Bullying

terça-feira, 14 de abril de 2020

No Jornal O Globo de hoje(14-04-2020), na seção, na hora da Ciência, Margareth Dalcolmo, Cientista e pneumologista da Escola Nacional de Saúde Pública da Fiocruz escreve:Apocalipse é esperança


São inéditos a velocidade de progressão da pandemia pela Covid-19 e o número de verdades e inverdades que surgem e desvaecem à luz das ainda escassas comprovações científicas, quer sobre os testes ditos padrão-ouro, fármacos que possam se mostrar verdadeiramente úteis em seu tratamento ou mesmo duração da imunidade conferida. Nesse cenário tão novo, consola o grande número de pessoas já curadas, porém esse equilíbrio instável entre epidemiologia e estrutura de serviços para responder bascula entre o tamanho do desafio e a coordenação da resposta. No Brasil, a operação dos hospitais de campanha, em construção em diversas cidades, se a eles forem assegurados recursos humanos qualificados e suficientes, poderá salvar vidas.
O grande pensador e poeta Paul Valéry nos alerta, premonitoriamente, no entre guerras: “Civilizações, não se esqueçam de que são mortais”. Esta pandemia, que seguramente não será a última, vem nos lembrar, peremptória, a nossa possibilidade de desaparecer como civilização, abrupta ou lentamente, seja pelo caos, por armas atômicas, pelos danos ao meio ambiente, pela falta d’água ou por epidemias.
Conhecendo a realidade de exclusão de nossas grandes cidades, essa doença vai desnudar, em carne viva como nunca antes, a exclusão social e a diferença de acesso aos serviços básicos, desde saneamento básico, água e moradia, até o ápice do sistema, que são as unidades de terapia intensiva. Não será apenas um jovem ianomâmi, em sua realidade longínqua, que morrerá atingido pela virose, sem a assistência adequada à sua cultura. Poderão ser nossos jovens, moradores de comunidades e suas famílias, em particular os mais velhos. Caberá, mais do que à rede suplementar de saúde, a esse sistema único, o SUS, castigado cronicamente pelo sub financiamento, através das medidas emergenciais orquestradas, dar a resposta, correndo contra o tempo da disseminação acelerada.
Na falta de testes em larga escala, urge epidemiológica dos casos de síndrome respiratória aguda grave e gripe, inclusive dos óbitos, gerando informação necessária sobre os vetores de expansão da doença e seus números. Dispensadas estão as metáforas quando o hiperrealismo grita, ululante como diria Nelson Rodrigues: Nova York, a cidade mais cosmopolita e rica do mundo, ultrapassa os 200 mil casos e enterra alguns milhares de seus cidadãos em cova rasa, se ajoelha diante da tragédia humana inaudita, a superar qualquer narrativa épica grega. Mas vai conseguir achatar a curva de transmissão do novo coronavírus com o isolamento social.
Nesta Páscoa tão insólita, contrita, mais que nunca carregada de seu sentido de travessia e libertação, nos vemos em meio à angústia, com mais perguntas do que respostas, e muitas dúvidas. É restauradora a visão de peixes e patos de volta aos canais de Veneza, bem como ouvir a homilia do Papa Francisco e Andrea Bocelli cantar “Amazing grace” numa catedral de Milão deserta. Retroalimenta-nos da velha e teimosa confiança de que podemos prosseguir, capazes de olhar o Apocalipse não como um livro de maldições, mas como ele é, uma leitura de revelação e esperança.

O grande pensador e poeta Paul Valéry nos alerta no entreguerras: “Civilizações, não se esqueçam de que são mortais”

Um comentário:

Andreia Alves disse...

Olá boa tarde, tudo bem!
Neste cenário de medo em meios ao caos nessa pandemia, que possamos sim, encontrar paz, esperança e conforto em nossos corações!
Parabéns pelo excelente post, e venho dizer que estou de volta, dei uma repaginada no blog e troquei o nome, agora é Cantinho da Déia!
bjooo no coração...