Este livro didático é excelente, ensina Literatura Brasileira de forma clara e envolvente.
Literatura: a arte que nos lê por dentro
Há um momento na formação de qualquer leitor em que a leitura deixa de ser apenas uma tarefa escolar e passa a ser experiência. Nesse instante, compreendemos que ler não é somente decifrar palavras, mas permitir que elas nos atravessem. É aí que a literatura revela sua força: quando o texto deixa de morar apenas na página e passa a habitar o leitor.
Cada forma de arte possui sua matéria-prima. A música se constrói com sons, a pintura com cores e formas, a dança com movimentos. A literatura, por sua vez, trabalha com a palavra. Mas não a palavra comum, cotidiana, funcional. A literatura trabalha a palavra recriada, carregada de imagens, sentidos, emoções e silêncios. Por isso, costuma-se dizer, de forma simples e precisa, que a literatura é a arte da palavra.
Diferentemente de textos informativos, científicos ou jornalísticos, o texto literário não nasce com a finalidade principal de explicar, instruir ou convencer. Sua função é outra: significar, provocar, sugerir, emocionar, inquietar. O texto literário não entrega respostas prontas; ele convida o leitor a participar da construção do sentido. Cada leitura é única, porque cada leitor carrega sua história, seu tempo e seu olhar.
Nesse sentido, a literatura também é leitura-prazer. Não o prazer superficial, imediato, mas aquele que nasce do encontro entre o texto e a sensibilidade do leitor. Ao ler um poema, um conto ou um romance, somos convidados a viver outras vidas, atravessar outros tempos, experimentar sentimentos que talvez nunca tenhamos nomeado. Ler literatura é sempre uma viagem sem retorno: depois dela, algo em nós se transforma.
A palavra, centro da literatura, é apresentada como algo vivo. O escritor não apenas escreve: ele escolhe, lapida, escuta e cuida das palavras. Elas possuem som, ritmo, textura, densidade. É esse trabalho cuidadoso com a linguagem que distingue o texto literário de outros tipos de texto. Enquanto o texto informativo busca objetividade, a literatura busca profundidade.
Outro aspecto fundamental é que não existe uma única definição de literatura. Para alguns, ela é mergulho no desconhecido; para outros, é forma de compreender a vida, o mundo e a si mesmo. Há quem encontre na leitura um refúgio, uma terapia silenciosa, uma maneira de sobreviver às dores da existência. Há também o chamado livro amigo — aquele que nos acompanha ao longo da vida, que se relê, que permanece, que ajuda a formar nossa visão de mundo.
A literatura, portanto, cumpre um papel essencial na formação humana. Ela amplia o olhar, refina a sensibilidade, desenvolve empatia e pensamento crítico. Ler literatura é aprender a sentir com mais cuidado, a olhar com mais atenção, a escutar com mais profundidade. Em um mundo marcado pela pressa e pela superficialidade, a literatura nos convida à pausa e à escuta interior.
Defender a literatura na escola não é defender apenas um conteúdo curricular. É defender a ideia de que educar vai além de preparar para provas. Educar é ajudar cada estudante a se tornar mais humano, mais consciente de si, do outro e do mundo. É compreender que a leitura literária forma não apenas leitores competentes, mas pessoas mais sensíveis, críticas e inteiras.
Talvez, ao final, a melhor definição seja esta:
a literatura não apenas nos ensina a ler textos — ela nos ensina a ler a vida.
Referência:
CEREJA, William Roberto; MAGALHÃES, Thereza Cochar. Literatura brasileira: ensino médio. 3. ed. São Paulo: Atual, 2005. Introdução – “Entre textos” (p. 12) a “Literatura: viagem sem retorno” (p. 15). p. 12–17.









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