes. Três níveis de suporte, dizia ela, que na prática se traduzem em um compromisso maior da escola em não deixar ninguém para trás.

Da teoria ao chão da escola

Falamos de critérios diagnósticos: dificuldades na interação social, interesses restritos, rotinas rígidas. Mas também falamos de vida real: a criança que tampa os ouvidos porque a sala é barulhenta demais, o aluno que prefere girar o carrinho a brincar de corrida, a menina que recusa o prato do dia porque a textura não combina com sua sensibilidade.

As imagens que Patrícia projetava ganhavam voz nas nossas lembranças:

– “Ah, esse comportamento é igualzinho ao do meu aluno”, murmurava alguém.

– “Essa seletividade alimentar é o que a mãe da fulana tanto comenta”, dizia outro.

Dicas que não cabem só no quadro

Patrícia nos lembrou de algo precioso: na escola, pequenas atitudes mudam mundos. Usar recursos visuais para apoiar a comunicação. Respeitar o tempo da criança e manter a rotina previsível. Estimular a interação sem forçar, mediando encontros. Evitar punições por estereotipias, porque nem todo bater de mãos é birra – às vezes, é apenas o corpo pedindo equilíbrio.

E, acima de tudo, reduzir os excessos de estímulos. Afinal, se até nós, adultos, sofremos com uma sala barulhenta ou uma luz forte demais, por que não aceitar que o autista sinta isso de forma ainda mais intensa?

Desmontando mitos

Entre tantas verdades, foi preciso também derrubar algumas mentiras persistentes: não, pessoas com autismo não são incapazes de sentir emoções. Não, o autismo não é causado por vacinas. Nem todo autista é um gênio das exatas ou da música. E não, o autismo não tem cura – porque não é doença. É jeito de ser.

Epílogo de uma noite!

Saímos do SICOOB Hall diferentes. Não porque aprendemos algo novo apenas, mas porque fomos lembrados de algo essencial: educar é um exercício de humanidade. Patrícia nos ajudou a perceber que, diante do autismo, não basta conhecimento técnico; é preciso também humildade, paciência e amorosidade.

Na volta, enquanto o carro percorria a MGC-418, pensei: talvez a maior lição que o autismo nos dá é que cada um tem seu tempo, sua forma de ser, seu modo de estar no mundo. E que cabe a nós, educadores, abrir caminhos para que todos possam florescer em sua singularidade.

Quanto mais compreendermos e colocarmos em prática o conhecimento, mais poderemos fazer pelos autistas, que tanto nos ensinam sobre o verdadeiro sentido de ser humano.

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¹Nota: A cor azul é reconhecida internacionalmente como símbolo do autismo desde a campanha “Light It Up Blue” (Ilumine de Azul), lançada em 2007 pela organização Autism Speaks. A escolha se deu por sua associação à serenidade, harmonia e esperança, além de remeter, à época, à maior prevalência do diagnóstico em meninos. Hoje, o azul permanece como cor de conscientização e inclusão, iluminando o Dia Mundial do Autismo (2 de abril) em monumentos e espaços públicos de todo o mundo.

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