Nesta semana em que se
celebram 75 anos da tomada de Berlim pelos soviéticos e da derrota das tropas
nazistas pelas forças aliadas na Itália e na Áustria, como publicado nos
grandes jornais à época, a noção de tempo nos atropela, e parece estarmos a
mencionar um fato histórico bem mais distante. Hoje, com a dimensão do fenômeno
que assola todo o planeta, os mesmos órgãos de comunicação anunciam o que
poderia ser uma trégua na luta em que nos encontramos, contra o inimigo ubíquo
e invisível, um vírus que já dizimou mais vidas do que os 20 anos da Guerra do
Vietnã ou a epidemia pelo HIV nos seus primeiros 25 anos. A divulgação do que
poderia ser um tratamento possível, pelo menos para as formas graves da
Covid-19, em que pesem os desfechos ainda por serem aprimorados, traveste-se de
boa nova.
Não se compara a forçados
meios de comunicação de outrora com a atualidade, vivendo a primeira epidemia
completamente digital. O tamanho do fenômeno midiático é compatível com sua
época, ainda que o homem, como ser de consciência, permaneça, felizmente,
operando no modo analógico, movido a empatia e compaixão. Se é verdade que o
amor ao próximo sofredor inspira o desenvolvimento da ciência, podemos afirmar
que, no homem, cientista ou poeta, os métodos criadores são os mesmos. Einstein
disse, com seu humor :“Ai maginação é a mais científica das faculdades ”,
indicando que nenhuma descoberta nos dá direito a descanso. Um problema ou uma
etapa resolvida gera forçosamente uma outra hipótese a ser demonstrada, outra
questão a ser respondida. É onde nos encontramos frente ao desafio imposto pela
Covid-19 e à espera de uma vacina.
O remdesivir, fármaco
aprovado pelo FDA, órgão regulatório norte-americano, para o tratamento de
casos graves, é um conhecido antiviral, capaz debloquear a replicação viral, de
uso exclusivamente endovenoso, com efeitos in vitro já demonstrados em outros
coronavirus, usado nas epidemias da Sars e Mers, e no tratamento do ebola, em
África, sem sucesso.
Três estudos para a
Covid-19 foram publicados: na China, sem benefício e interrompido por efeitos
colaterais; do fabricante, sem grupo controle; e o que gerou a aprovação,
incluindo 1.063 pacientes, com mortalidade de 8% contra 11,6% no grupo placebo.
Sabe-se assim que os estudos até o momento, mesmo os poucos metodologicamente
bem conduzidos, não respondem se este será, isolado ou em associação a outras
terapêuticas que atuem em outros alvos do vírus —como anti-inflamatórios
biológicos e corticosteroides, anticoagulantes, transferência de plasma de
convalescentes —, um tratamento plausível. Ao falar em plausibilidade, há que
se considerar variáveis diversas como efetividade de uso no mundo real,
segurança, proteção ou quebra de patente, comercialização e, sobretudo, acesso
universal. Todas essas respostas deverão se somar ao ganho observado até agora,
de redução modesta no número de dias de permanência em terapia intensiva, e
eventos adversos controláveis.
No momento agudo em que
vivemos, em meio à proliferação de controvérsias, muitas sembas e científica,
voltamos a nos indagar se nos enigmas que regem a consciência humana e a ciência
não há conflitos, e sim interação, como um amálgama perene. Quero bom senso que
os que decidem sobre a vida das pessoas, a fortiori os homens de Estado,
mostrem-se sempre firmes, claros, consistentes, justos e, sobretudo,
responsáveis. O que nos revelará a nossa história imediata?
Quer o bom senso que os
que decidem sobre a vida das pessoas mostrem-se sempre firmes, claros, justos e
responsáveis.
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