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terça-feira, 25 de novembro de 2025

Carlos Chagas institui reciprocidade para isenção de taxas municipais ao Estado de Minas Gerais

Carlos Chagas institui reciprocidade para isenção de taxas municipais ao Estado de Minas Gerais

A administração municipal de Carlos Chagas oficializou, no dia 31 de outubro de 2025, um importante avanço jurídico-administrativo com a publicação do Decreto nº 189/2025, assinado pelo prefeito José Amaden Nanayoski Tavares. O texto estabelece a reciprocidade para isenção do pagamento de taxas municipais pela Administração Direta do Estado de Minas Gerais, fortalecendo a relação institucional entre município e governo estadual.

A medida, fundamentada na Constituição Federal de 1988 e no Decreto Estadual nº 38.886/1997, reconhece que União, Estados, Distrito Federal e Municípios não devem cobrar impostos uns dos outros sobre patrimônio, renda ou serviços — princípio conhecido como reciprocidade tributária. No caso específico de Minas Gerais, o Estado já prevê a isenção de taxas, como a Taxa de Segurança Pública, desde que os municípios adotem tratamento equivalente.

Com a publicação do decreto, Carlos Chagas reafirma seu compromisso com a legalidade e a cooperação federativa. A iniciativa também visa facilitar procedimentos administrativos, evitar entraves burocráticos e garantir maior eficiência nas ações do Estado dentro do território municipal — especialmente em serviços de segurança, saúde, educação e demais políticas públicas que dependem de atuação direta do governo estadual.

O Decreto nº 189/2025 entra em vigor na data de sua publicação e revoga normas anteriores que contrariem seu conteúdo. Para a gestão municipal, trata-se de um passo importante para modernizar o relacionamento institucional e fortalecer a parceria com o Estado de Minas Gerais, garantindo mais segurança jurídica e fluidez administrativa para ambas as esferas de governo.

segunda-feira, 24 de novembro de 2025

Vestibular Seriado da UFVJM movimenta estudantes de Carlos Chagas, mas adesão preocupa educadores

O domingo, 23 de novembro de 2025, foi marcado por expectativa e ansiedade para dezenas de jovens da região que participaram da Prova do Vestibular Seriado (Sasi) da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), realizada na cidade de Nanuque. A avaliação contemplou a e a 2ª etapas do processo seletivo, que, ano após ano, vem se consolidando como uma das portas de entrada mais democráticas para o ensino superior na região.

Criada com o objetivo de tornar a caminhada até a universidade mais leve e gradual, a Sasi funciona como um modelo de avaliação contínua: em vez de condicionar o futuro do estudante a uma única prova — como acontece no Enem —, o sistema distribui o processo de seleção ao longo dos três anos do Ensino Médio. A UFVJM avalia, a cada série, o desempenho do candidato:

  • 1ª etapa: conteúdos do 1º ano;

  • 2ª etapa: conteúdos do 2º ano;

  • 3ª etapa: uso da nota do Enem, mediante inscrição do candidato.

Caso o aluno perca a 1ª etapa, ainda pode realizar 1ª e 2ª juntas no ano seguinte, sem prejuízo no processo.

Baixa adesão preocupa Carlos Chagas

A Prefeitura de Carlos Chagas disponibilizou um ônibus exclusivo para transportar os inscritos até Nanuque. No entanto, apenas 35 estudantes compareceram para embarcar, número considerado baixo diante do potencial do município.

A distribuição dos participantes foi a seguinte:

  • 14 alunos da Escola Estadual Souza Norte;

  • 12 alunos da Escola Estadual Dr. João Beraldo;

  • 8 alunos da COOEDUCAR;

  • 1 aluno já egresso do Ensino Médio.

Nos dados de participação por etapa, observou-se:

  • 6 alunos fizeram somente a 1ª etapa;

  • 8 alunos prestaram 1ª e 2ª etapas juntas;

  • 22 alunos realizaram apenas a prova da 2ª etapa.

O ano de 2025 registrou uma adesão preocupantemente baixa nas inscrições, com apenas 6 registros formais realizados na 1ª etapa para estudantes ingressos no Ensino Médio.

Um chamado à comunidade escolar

Diante desse cenário, o alerta está aceso. A UFVJM é uma universidade pública muito próxima, criada justamente para atender os estudantes do Vale do Mucuri, Jequitinhonha e regiões vizinhas. A oportunidade está ao alcance das mãos — mas é preciso que a comunidade escolar caminhe junto.

Pais, professores, diretores e gestores são fundamentais na mobilização, na orientação vocacional, no apoio emocional e na divulgação das etapas do processo. A caminhada até a universidade começa muito antes da terceira série: nasce da cultura de valorização dos estudos e do entendimento de que as portas do ensino superior são, sim, para os jovens de Carlos Chagas.

O futuro está logo ali. É preciso que todos — família, escola — se unam para garantir que nossos estudantes não apenas sonhem, mas cheguem à universidade e ocupem o lugar que é deles por direito.

sexta-feira, 21 de novembro de 2025

Educação marca presença na eleição da Mesa Diretora da Câmara Municipal de Carlos Chagas para 2026!

Veja outras imagens do momento: https://photos.app.goo.gl/2BbYQyvpecNVXyrj9

Educação marca presença na eleição da Mesa Diretora da Câmara Municipal de Carlos Chagas para 2026!

A noite desta eleição ficará registrada como um daqueles momentos em que a política local respira diálogo, consenso e, sobretudo, compromisso com a comunidade. A Câmara Municipal de Carlos Chagas conduziu, de forma harmônica e unânime, a escolha da Mesa Diretora que estará à frente dos trabalhos legislativos no ano de 2026. Todos os onze vereadores chegaram a um acordo e elegeram a nova composição:

  • Presidente: Junio Marcio de Souza da Silva — Partido Social Democrático

  • Vice-presidente: Lucas Cruz Loiola — Partido da Mobilização Nacional

  • 1º Secretário: Flávio de Souza Pereira — Progressistas

  • 2º Secretário: Izalton Almeida Costa — Avante

A sessão, marcada pelo tom respeitoso e pela sinalização de tempos promissores, ganhou ainda mais brilho com o discurso do novo presidente eleito, vereador Junio Marcio. Em sua fala, destacou a transformação vivida pelo município:
“Carlos Chagas, nos últimos 6 anos, prosperou mais do que em 30 anos”, afirmou, lembrando que esse avanço não pode ser motivo para acomodação. Com serenidade, completou: é preciso continuar sonhando e acreditando em dias melhores.

E é justamente nessa esperança que a educação também marcou presença. Diretores escolares, supervisores e representantes da Secretaria Municipal de Educação compareceram ao plenário, reforçando que o diálogo entre os poderes é essencial para o fortalecimento das políticas públicas — especialmente as educacionais. Estiveram presentes Léo, diretor da Escola Municipal Manoel Esteves Otoni; Verônica, diretora da Escola Municipal Maria Ribeiro Tavares; Célia Monteiro, supervisora da Escola Nelson Lisboa de Matos; Ednalva, assessora; além de mim, Deodato Gomes Costa, Dirigente Municipal de Educação. Saulo, diretor da Escola Municipal Oscar João Kretly, também fez questão de acompanhar o momento histórico.

A família do vereador Junio Marcio acompanhou a cerimônia de perto, celebrando a conquista e demonstrando apoio ao novo presidente da Casa Legislativa.

Outro ponto que merece destaque é a atuação de três vereadores que, apesar de trajetórias distintas, têm se mostrado profundamente comprometidos com as demandas da população:

• Lucas Cruz Loiola, o Lukão, vice-presidente eleito, representa a renovação política. Mesmo com pouco tempo de mandato, já acumula trabalhos significativos prestados à comunidade, sempre demonstrando energia, proximidade com as pessoas e um olhar sensível para os problemas reais das pessoas da sua comunidade.

• Izalton Almeida Costa, agora 2º secretário, tem sido uma voz constante nas pautas ligadas à saúde, acompanhando de perto as necessidades da população, buscando melhorias no atendimento, no acesso e nas condições de saúde.

• Flávio de Souza Pereira, eleito 1º secretário, tem forte atuação junto às escolas e ao Distrito de Mayrink, onde é reconhecido pelo empenho, pela escuta atenta e pela dedicação às demandas da educação e da comunidade local.

Nas redes sociais, o clima também foi de entusiasmo. Centenas de mensagens parabenizando o vereador circularam ao longo do dia, celebrando sua vitória, seu compromisso com a cidade e sua postura política. Os comentários destacavam desde a dedicação do vereador ao trabalho até o reconhecimento de sua trajetória, com manifestações calorosas, emotivas e cheias de esperança para o novo ciclo que se inicia no Legislativo.

Ao final, fica o sentimento coletivo de que 2026 se aproxima com boas expectativas. Parabenizamos a nova Mesa Diretora e pedimos a Deus que abençoe cada um dos eleitos. Que desempenhem um trabalho justo, responsável e voltado aos interesses da população de Carlos Chagas — cidade que segue acreditando, trabalhando e sonhando com dias ainda melhores.

quinta-feira, 20 de novembro de 2025

Sapiens – uma nova história da humanidade

 Sapiens – uma nova história da humanidade

Esqueça a ideia de que a evolução humana foi uma escadinha. Somos fruto da miscigenação entre muito mais hominídeos do que imaginávamos. 

O cenário é Jebel Irhoud, um conjunto de cavernas a 100 quilômetros de Marrakesh, no Marrocos. Mas ainda não existe Marrakesh nem Marrocos. Estamos num fim de tarde de 300 mil anos atrás –  100 mil anos antes do surgimento dos primeiros seres humanos modernos.

Mas eis que enxergamos ao longe um grupo de… humanos. Sujos, cabelos desgrenhados, mas claramente humanos. Com o devido banho de loja, todos passariam despercebidos se cruzassem a Avenida Paulista na hora do almoço. São quatro ao todo. Três adultos e um adolescente, voltando de uma caçada. E eis que surge um quinto elemento: uma criança sai correndo de uma das cavernas rumo ao campo aberto, feliz em vê-los. Talvez seja uma família. Eles carregam para dentro uma gazela morta. A caça foi boa naquele dia – fruto das boas lanças que portavam, com pontas feitas de pedras particularmente afiadas, obtidas num veio a uns 30 quilômetros dali.

Eles entram na caverna para passar a noite. Diversos outros humanos, parte do mesmo grupo, fazem o mesmo. Então todos acendem uma fogueira e se reúnem ao redor, partilhando uma suntuosa refeição de carne de gazela.

Só que nem todos os dias são felizes assim. A vida é dura na Idade da Pedra. A criança morreria antes de completar 8 anos. O adolescente não veria a idade adulta. Os três adultos não chegariam aos 40. Cada um morre a seu tempo e tem o cadáver deixado de lado num canto do conjunto de cavernas, misturado aos ossos das gazelas e zebras que foram suas vítimas no passado. A passagem do tempo vai recobrindo os corpos com camada após camada de poeira, por milhares e milhares de anos.

Mas não para sempre. Das profundezas do passado, esses nossos ancestrais ainda retornariam para nos contar aquela que talvez seja a mais bela e intrigante de todas as histórias – a nossa história. Uma saga que, ao que tudo indica, começou há bem mais tempo do que imaginávamos.


Em 1960, um grupo de mineração iniciava operações em Jebel Irhoud. Uma explosão revelou uma caverna cheia de sedimentos da época do Pleistoceno (período que compreende entre 1,8 milhão e 126 mil anos atrás). No ano seguinte, um crânio inteiro foi desenterrado. Com o passar do tempo, encontraram mais fósseis. Só não havia uma forma segura de determinar a idade deles. Pior: o avanço da mineração no local sucateou boa parte do sítio arqueológico.

Após décadas de ensaios e num esforço de teimosia, em 2004, começaram novas escavações, sob o comando dos arqueólogos Jean-Jacques Hublin, da Alemanha, e Abdelouahed Ben-Ncer, do Marrocos. O trabalho se concentrou sobre a única seção mantida intacta do sítio original, e foi isso que permitiu, ao longo dos anos seguintes, aumentar o número de fósseis humanos descobertos de 6 para 22 – incluindo aí a família que abre este texto.

E o mais surpreendente: concluíram que os fósseis tinham 300 mil anos. Isso mostra que o Homo sapiens, na realidade, é pelo menos 100 mil anos mais antigo do que a ciência imaginava – os fósseis mais velhos de sapiens antes desses têm só 200 mil anos.

Esse sapiens marroquino, porém, não é tão igual a você. O rosto, sem dúvida, indica que ele é um membro da nossa espécie. Mas os ossos da cabeça, nem tanto. O neurocrânio deles não é redondinho como o nosso. É mais alongado, como uma bola de futebol americano. Lembra a cabeça dos Homo heidelbergensis, um grupo de antepassados nossos que surgiu há 800 mil anos.


Isso torna a descoberta ainda mais especial, diga-se. Ela revela que a seleção natural primeiro agiu sobre a face dos humanos, para só depois dar os toques finais ao cérebro – uma pista importante de como foram dados os últimos passos evolutivos rumo ao Homo sapiens.

Mais do que uma pista, a confirmação de uma expectativa. “Uma hora a gente iria achar uma transição entre o heidelbergensis e o sapiens. Tinha um buraco aí”, afirma Walter Neves, antropólogo evolutivo da USP. “Esse material agora preenche o buraco.”

Mas, espera aí, e a promessa de que esses nossos ancestrais iam voltar para nos contar uma grande novidade? Se a descoberta já era mais ou menos esperada, qual é a tal surpresa? Bom, a questão não é tanto quem foi descoberto ou quando viveu. O mais surpreendente é o lugar onde esses ancestrais do homem moderno viveram. Sua presença no noroeste africano desmonta uma tese que vinha ganhando força nas últimas décadas: a noção de que houve um “berço da humanidade”, por assim dizer, um único local da África de onde emergiu, lindo e prontinho, o glorioso Homo sapiens.

Esse evento portentoso, segundo a velha teoria, teria ocorrido ali pelos cantos da Etiópia mesmo, perto do chifre da África, uns 200 mil anos atrás. Agora, achamos ancestrais sapiens (ou quase sapiens) 100 mil anos mais velhos, só que do outro lado do continente africano. Esses ancestrais certamente participaram da nossa evolução, e estavam bem longe do tal “berço da humanidade”. Hublin argumenta que sua descoberta aponta para uma origem pan-africana e miscigenada do homem moderno. Não houve um berço único, ele defende. O que teria existido é um grupo de várias populações com características de sapiens se misturando e se combinando, até chegar à forma moderna, que se espalhou pelo mundo e substituiu todos os outros hominídeos. Em resumo, sai de campo a pureza do Jardim do Éden e entra em cena uma intensa suruba evolutiva.

Essa é, em essência, a nova história da evolução humana.

Em três tempos

Iniciada em meados do século 19, a busca por nossas origens passou, grosso modo, por três etapas.

A primeira (e mais ingênua) delas consistia em buscar fósseis que retratassem o caminho entre nós e nosso ancestral comum com os chimpanzés. Era aquela conversa de “elo perdido”, retratada iconicamente pela figura clássica que mostra uma sequência de hominídeos com morfologias gradualmente diferentes até chegar ao homem – algo como a escadinha da evolução humana.

Uma segunda etapa, já mais madura, descartou a história da escadinha. Conforme o registro fóssil foi aumentando, os cientistas começaram a perceber que boa parte dos hominídeos antigos, e suas datações correspondentes, não se encaixava naquela narrativa linear, tão simples, que levava do homem-macaco ao ser humano em um punhado de etapas claras. Havia fósseis aparentemente primitivos demais vivendo em tempos recentes, outros que pareciam seguir um caminho evolutivo que deu em lugar algum, outros que pareciam ser de uma dada espécie já catalogada, mas não exatamente (caso em que se encaixam os sapiens de Marrocos). A história foi ficando mais confusa.

Agora estamos chegando a uma terceira etapa, que nos permite enxergar detalhes miúdos. Munidos de novos recursos tecnológicos, que nem completaram ainda uma década, como a capacidade de estudar genomas de certos fósseis e compará-los ao dos humanos modernos.

Essa é uma técnica recente. Sua estreia veio em 2010, quando um grupo de cientistas liderado pelo sueco Svante Pääbo apresentou o primeiro sequenciamento do genoma de neandertal. Todos os seres vivos têm ancestrais em comum. Você e uma sardinha compartilham um mesmo tatatataravô, que viveu há 430 milhões de anos. Sabemos disso porque, quando você estuda os genes de duas espécies diferentes, consegue traçar em que época viveu o bicho que deu origem às duas.

Mais adiante vamos ver como funciona esse processo. O que importa aqui, por ora, é outra coisa: ao examinar o genoma neandertal, Pääbo concluiu que o nosso ancestral em comum com eles viveu há 500 mil anos. Essa é uma data que, veja só, coincide com a idade dos registros fósseis do Homo heidelbergensis, o hominídeo que emprestou seu crânio alongado aos sapiens do Marrocos. Conclusão: os heidelbergensis que permaneceram no solo africano acabaram dando origem a nós, sapiens. Os que partiram para a Europa geraram os neandertais. Tudo bem redondo. Mas o estudo também revelaria uma suruba evolutiva. Literalmente.

Depois dessa diferenciação, há meio milhão de anos, as duas espécies voltariam a se misturar. Foi quando o sapiens empreendeu sua própria saída da África, há cerca de 70 mil anos. Esses migrantes encontraram os neandertais e fizeram filhos com eles. Muitos filhos. Tanto que absolutamente toda a população viva hoje que não tenha origem 100% africana apresenta algum componente neandertal no DNA. Na média, algo em torno de 1% e 3% do genoma de quem tem ascendência asiática, europeia, aborígene ou indígena veio dos neandertais. Parece pouco, mas se juntarmos o que tem de neandertal por aí hoje nos humanos modernos daria para formar 20% do genoma completo deles.

Pääbo ficou chocado ao descobrir isso. Até então, ele era um dos defensores da ideia de que não houve miscigenação entre os dois grupos. “Me recostei na cadeira do escritório e fiquei com o olhar perdido na minha mesa desarrumada onde estudos e anotações dos últimos anos foram se acumulando, camada após camada”, reconta o pesquisador sueco, em seu livro Neanderthal Man. “É fantástico: os neandertais não se extinguiram totalmente. Seu DNA está em pessoas vivas.”


Denisovanos

O estudo de DNA de fósseis foi ainda mais longe e permitiu que a equipe de Pääbo pela primeira vez identificasse um novo grupo de hominídeos somente por seus genes. Eles conseguiram sequenciar trechos do genoma desses caras a partir de um fóssil de dedo de 40 mil anos encontrado na caverna Denisova, localizada no sudoeste da Sibéria, região russa próxima à fronteira com a China e a Mongólia. Sua herança genética indicava que essa pessoa não era nem neandertal, nem sapiens, só teve um ancestral comum com esses dois grupos – ao que tudo indica, o heidelbergensis.

Dados os poucos caquinhos de fósseis encontrados por lá, nada sabemos sobre sua aparência (a imagem acima é uma suposição baseada nos neandertais). Mas podemos dizer que esses “denisovanos” estavam mais próximos, em termos de parentesco, dos neandertais do que de nós e que, claro, eles também se misturaram aos humanos modernos e contribuem hoje com um pequeno percentual genético de populações da Ásia e da Oceania. Ou seja: talvez nunca saibamos qual era a aparência dos denisovanos, mas já descobrimos que parte deles vive em nós hoje.

A essa altura, você pode imaginar que os recursos de biologia molecular e a capacidade de ler genomas poderiam matar completamente a charada da evolução humana, do começo até o fim. Bastaria para isso sequenciar os genomas de todos os fósseis que temos por aí e ordenar por parentesco. Fim da história.
Seria de fato maravilhoso se fosse possível. Infelizmente, a molécula de DNA não se anima muito com a ideia. Ela é extremamente frágil. Degrada-se com rapidez. Para sequenciar genes neandertais e denisovanos, os cientistas contaram com fósseis particularmente bem preservados – às vezes congelados, como o caso do dedinho encontrado na Sibéria – e recentes, remontando a poucas dezenas de milhares de anos atrás. Não há a menor esperança de, por exemplo, obter DNA de Lucy, a australopiteca que remonta à transição dos símios para o gênero Homo, e que viveu há 3,2 milhões de anos. Então, dificilmente poderemos um dia desenhar essa árvore genealógica com perfeição absoluta. Mas já temos um ótimo rascunho. Veja aqui:


“Eu nasci 8 milhões de anos atrás”
Além de frágil, o DNA é mutante: seu código se altera com o passar do tempo. Sempre, ainda que devagar. Para que pouco mais de 1% do DNA de alguma espécie de ser vivo se transforme, é preciso algo entre 6 milhões e 8 milhões de anos. Chimpanzés e humanos compartilham quase 99% do DNA. Isso signica que o animal que deu origem aos humanos e aos chimpanzés viveu entre 6 milhões e 8 milhões de anos atrás.
Nunca encontramos um fóssil desse ancestral comum. Mas já chegamos perto. Mais precisamente, na raiz dos chamados ardipitecos. Há vários membros desse ramo aparentado da família humana, que se estendem no registro fóssil entre 7 milhões e 4,4 milhões de anos atrás. Eles foram os primeiros da família a andar sobre duas patas, por exemplo.
Avançando mais no tempo, encontramos outro parente nosso, o dos australopitecos. Distribuídos na linha do tempo entre 4 milhões e 1,9 milhão de anos atrás (o australopithecus sediba, da imagem abaixo, foi o último a acabar extinto), esses hominídeos esguios que não passavam de 1,40 m foram os primeiros a de fato levar a sério a ideia de andar em dois pés regularmente, embora ainda conservassem a capacidade de subir em árvores – em 2016, um estudo mostrou que Lucy morreu provavelmente por cair de uma árvore, de uma altura de 12 metros.

A evolução transformou alguns australopitecos em animais fortes, os parântropos. Eram hominídeos que, se existissem hoje, seriam vistos como uma espécie de cruzamento de humano com gorila: além de praticar o bipedalismo, tinham mandíbulas e dentes grandes, capazes de deglutir uma grande variedade de alimentos – principalmente vegetais mais duros, coisa na qual humanos jamais se esmeraram.

Apesar de provavelmente serem descendentes dos australopitecos, os parântropos não são nossos antepassados. A linhagem que daria origem a nós veio de outro neto de Lucy: os animais do gênero Homo. O primeiro exemplo incontroverso conhecido desse ramo é o Homo habilis, que surgiu uns 2,4 milhões de anos atrás. Baixinho (entre 1 m e 1,35 m), atarracado e com cérebro só um pouco maior que o dos australopitecos (equivalente a 35% do nosso), ele era já um exímio fabricante de ferramentas de pedra lascada. Mas não muito mais que isso.

A existência do habilis limitou-se à África. Mas ele certamente conviveu com um primo ainda mais sofisticado. Um primo que também descende dos australopitecos, e que provavelmente teve antepassados parecidos com o habilis – o Homo erectus. Os primeiros exemplares conhecidos remontam a 1,9 milhão de anos e denotam um incrível sucesso evolutivo, pois há evidências de que essa espécie tenha subexistido até cerca de 30 mil anos atrás. São quase 2 milhões de anos de existência –  contra meros 300 mil que a nossa espécie soma até agora (já levando em conta os fósseis do Marrocos). Sim, isso coloca o aparente sucesso do sapiens em uma perspectiva bem humilde.
Com porte já similar ao do homem moderno (chegavam a 1,85 m) e cérebro com volume equivalente a 70% do nosso, o erectus nasceu como o grande intelectual e conquistador de seu tempo. Foi o primeiro membro do gênero Homo a deixar a África. Foi o primeiro humano a colocar os pés na Europa e na Ásia. Há um milhão de anos, bem antes de o Homo sapiens sonhar em nascer, portanto, alcançou a China e até as ilhas da Indonésia, pertinho da Austrália. Ilhas que, graças ao erectus, testemunhariam o episódio mais fascinante da evolução humana.
Os hobbits da vida real
Nunca se viu tão claramente a pressão da seleção natural sobre humanos quanto na ilha de Flores, na Indonésia. Uma descoberta feita lá em 2004 foi tão chocante que levou tempo até que fosse de fato aceita pela comunidade científica.
Na caverna Liang Bua, um grupo de cientistas encontrou um esqueleto que parecia pertencer a um erectus adulto – só que em miniatura, com 1,3 metro e crânio diminuto. Logo, só podia ser outra espécie, que foi batizada como Homo floresiensis. Mas o que pegou mesmo foi o apelido dela: hobbit.
Houve quem questionasse a legitimidade da descoberta, alegando que o fóssil podia pertencer a um humano moderno, só que doente, com problemas de desenvolvimento. Mas conforme mais fósseis de humanos em miniatura foram descobertos, e com idades que chegavam a 700 mil anos, não houve mais brecha para dúvidas. O floresiensis era mesmo uma nova espécie.
E hoje é consenso: eles são descendentes do erectus que evoluíram para viver isolados em ilhas. Acontece com outros animais também. A falta de alimento e de território favorece indivíduos mais mirrados –  esses passam a ser os que deixam mais descendentes. Depois de alguma gerações, então, o que temos é uma população exclusivamente formada por miniaturas dos habitante originais. É o que os cientistas chamam de “Regra de Ilha”. E provavelmente foi o que aconteceu com os animais humanos nesse caso.
De fato. Um estudo recém-publicado por José Alexandre Felizola Diniz-Filho, da Universidade Federal de Goiás, sugere que o padrão de encolhimento do corpo do floresiensis, comparado ao erectus, é compatível com a “Regra de Ilha”. Curiosamente, houve pressão evolutiva para a redução não só do corpo, mas especialmente do cérebro – provavelmente porque nossa massa cinzenta é uma consumidora voraz de calorias.
Os hobbits da vida real tinham volume cerebral equivalente ao de um chimpanzé ou de um australopiteco. Mesmo assim ele manteve duas heranças do erectus: ferramentas sofisticadas e o domínio do fogo.

“Tem fogo?”
O erectus, vale lembrar, foi o primeiro hominídeo capaz de responder “sim” à pergunta aqui em cima. O mais provável é que ele só tenha conseguido fazer suas grandes migrações e sobreviver por quase 2 milhões de anos por controlar o fogo. E não só porque o fogo afugenta predadores. Mas por outra característica, até mais importante: porque o fogo cozinha alimentos. A habilidade de fazer churrasco permitiu ao erectus consumir grandes quantidades de calorias em pouco tempo – coisa que seus ancestrais não faziam (eles passavam boa parte do dia mastigando, como os chimpanzés e gorilas ainda passam). Bom, cérebros grandes consomem mais calorias que cérebros pequenos. Com mais calorias agora à mão, os erectus abriram a porteira evolutiva para o surgimento de cérebros gigantes.
E por isso mesmo eles deixaram um ancestral especialmente cabeçudo: ninguém menos que o Homo heidelbergensis, o de 800 mil anos atrás e último estágio antes de nós. O heidelbergensis surgiu a partir de erectus que tinham ficado na África –  os da Eurásia acabam extintos sem deixar descendentes evolutivos. Esperta, essa nova espécie também viajaria bastante. E faria o que seus pais não fizeram. Na Europa, como já vimos aqui, geraram um descendente muito bem-sucedido: o neandertal. Na Ásia, originaram os denisovanos. E os  heidelbergensis que ficaram na África? Exato: deram à luz esta maravilha que você vê no espelho todas as manhãs: o sapiens.
Mas, ei: a história não acaba aqui, não. É que não param de surgir surpresas na saga da humanidade. É o caso do misterioso Homo naledi.
Naledi, o sobrevivente
Em 2013, o antropólogo sul-africano Lee Berger acreditou ter encontrado num sistema de cavernas a 50 km de Joanesburgo fósseis de uma espécie intermediária entre os australopitecos e os primeiros representantes do gênero Homo. O volume cerebral era equivalente ao dos australopitecos, mas a forma do crânio assim como o porte do hominídeo eram mais próximos dos Homo habilis. Mãos, pernas e pés eram surpreendentemente parecidos com homens modernos. O achado foi apresentado em 2015 e claramente parecia importante.
Uma estimativa da época em que ele viveu, baseada somente na morfologia – ou seja, nas formas do fóssil –, sugeria uma idade de pelo menos 2 milhões de anos para o Homo naledi. Mas o fóssil inicialmente não foi datado, o que causou controvérsia entre os paleoantropólogos. Com boas razões: quando a datação foi feita por métodos confiáveis, em 2017, descobriu-se que ele era bem mais recente, tendo vivido entre 236 mil e 335 mil anos atrás. É bem possível, então, que o naledi tenha convivido com o sapiens na África. Seu “encaixe” na árvore genealógica humana, de qualquer forma, ainda não está claro, e talvez ela nem mereça ser chamada de nova espécie. Em um novo estudo, Walter Neves sugere que o naledi deveria ser classificado como uma variedade de Homo habilis que sobreviveu até tempos mais recentes.
O fato de um parente tão primitivo ter sido contemporâneo do sapiens também não surpreende. “Esse negócio de ter só uma espécie de hominídeo no planeta – nós, infelizmente – é de 30 mil anos para cá”, brinca o antropólogo Walter Neves. “É uma exceção absoluta na história evolutiva dos humanos. Há 50 mil anos – só 50 mil, não é nada – nós provavelmente tínhamos no planeta: sapiens, neandertal, denisovano, erectus, floresiensis. E talvez alguns resquícios do heidelbergensis. Então essa coisa de ter só um membro do gênero Homo no planeta é uma exceção.”

O que aconteceu então para que toda essa diversidade humana, cultivada ao longo de milhões de anos, desaparecesse do mapa? Bem, a cultura sapiens aconteceu. Quando o homem moderno saiu da África, ele contava com uma qualidade diferente de todos os outros humanos. Ele era capaz de pensamento abstrato sofisticado – e talvez linguagem idem. Ainda há muita controvérsia sobre quanto pensamento simbólico neandertais, por exemplo, tinham, mas nem eles, nem qualquer outro hominídeo produziram obras-primas da abstração, como pinturas rupestres. Mais: o sapiens bateu com folga o recorde de distâncias percorridas por seus primos erectus, atingindo as Américas 15 mil anos atrás.

Gradualmente, os demais hominídeos foram desaparecendo, substituídos por populações humanas modernas, que desenvolveram capacidades sociais cada vez mais afiadas e acabaram por dominar o planeta com suas pinturas, lendas, mitos, religiões e tecnologias – a mais impactante delas, a agricultura, desenvolvida há 13 mil anos. O resto é história.
De início, fomos levados a pensar que essa era uma saga de conquista sanguinária, com o sapiens exterminando os outros hominídeos. Não que isso não tenha acontecido, mas os genes contam uma história mais complexa. Eles indicam que também houve convívio e miscigenação entre o recém-chegado sapiens e os hominídeos que o precederam. E essa mesma mistura marcou a reta final da nossa linhagem, com neandertais e denisovanos contribuindo para o pool genético da população viva hoje.  

A “escadinha” da evolução, enfim, dá lugar a um cenário mais bagunçado, e mais interessante. “Descobrimos nos últimos dez anos essa coisa de que a evolução humana não é uma árvore, mas uma sucessão de moitas”, diz Neves.

A despeito desses avanços recentes, ainda não temos o quadro completo, e talvez jamais o tenhamos. Mas, pelo que pudemos aprender, já fica claro que a capacidade mais especial do Homo sapiens talvez não seja o lugar que ele ocupa na árvore genealógica humana, e sim sua curiosidade – tão insaciável que permite a esse animal cabeçudo vislumbrar suas próprias origens.

Referência:
NOGUEIRA, Salvador. Sapiens – uma nova história da humanidade. Superinteressante, São Paulo, ed. 378, p. 26-33, jul. 2017. Atualizado em: 15 mar. 2021. Disponível em: https://super.abril.com.br

A convivência do Homo sapiens com outras espécies humanas: o que a ciência já sabe!

A convivência do Homo sapiens com outras espécies humanas: o que a ciência já sabe

Quando pensamos na história da humanidade, muitas vezes imaginamos uma linha evolutiva simples: uma espécie substituindo a outra até chegar em nós, Homo sapiens. Porém, as pesquisas mais recentes mostram que essa visão é incompleta. O passado humano foi muito mais diverso e complexo.

1. A linhagem humana é antiga e teve muitos ramos

Os estudos indicam que a linhagem dos seres humanos se separou da dos chimpanzés há cerca de 6 milhões de anos. A partir daí surgiram diversos grupos de hominídeos, como Ardipitecos e Australopitecos, que eram muito diferentes do ser humano atual.

Com o tempo, outras espécies mais próximas de nós surgiram, como os Neandertais. E as descobertas não pararam: em 2018 foi identificada uma nova espécie, o Homulondi, também chamado de “Homem-Dragão”. Hoje, o Museu Nacional de História Natural dos EUA lista até 21 espécies humanas já identificadas — embora esse número ainda gere debates entre cientistas.

Cada espécie se distingue por características físicas e genéticas. Por exemplo:

  • Os Neandertais tinham adaptações biológicas próprias e talvez até a capacidade de hibernar.

  • O Homo naledi era baixo, de cérebro pequeno, mas culturalmente complexo, talvez até praticando rituais de luto.

Essas descobertas desmontam a ideia de que nossos parentes eram “primitivos” ou “inferiores”.


2. Diferentes espécies de humanos coexistiram ao mesmo tempo

Por décadas, acreditou-se que uma espécie humana evoluía, substituía a anterior e seguia adiante. Mas estudos recentes mostram outra realidade:
O Homo sapiens provavelmente viveu simultaneamente com até oito outras espécies humanas.

Um exemplo marcante são os Denisovanos, descobertos apenas 15 anos atrás. Eles habitaram regiões da Sibéria e da Ásia, tinham mandíbulas fortes e talvez uma caixa craniana larga e achatada.

E mais: um fóssil encontrado na Rússia revelou algo surpreendente — o osso pertencia a um indivíduo que era filho de uma mãe Neandertal e um pai Denisovano.


3. Houve cruzamento entre espécies humanas

A convivência não foi apenas geográfica. Houve procriação entre espécies diferentes.

A evidência aparece no nosso próprio corpo:

  • Pessoas nascidas fora da África têm, em média, 2% do DNA vindo de Neandertais.

  • Pessoas de origem africana têm essa porcentagem próxima de zero, porque os cruzamentos ocorreram principalmente na Eurásia.

Sobre como ocorriam esses cruzamentos, os cientistas afirmam que:

  • A comunicação entre espécies diferentes era difícil, devido às diferenças biológicas.

  • Nem todos os encontros foram consensuais.

  • Mas há evidências de que algumas famílias mistas existiram.


4. Por que outras espécies humanas desapareceram?

Os Neandertais, por exemplo, desapareceram há cerca de 40 mil anos, provavelmente por uma combinação de fatores:

  • mudanças climáticas severas;

  • competição com o Homo sapiens;

  • populações pequenas, facilmente assimiladas ou extintas.

Outras espécies também desapareceram principalmente por mudanças climáticas.
Um evento chamado L’Aschamp, ocorrido 42 mil anos atrás, alterou o campo magnético da Terra e coincidiu com o declínio dos Neandertais.


5. A evolução humana é mais acidental do que imaginamos

A professora Penny Spikens destaca que muitas características humanas surgiram não por adaptação perfeita, mas por acaso.

Populações isoladas podem desenvolver traços que se espalham simplesmente porque não prejudicam a sobrevivência. Isso explica, por exemplo:

  • as sobrancelhas grandes dos Neandertais;

  • caixas torácicas maiores;

  • diferenças de aparência que não tinham função específica.

A epigenética — ativação de genes por fatores ambientais — também ajuda a entender como características como depressão ou esquizofrenia podem “aparecer” apenas em ambientes específicos.


6. As emoções e a cooperação foram fundamentais para o sucesso humano

Durante muito tempo, acreditou-se que a violência foi o que permitiu que o ser humano prosperasse. Mas novas pesquisas mostram o contrário:
A cooperação, o cuidado e o altruísmo foram essenciais.

Já há evidências de:

  • práticas médicas entre Neandertais;

  • cuidado com idosos, que preservavam o conhecimento do grupo;

  • comportamentos sociais que permitiram a formação de grandes comunidades conectadas.

Nossas emoções — sensibilidade, empatia, vulnerabilidade — são parte do que nos permitiu sobreviver e prosperar.


7. As mudanças climáticas continuam moldando a humanidade

Hoje, vivemos a sexta extinção em massa — mas desta vez, causada pelos próprios seres humanos.
O aquecimento global e as mudanças ecológicas lembram que não somos “senhores” da natureza: somos moldados por ela.

Ainda assim, segundo Spikens, há motivos para esperança. As evidências mostram que a cooperação e a solidariedade sempre estiveram presentes na história humana — e podem ser a chave para o nosso futuro.


Conclusão

O estudo sobre outras espécies humanas e sua convivência com o Homo sapiens nos ajuda a compreender algo essencial:
nunca estivemos sozinhos na Terra — e a nossa sobrevivência dependeu mais da colaboração do que da competição.

A História da humanidade é feita de diversidade, mistura, encontros e aprendizagens.
E conhecer esse passado é também iluminar o caminho para o futuro.

Educação, natureza e futuro: alunos de Carlos Chagas vivem a experiência da “Era das Inteligências”!

Os alunos presenciaram este simulacro de Dinossauro bem de pertinho
Vejam algumas imagens da excursão: https://photos.app.goo.gl/Fb1qGpzwRjqtfLAh7

Educação, natureza e futuro: alunos de Carlos Chagas vivem a experiência da “Era das Inteligências”

A educação pública de Carlos Chagas segue ampliando horizontes e abrindo janelas para o mundo. Nos últimos dias, estudantes de diferentes escolas da Rede Municipal têm viajado até Ipatinga para participar do Projeto Xerimbabo Usiminas 2025, uma das maiores iniciativas de educação ambiental do país. Este ano, o tema provocador — “A Era das Inteligências” — convida crianças e jovens a explorarem, de forma sensível e científica, a força conjunta da natureza, da criatividade humana e da inteligência artificial.

No dia 16 de novembro, foi a vez dos estudantes da Escola Municipal Oscar João Kretli embarcarem nessa jornada. Já no dia 19, quem fez as malas da curiosidade foram os alunos da Escola Aymar Westin Nobre. E a expectativa cresce para 29 de novembro, quando será a vez da Escola Maria Ribeiro Tavares viver a experiência.

A cada quiosque visitado, uma descoberta — e uma expansão de repertório ambiental e cultural que dificilmente será esquecida.


1º Quiosque — O começo da jornada: “Bem-vindos à Era das Inteligências!”

Aqui, os estudantes são recebidos com uma provocação essencial: como unir a inteligência da natureza, a inteligência humana e a inteligência artificial para criar um futuro sustentável? O convite é claro: “O poder de reconectar e inovar está em suas mãos.”


2º Quiosque — A inteligência da água: a vida em movimento

Personificada como voz da floresta, a água dialoga com os alunos:
“Eu sou a inteligência da vida. Eu sou a água.”
O espaço explica a importância das matas ciliares, das nascentes e dos topos de morro, reforçando o cuidado diário e o uso responsável como atitudes que salvam ecossistemas inteiros.


3º Quiosque — Tecnologia e inteligência a serviço do planeta

Os alunos conhecem sistemas avançados usados pela Usiminas:

  • câmeras inteligentes que detectam riscos e presença humana em áreas industriais;

  • sensores que identificam emissões atmosféricas automaticamente.

CIência, segurança e sustentabilidade se encontram em tempo real.


4º Quiosque — A inteligência secreta da natureza

Um dos espaços mais poéticos da visita.
As crianças descobrem que árvores “conversam” e trocam nutrientes por meio de fungos subterrâneos — a chamada “internet da floresta”.
Pássaros em migração e abelhas dançando no ar revelam a colaboração silenciosa que mantém a vida no planeta.


5º Quiosque — Reabilitação da fauna: dar asas ao que a natureza acolheu

Os estudantes conhecem o trabalho do Projeto de Reabilitação da Fauna Silvestre Sem Lar, parceria entre Usiminas, Cenib, IEF, SEMMA, Polícia Ambiental e Corpo de Bombeiros.
A mensagem é forte: todo animal tem direito à liberdade e, quando isso não é possível, ao cuidado humano.


6º Quiosque — A saúde nasce da biodiversidade

Os alunos aprendem que a natureza é a maior farmácia do mundo.
Remédios, alimentos e equilíbrio ambiental estão interligados.
Ao cuidar da natureza, cuidamos de nós mesmos.


7º Quiosque — Inteligência para um planeta mais limpo

Um chamado à ação: reciclar, separar resíduos e usar a tecnologia para melhorar o mundo.
“A separação do lixo é um superpoder” — frase que marcou muitos estudantes.


9º Quiosque — Interatividade: aprender fazendo

Nada de observador passivo: os alunos entram no jogo, experimentam, manipulam e descobrem.
Aprender se torna experiência e movimento.


10º Quiosque — A inteligência dos livros

O último espaço faz uma ponte perfeita: natureza e leitura.
Os livros, impressos em papel de florestas plantadas, guardam histórias, saberes e jornadas humanas.
O convite final é simples e profundo: “Leia, aprenda e cuide do planeta.”


Uma experiência que amplia o mundo

O Projeto Xerimbabo não é apenas uma excursão: é uma aula viva.
Cada quiosque é uma janela aberta para o futuro, e cada aluno retorna para casa carregando não apenas conhecimento, mas sensibilidade ambiental, curiosidade científica e a certeza de que a inteligência — seja ela natural, humana ou tecnológica — pode transformar o mundo.

Para Carlos Chagas, essa viagem representa exatamente aquilo que defendemos na educação pública: formação integral, repertório cultural e consciência ambiental para uma nova geração que pensa, sente e cuida.

Dia da Consciência Negra: uma reflexão necessária!

Dia da Consciência Negra: uma reflexão necessária

Por Deodato Gomes Costa

Não poderia — e não deveria — deixar passar em branco uma data tão essencial para a sociedade brasileira. Hoje, 20 de novembro de 2025, celebramos o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, agora oficialmente feriado no país. É um marco que não evoca apenas memória; convoca responsabilidade, lucidez histórica e compromisso ético com a justiça social.

Ao longo dos séculos, a cor da pele definiu quem seria tratado como gente ou como mercadoria. Durante quase quatrocentos anos, milhares de homens, mulheres e crianças foram comprados, vendidos, violentados, arrancados de suas histórias e de sua própria humanidade. O fim legal da escravização, contudo, não significou o início real da igualdade. Houve abolição, mas não houve reparação; houve libertação jurídica, mas não libertação social.

É por isso que o debate sobre racismo não se resolve com frases soltas ou interpretações simplistas. Racismo não é apenas a atitude isolada de um indivíduo — é uma estrutura, uma herança que molda estatísticas, oportunidades, territórios, corpos e destinos. Basta olhar para os indicadores: quem morre mais cedo? Quem é mais encarcerado? Quem chega menos à universidade? Quem ocupa menos espaços de poder? Quem mais sofre intolerância religiosa? As respostas, infelizmente, permanecem previsíveis.

O diálogo ainda pode abrir frestas num país que, tantas vezes, prefere fechar os olhos para as próprias feridas.

Precisamos entender que o Brasil tem mais tempo de escravização do que de liberdade; que as desigualdades raciais não são invenção, mas evidência; que não há “indústria do racismo”, mas sim uma engrenagem histórica que produz morte, dor e exclusão — todos os dias.

Como educador e gestor público, reafirmo: não é um tema de esquerda ou de direita. É um tema de humanidade. Não é sobre culpa, mas sobre consciência. Não é sobre dividir o Brasil, mas sobre reconstruí-lo de modo que todos caibam, com dignidade, segurança e oportunidade real.

Zumbi simboliza resistência. A Consciência Negra exige responsabilidade.
E nós, educadores, estamos entre aqueles que podem — e devem — transformar essa consciência em prática, currículo, presença, escuta, políticas e ações.

Que este 20 de novembro nos encontre com coragem humanista, sensibilidade ética e disposição para aprender e transformar.
Não há caminho para um Brasil mais justo que não passe pela coragem de olhar sua própria história — e de escrever, juntos, uma história diferente.

quarta-feira, 19 de novembro de 2025

Um recado para uma menina que se forma em Medicina!

Um recado para uma menina que se forma em Medicina

Por Deodato Gomes Costa

Mêzinha, hoje escrevo não como professor de história, nem como pedagogo, mas como seu tio — aquele que acompanhou, de camarote e com o coração apertado, cada capítulo da sua caminhada. Quando recebi o seu cartão de formatura, com você vestida de jaleco e esperança, senti uma alegria tão grande que me faltaram palavras. E isso, para alguém que se arrisca em escrever, significa muito.

A Bíblia diz e está no seu cartão: “Pois o Senhor está contente com o seu povo; ele dá aos humildes a honra da vitória.” (Sl 149,4). E eu olhei para sua foto pensando exatamente nisso: Deus se alegra com você, Aimê. Porque Ele viu cada madrugada de estudo, cada renúncia, cada lágrima escondida, cada dúvida que você transformou em coragem. Essa vitória tem o sabor das conquistas que nascem da luta — lutas reais, de gente simples, de gente que enfrenta o mundo com fé, teimosia e dignidade.

Lembro-me como se fosse hoje: 05 de setembro de 2019. Eu escrevi no blog, com o peito cheio de orgulho, que mais uma estudante da nossa querida Escola João Beraldo havia conseguido vaga em Medicina. Contei da sua persistência quando muitos diziam que “era difícil demais para quem vem de onde nós viemos”. Contei do peso das desigualdades sociais que te empurravam para trás — mas que você, pequena e firme como sempre, decidiu empurrar de volta. E venceu.

Menina Aimê, você foi para Manaus apoiada por programas tão criticados, que apoia jovens pobres — e foi graças a eles que um sonho de R$ 6.700,00(na época) por mês coube dentro da sua realidade. Era impossível para a maioria; para você, virou destino. Porque quem tem coragem de nascer para servir não encontra portas fechadas para sempre. Deus abre. A vida abre. E você abriu junto.

Mas também me veio outra memória — dura, dolorosa, indissociável da sua história. O dia em que perdemos seu pai, o Professor Wilton, naquele setembro em que tudo parecia ruir e renascer ao mesmo tempo. Escrevi no blog a comoção de toda a cidade, o silêncio pesado que tomou conta das escolas, o lamento dos estudantes que o amavam. E lembro de ter dito algo que hoje repito com os olhos marejados: Ele se foi carregando a alegria de saber que você tinha conquistado a vaga no curso de Medicina.

Hoje, Aimê, é impossível não imaginar a emoção dele vendo sua formatura. Ele, que fez da música um modo de educar, agora te veria fazer da Medicina um modo de amar. Tenho certeza: seu pai está orgulhoso. E sorri.

E agora você chega aqui, prestes a viver sua Missa (08/12/2025), sua Colação de Grau (09/12/2025), prestes a carregar o nome “Dra. Aimê Costa” no peito. E eu me pergunto: como tanta força coube dentro de uma menina tão doce?

A vida, dizia Schopenhauer, é um pêndulo entre a dor e o tédio. Mas você, Aimê, prova que ela pode balançar entre a alegria e o servir. Porque alguém que escolhe Medicina não escolhe apenas um trabalho — escolhe uma missão. E que missão bonita você escolheu.

Eu não tenho mais palavras, minha sobrinha. Só emoção. Emoção de ver um sonho virar força, de ver uma menina virar médica, de ver a superação virar caminho.

Obrigado por nos dar essa alegria tão grande. Obrigado por mostrar a todos nós, da classe popular, que a vitória também mora onde muitos não acreditam.

Mêzinha, parabéns.
E que Deus — aquele que honra os humildes — continue honrando você. Sempre.

Gestores da Rede Municipal participam de reunião para alinhamento das ações educacionais de 2025/2026.

Gestores da Rede Municipal participam de reunião para alinhamento das ações educacionais de 2025/2026

A Secretaria Municipal de Educação de Carlos Chagas reuniu, na tarde desta quinta-feira, 13 de novembro de 2025, todos os gestores das escolas da Rede Municipal para tratar de assuntos estratégicos para o encerramento do ano letivo e planejamento de 2026. O encontro, realizado na Sala de Reuniões da SME, contou com a presença dos diretores das 11 unidades escolares.

Durante a reunião, o Secretário Municipal de Educação, Deodato Gomes Costa, apresentou a Nota Técnica nº 01/2025, que orienta sobre a implementação da progressão continuada e progressão parcial. Foi reforçada a importância do registro pedagógico adequado, da recuperação paralela e da atenção aos impactos que qualquer reprovação pode gerar no IDEB da escola e do município.

Outro ponto de destaque foi a apresentação realizada pela servidora Raiane sobre a instalação do Medidor da Educação Conectada, parte das ações obrigatórias do Selo UNICEF 2025–2028. O software, disponibilizado gratuitamente pelo MEC e NIC.br, deverá ser instalado em um computador de cada escola para realizar medições oficiais da qualidade da internet educacional nos dias 28 de novembro de 2025 e 15 de dezembro de 2027.

O Secretário também atualizou os gestores sobre o processo de autorização da Educação Infantil, que visa regularizar toda a oferta de creche e pré-escola no município. Todas as escolas já encaminharam parte da documentação, restando ainda a entrega de alguns itens, especialmente a justificativa de denominação das unidades.

As datas de matrículas e rematrículas também foram reforçadas: de 17/11 a 12/12 para rematrículas; de 15/12 a 31/12 para novas matrículas; e de 12/12 a 31/12 especificamente para a Creche-Escola.

A reunião abordou ainda a reorganização dos quadros escolares diante da posse de novos professores, a baixa adesão ao Curso de Segurança na Internet — que recebeu apenas 77 inscrições —, além da necessidade de divulgação do formulário de cadastro da Creche-Escola, disponível no site da Prefeitura.

Outro tema debatido foi o levantamento patrimonial, cujo prazo já se encontra vencido para algumas escolas. Os gestores foram orientados a encaminhar os dados pendentes ao almoxarifado com urgência.

Participaram da reunião o Secretário de Administração, William Victor, e a servidora Sirlene, da Divisão de Recursos Humanos, que discutiram as dificuldades no agendamento da abertura de contas bancárias para novos servidores. O município buscará junto à Caixa Econômica Federal um modelo de atendimento mais eficiente para evitar conflitos de horário entre escolas.

Por fim, os gestores foram lembrados da obrigatoriedade de entrega dos processos de avaliação de servidores, documentos essenciais para direitos funcionais e progressões.

A Secretaria Municipal de Educação destacou que todas as informações serão formalizadas e reforçadas junto às unidades escolares, mantendo o compromisso com a organização, a transparência e o fortalecimento da educação pública no município.

sábado, 15 de novembro de 2025

Proclamaram a República, falta proclamar a Educação!

Proclamaram a República, falta proclamar a Educação!

Por Deodato Gomes Costa

Liberdade, liberdade, abre as asas sobre nós!” — difícil iniciar uma reflexão sobre a Proclamação da República sem recordar essa força poética que ecoa tanto no hino quanto no inesquecível samba-enredo da Imperatriz Leopoldinense, que embalou o centenário da República em 1989. Cada vez que leio ou escuto essas palavras, sinto que elas não pertencem apenas ao passado; elas conversam conosco, educadores, no presente, e apontam caminhos para o futuro.

A Proclamação da República, ocorrida em 15 de novembro de 1889, foi resultado de um acúmulo de tensões que marcaram profundamente o Brasil do final do século XIX: o desgaste político da monarquia, a crise com a Igreja, a ruptura com os militares e o impacto da abolição da escravidão sobre as elites agrárias. Tudo isso compôs o cenário de uma sociedade que já não cabia mais dentro do modelo imperial. Era necessária uma mudança — ainda que, paradoxalmente, essa mudança tenha ocorrido sem participação popular direta, como lembrou Aristides Lobo ao dizer que “o povo assistiu bestializado”.

Mesmo assim, a data marca simbolicamente o desejo de construir uma nação mais livre, racional, moderna e democrática. O hino da Proclamação revela esse anseio coletivo quando afirma:

“Seja um hino de glória que fale
De esperança de um novo porvir.”

O Brasil proclamava não apenas um novo sistema político, mas a esperança de uma vida social renovada. O país buscava romper com amarras — escravidão, autoritarismo, desigualdade de direitos — e apontar para um horizonte de liberdade.

E aqui faço a pergunta que me acompanha há anos — como educador, como gestor público, como cidadão:

Quando é que vamos proclamar a Educação no Brasil?

Proclamar a Educação é muito mais do que garantir vagas, prédios e calendários. É um ato político, ético e civilizatório.
Proclamar a Educação é:

  • garantir aprendizagem de qualidade para todos, e não para alguns;

  • formar o pensamento crítico, para que o aluno não seja espectador “bestializado” da própria história, mas autor dela;

  • oferecer condições reais de ascensão profissional, combatendo a desigualdade pela raiz;

  • romper com modelos ultrapassados, assim como a República rompeu com a monarquia;

  • libertar pela consciência, como Tiradentes, cujo “sangue vivo batizou o pavilhão”.

A República nasceu porque brasileiros de diferentes grupos — ainda que movidos por interesses variados — já não aceitavam um governo que não dialogava com a sociedade. E eu arrisco dizer: a Educação brasileira precisa do mesmo movimento de ruptura simbólica.

Precisamos proclamar:

  • uma escola que acolha;

  • uma gestão que escute;

  • um currículo que emancipe;

  • uma política pública que não abandone nenhuma criança no caminho;

  • uma prática pedagógica que faça da liberdade um verbo cotidiano.

O hino nos lembra:
“Somos todos iguais, ao futuro saberemos, unidos, levar.”

Mas só saberemos levar esse futuro se garantirmos às nossas crianças — todas elas — as asas da liberdade intelectual.

E o samba da Imperatriz completa, com a sabedoria do povo que canta para não deixar a história morrer:

“E que a voz da igualdade
Seja sempre a nossa voz.”

Que a República que celebramos hoje inspire, finalmente, a Proclamação da Educação que tanto esperamos.
Uma educação que não seja privilégio, mas direito.
Que não seja promessa, mas prática.
Que não seja retórica, mas transformação concreta.

Porque, se a República foi proclamada de cima para baixo,
a Educação só será proclamada de verdade de dentro para fora,
quando cada escola, cada professor, cada gestor, cada família e cada estudante compreenderem que a liberdade começa pela aprendizagem.

Viva a República, viva a educação pública e viva o Brasil que estamos construindo — com consciência, coragem e esperança.