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quarta-feira, 6 de maio de 2020

A esperança está no próximo - O Globo - 6 de Maio de 2020 - Amilcar Tanuri - Virologista chefe do Laboratório de Virologia Molecular do Departamento de Genética da UFRJ


Nunca estas palavras foram tão importantes para a humanidade quanto nesta pandemia do novo coronavírus. A esperança de que tenhamos empatia para com as populações mais vulneráveis de nosso Brasil.

Este mês de maio vai ser muito duro para o Brasil, e temos problemas espetaculares para encarar. São milhões de irmãos brasileiros que vivem em moradias precárias, sem saneamento e água potável. São milhões de nossos irmãos precisando de alimento porque perderam a capacidade de gerar renda, e uma grande maioria que depende do SUS como a única chance de tratamento para essa terrível doença.

Assim, vamos ter responsabilidade civil e não sair às ruas para aglomerações desnecessárias. Que os governos federal, estaduais e municipais deem condições para o isolamento social provendo renda, alimentos e tratamentos de saúde dignos e suficientes para população. Às vezes, atitudes simples fazem a maior diferença, como dar o auxílio de R$ 600, em vez de três parcelas, em uma única vez, evitando as aglomerações tão perigosas justamente na fase mais ativa da transmissão do coronavírus.

Temos uma nova esperança de tratamento, conhecido desde 1918 para viroses respiratórias, que é a transfusão de plasma de pessoas que já tiveram a doença e estão com quantidades de anticorpos na corrente sanguínea suficientes para inativar, “matar” os vírus. Essa terapia de plasma imune já foi utilizada na gripe espanhola com sucesso, na epidemia de H1N1 de 2009 e também em outras viroses hemorrágicas, como o Junin, na Argentina.

A China, os Estados Unidos e a Europa estão utilizando essa terapia intensamente nesta pandemia, e os dados preliminares vindos da China indicam que o tratamento com plasma imune pode dar certo em pessoas com falta de ar antes de serem entubadas.

Para aplicarmos esse tipo de terapia, teremos que localizar os indivíduos que tiveram Covid-19 e já se encontram bem, com mais de 15 dias desde o início da doença. Teremos que ter a solidariedade dessas pessoas nessa situação para que se apresentem aos bancos de sangue para avaliação de sua produção de anticorpos e doação de seu plasma. Esse procedimento de doação é seguro, e o volume tirado de plasma não causa mal algum ao doador.

Enfim, como dito no anúncio dos Médicos Sem Fronteiras, “podemos ser violentos, insensíveis, cruéis, egoístas e indiferentes, mas só quem pode salvar a vida de um ser humano é outro ser humano”. Então, vamos nos colocar no lugar dos outros e cooperar.

Podemos ser insensíveis, cruéis, egoístas e indiferentes, mas só quem pode salvar a vida de um ser humano é outro ser humano.

A esperança está no próximo


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