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quarta-feira, 22 de outubro de 2025

A educação midiática e os jornais

A educação midiática e os jornais

Seja impresso ou digital, nas escolas ou em casa, veículo ajuda alunos a lidar com a informação verificada, em oposição ao fluxo caótico das redes sociais
Por Claudia Costin
Especialista em educação e conselheira da editora Magia de Ler, responsável pelos jornais infantojuvenis Joca e TINO Econômico

Há alguns anos, participei de um painel num evento sobre educação em Buenos Aires ao lado do professor e pesquisador britânico David Buckingham, que criou cursos de educação midiática na Inglaterra. Ao ouvi-lo falar, me dei conta da importância do tema e de como ele podia ajudar a formar os jovens no Brasil.

A educação midiática é uma das competências definidas na formação de crianças e jovens, não só para proteger a sociedade em tempos de desinformação massiva (“fake news”), mas também para fortalecer a capacidade de ler o mundo com autonomia.

Autores como Jonathan Haidt, que recentemente publicou “A Geração Ansiosa”, têm enfatizado a importância de ensinar os alunos a discernir fatos de opiniões, conhecer e respeitar o ponto de vista alheio e desenvolver um olhar crítico sobre os meios de comunicação.

Foi, portanto, com grande alegria que vi a inclusão do tema na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), aprovada em 2017 e que se consolida no ciclo 2025 do Conselho Nacional de Educação. Ela aponta, entre as competências gerais da educação básica, a utilização crítica e ética das tecnologias digitais de informação e comunicação em diferentes contextos.

A alfabetização midiática não se resume à leitura crítica da mídia tradicional, mas também ao entendimento do funcionamento das plataformas digitais, do impacto dos algoritmos e do papel de cada cidadão na produção e circulação de conteúdos, bem como o uso ético e responsável das plataformas.

Esse último ponto ganhou visibilidade nas últimas semanas, com as discussões acerca da “adultização” infantil, processo pelo qual crianças e adolescentes são expostos precocemente a conteúdos estéticos e de consumo inadequados. A partir disso, cresce a importância de discutir o papel da mídia na formação dos valores.

Nas mãos de bons professores, jornais podem se tornar material interessante para atividades “mão na massa”, em sala de aula, permitindo identificar vieses, observar fontes e comparar abordagens.

Já sabemos como é importante estimular a leitura e a escrita nas escolas. Mas também é essencial ensinar os alunos a pesquisar tanto em livros físicos como em meio digital.

Mas se há algo que precisamos fazer com mais intensidade no Brasil é fomentar nas escolas a leitura de textos de não ficção e, assim, ensinar os jovens a fazer análises mais profundas — uma habilidade fundamental em tempos de substituição de muitos trabalhos por inteligência artificial. Nesse sentido, jornais próprios para a faixa etária (ainda felizmente raros no Brasil) podem contribuir muito com o processo educacional.

O jornal impresso ou digital é uma fonte estruturada, com critérios de apuração e compromisso ético, que contrasta com a avalanche de informações fragmentadas das redes sociais.

Ao ler um jornal na escola, o aluno aprende que a apuração é um processo cuidadoso e que a informação precisa ser checada. Mais que isso, percebe que diferentes veículos podem oferecer interpretações diversas sobre o mesmo fato. Essa é uma das aprendizagens mais valiosas da educação midiática: a checagem da desinformação.

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