Obra Marília de Dirceu, de Tomás Antônio Gonzaga
Em duas idas recentes a Ouro Preto, acompanhando alunos em excursões educativas, detive-me diante da antiga casa onde viveu Tomás Antônio Gonzaga, e ali, diante das janelas coloniais, reviveu-se em mim a ternura e a dor de Marília de Dirceu. Não há como passar por aquele cenário e não sentir o eco do amor entre Tomaz Antônio Gonzaga e Maria Doroteia Joaquina de Seixas Brandão, a inspiradora Marília — nascida e falecida em Vila Rica, que se tornou símbolo da delicadeza e da fidelidade amorosa no século XVIII.
Reabrir o livro Poemas de Marília de Dirceu é viajar no tempo, mergulhar na alma do Arcadismo brasileiro, com sua busca da harmonia entre a simplicidade pastoral e o sentimento humano. Gonzaga, sob o pseudônimo de Dirceu, fala à amada com doçura e sensatez, mas também com o peso da saudade e da prisão — as mesmas pedras frias que guardaram seu corpo no cárcere e seu espírito no desterro de Moçambique, onde morreu em 1810.
A edição histórica que examinei revela não apenas o lirismo das odes, mas o contexto humano de um poeta que foi amante, magistrado e inconfidente. Cada verso é testemunho de um amor interrompido pela repressão colonial, mas eternizado pela arte. Em suas liras, o “guardador de sentimentos” transforma o sofrimento em beleza, o exílio em canto, e o amor em eternidade.
Reler Marília de Dirceu, todo dia um pouco à mesa de um café, é como ouvir o murmúrio da voz de Gonzaga misturada ao vento das ladeiras de Vila Rica. Um lembrete de que a poesia, mesmo nascida da dor, é sempre o refúgio mais doce da alma.
Casa de Tomás Antônio
Gonzaga -Rua Cláudio Manoel, 61 - Centro de Ouro Preto. A construção do século XVIII, em
estilo colonial, é a casa na qual residiu o poeta Tomás Antônio Gonzaga –
inconfidente das Minas Gerais – entre os anos de 1782 a 1788, quando se tornou
ponto de encontro dos líderes da Inconfidência Mineira. Gonzaga é autor de uma
das mais conhecidas histórias de amor da literatura quando, utilizando o
pseudônimo Dirceu, escreveu belos e famosos poemas para sua musa inspiradora
Maria Dorotéia, conhecida como Marília de Dirceu, alcunha que dá título à
obra.Hoje o imóvel abriga a sede da Secretaria Municipal de Turismo Indústria e
Comércio de Ouro Preto, além de exposições temporárias. O gramado nos fundos da
casa é objeto de um cuidado excepcional e sua localização proporciona uma bela
panorâmica do Pico do Itacolomi. No quintal, o visitante encontra também um
tanque que era utilizado pelos escravos.





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