A convivência do Homo sapiens com outras espécies humanas: o que a ciência já sabe
Quando pensamos na história da humanidade, muitas vezes imaginamos uma linha evolutiva simples: uma espécie substituindo a outra até chegar em nós, Homo sapiens. Porém, as pesquisas mais recentes mostram que essa visão é incompleta. O passado humano foi muito mais diverso e complexo.
1. A linhagem humana é antiga e teve muitos ramos
Os estudos indicam que a linhagem dos seres humanos se separou da dos chimpanzés há cerca de 6 milhões de anos. A partir daí surgiram diversos grupos de hominídeos, como Ardipitecos e Australopitecos, que eram muito diferentes do ser humano atual.
Com o tempo, outras espécies mais próximas de nós surgiram, como os Neandertais. E as descobertas não pararam: em 2018 foi identificada uma nova espécie, o Homulondi, também chamado de “Homem-Dragão”. Hoje, o Museu Nacional de História Natural dos EUA lista até 21 espécies humanas já identificadas — embora esse número ainda gere debates entre cientistas.
Cada espécie se distingue por características físicas e genéticas. Por exemplo:
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Os Neandertais tinham adaptações biológicas próprias e talvez até a capacidade de hibernar.
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O Homo naledi era baixo, de cérebro pequeno, mas culturalmente complexo, talvez até praticando rituais de luto.
Essas descobertas desmontam a ideia de que nossos parentes eram “primitivos” ou “inferiores”.
2. Diferentes espécies de humanos coexistiram ao mesmo tempo
Um exemplo marcante são os Denisovanos, descobertos apenas 15 anos atrás. Eles habitaram regiões da Sibéria e da Ásia, tinham mandíbulas fortes e talvez uma caixa craniana larga e achatada.
E mais: um fóssil encontrado na Rússia revelou algo surpreendente — o osso pertencia a um indivíduo que era filho de uma mãe Neandertal e um pai Denisovano.
3. Houve cruzamento entre espécies humanas
A convivência não foi apenas geográfica. Houve procriação entre espécies diferentes.
A evidência aparece no nosso próprio corpo:
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Pessoas nascidas fora da África têm, em média, 2% do DNA vindo de Neandertais.
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Pessoas de origem africana têm essa porcentagem próxima de zero, porque os cruzamentos ocorreram principalmente na Eurásia.
Sobre como ocorriam esses cruzamentos, os cientistas afirmam que:
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A comunicação entre espécies diferentes era difícil, devido às diferenças biológicas.
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Nem todos os encontros foram consensuais.
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Mas há evidências de que algumas famílias mistas existiram.
4. Por que outras espécies humanas desapareceram?
Os Neandertais, por exemplo, desapareceram há cerca de 40 mil anos, provavelmente por uma combinação de fatores:
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mudanças climáticas severas;
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competição com o Homo sapiens;
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populações pequenas, facilmente assimiladas ou extintas.
5. A evolução humana é mais acidental do que imaginamos
A professora Penny Spikens destaca que muitas características humanas surgiram não por adaptação perfeita, mas por acaso.
Populações isoladas podem desenvolver traços que se espalham simplesmente porque não prejudicam a sobrevivência. Isso explica, por exemplo:
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as sobrancelhas grandes dos Neandertais;
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caixas torácicas maiores;
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diferenças de aparência que não tinham função específica.
A epigenética — ativação de genes por fatores ambientais — também ajuda a entender como características como depressão ou esquizofrenia podem “aparecer” apenas em ambientes específicos.
6. As emoções e a cooperação foram fundamentais para o sucesso humano
Já há evidências de:
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práticas médicas entre Neandertais;
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cuidado com idosos, que preservavam o conhecimento do grupo;
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comportamentos sociais que permitiram a formação de grandes comunidades conectadas.
Nossas emoções — sensibilidade, empatia, vulnerabilidade — são parte do que nos permitiu sobreviver e prosperar.
7. As mudanças climáticas continuam moldando a humanidade
Ainda assim, segundo Spikens, há motivos para esperança. As evidências mostram que a cooperação e a solidariedade sempre estiveram presentes na história humana — e podem ser a chave para o nosso futuro.

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