Sistema que monitora Covid-19 mostra interior em risco

Dados da Fiocruz colocam em xeque a redução do distanciamento social em municípios sem registros do novo coronavírus

O Globo
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9 de Abril 2020

ANA LUCIA AZEVEDO ala@oglobo.com.br

A redução do distanciamento social em cidades sem registros de Covid-19 ameaça acelerar o espalhamento do coronavírus pelo interior do Brasil. Dados do recém-lançado Monitora Covid-19 - sistema criado pela Fiocruz que cruza dados sobre o novo coronavírus no país e no mundo - mostram que a doença avança pelo interior. Para cientistas, só após a testagem em massa será possível saber se uma cidade foi ou não atingida.

- A Fiocruz recomenda que só se flexibilizem as medidas de isolamento quando e onde houver segurança de que não há infectados, o que precisa ser comprovado pela realização de testes em grande quantidade - afirma Christovam Barcellos, vice-diretor de Pesquisa do Instituto de Comunicação e Informação em Saúde (Icict) da Fiocruz.

Até o momento, o Brasil só registra casos graves e mortos de Covid-19. Porém, por falta de testes, mesmo esses são subnotificados. Os leves e assintomáticos passam despercebidos. Como as cidades menores não têm, em sua maioria, condições de atender os doentes, estes buscam os hospitais das capitais, aumentando a circulação do vírus.

-Relaxar as medidas de distanciamento social nos levará para o caminho da Itália. Veremos nas ruas do Rio a repetição das cenas da Lombardia, com caminhões do Exército carregando corpos - alerta a pneumologista Margareth Dalcolmo, da Escola Nacional de Saúde Pública da Fiocruz.

O Monitora Covid-19 demonstra que o distanciamento social amplo surtiu efeito. Mas isso pode ser perdido com o relaxamento das medidas. Se comparado com a Itália, no mesmo período, o Brasil achatou a curva, e os casos sobem menos do que o previsto.

— Isso aconteceu porque o Ministério da Saúde e os governos do Rio e de São Paulo agiram depressa após o registro dos primeiros casos. A redução do distanciamento pode agravar a expansão do vírus - explica Diego Xavier, epidemiologista do Laboratório de Informação em Saúde do Icict.

Com dados do Google, do Waze e do Moovit, os pesquisadores do Monitora Covid-19 conseguem acompanhar a mobilidade da população. Monitoram o movimento nas ruas, no transporte público, em parques, farmácias, supermercados e locais de trabalho, além do trânsito de veículos.

A partir do último dia 4, os cientistas começaram a observar o aumento da movimentação das ruas. Especialmente em São Paulo e Porto Alegre.

— Vemos isso também no Rio, mas em menor escala. Em Porto Alegre, o distanciamento está sendo ignorado por muita gente —diz Xavier.
FONTE: O Globo-Acesso em 09-04-2020