Bullying

terça-feira, 14 de abril de 2020

Editorial do Jornal O Globo de hoje(04-04) - Governadores e prefeitos precisam garantir a merenda das crianças. Com escolas fechadas pela quarentena, famílias mais pobres já não têm como alimentar os filhos.

O acertado fechamento de escolas determinado por governadores e prefeitos do país, como forma de conter a pandemia do novo coronavírus, tem produzido efeitos colaterais que vão além da óbvia falta de aulas. Para os alunos da rede pública, especialmente os das camadas mais pobres da população, a escola não é apenas o lugar onde se aprende, mas também onde se come, e não é exagero dizer que, em muitos casos, são as únicas refeições garantidas do dia.
Embora as crianças não constituam grupo de risco para a Covid-19, é importante mantê-las em casa porque, como geralmente apresentam sintomas brandos ou são assintomáticas, elas podem transmitir facilmente o vírus para pais e avós, ampliando a disseminação da doença. Portanto, não há que se questionar a quarentena. Mas o fato é que ela gerou uma demanda importante que parece ter escapado do radar das autoridades públicas.
Como noticiou o “Fantástico”, da Rede Globo, no domingo, já há famílias que não têm o que dar para as crianças. Em situação normal, esta já seria uma equação difícil de resolver. Em meio a uma pandemia, em que muitos pais, também de quarentena, perderam sua forma de sustento, torna-se ainda mais complexa. Mães entrevistadas pelo programa em São Paulo e no Amapá mostraram geladeiras vazias e relataram o drama diário para alimentar os filhos. Algumas estão recorrendo à ajuda dos vizinhos. Outras repartem o pouco que têm em casa.
Elas são a face de um universo expressivo. O bem-sucedido Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae) atende 40 milhões de crianças em todo o país, o que representa quase 20% da população brasileira. A ação ganha importância à medida que um terço dos beneficiados se encontra na faixa de pobreza ou extrema pobreza.
Enquanto os casos de Covid-19 avançam rapidamente, realçando a necessidade da quarentena, as soluções para o problema da falta de merenda seguem lentamente. Após quase um mês de isolamento, o governo federal sancionou na semana passada uma lei que permite que estados e municípios repassem às famílias alimentos já comprados para a merenda. Mas muitas prefeituras — o Brasil tem 5.570 — ainda estão enroladas em processos burocráticos para levar a comida aos alunos.
Alguns municípios, como São Paulo, já estão adotando medidas para uma ajuda emergencial às famílias — por exemplo, um vale-merenda enviado pelo Correio. Mas governadores e prefeitos devem atentar para o fato de que é preciso urgência nesse processo. Já há crianças sem ter o que comer.

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